NA LINHA DE FRENTE DA EDUCA巴O:
CONVERSA COM O DR. ROY SETTLES

Michael J. Bandler

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Entre na Escola Elementar Judith A. Resnik, um extenso centro de um andar em um lote plano em Gaithersburg, Maryland, no Condado de Montgomery, a cerca de 32 km ao norte de Washington, D. C., e voc?ser?imediatamente atingido por palavras (palavras significativas) sobre um tapete que ostenta o emblema da escola constru・a h?nove anos. Confiabilidade. Respeito. Responsabilidade. Integridade. Prote艫o. Cidadania. Quase imediatamente, o visitante chega a um cruzamento de dois corredores, um denominado Avenida da Ajuda aos Demais e o outro, Rua do Direito. No alto, l?se em um poster "O Car・er Conta". Englobando 700 jovens do pr?escolar at?a quinta s・ie, pareceria ser uma institui艫o t・ica, exceto pelo fato de cerca de um quarto da sua popula艫o estudantil exigir servi・s especiais de alguma esp・ie, ou seja, que eles possuem necessidades de aprendizado especial ou defici・cias ortop・icas ou neurol・icas. Na entrevista a seguir, o seu diretor, Dr. Roy Settles, cuja perspectiva e filosofia foram moldadas pela sua hist・ia pessoal, explica por qu?a escola ?・ica, de um lado, e, de outro lado, espelha as tend・cias e quest・s atuais das escolas prim・ias e secund・ias em todo o territ・io norte-americano.


Pergunta: Qual ?o seu sentimento da diferen・ na educa艫o atual dos Estados Unidos, em oposi艫o a uma d・ada atr・ ou mais?

Settles: Primeiramente, a sociedade atual ?diferente. A din・ica ?diferente. Estamos buscando a urbaniza艫o de uma escola suburbana. Temos muitas caracter・ticas das escolas urbanas. Nossos filhos s・ expostos a muito mais hoje em dia. Os incentivos das comunica苺es bombardeiam nossos estudantes; eles nascem para comunicar-se rapidamente, obtendo as informa苺es que rapidamente v・ em sua dire艫o. Por isso, est・ crescendo muito mais conscientes. Muito tempo atr・, voc?era muito mais confiante com respeito ao que obtinha em casa, o que o professor informava, o que voc?pode haver conseguido da televis・. Atualmente, as crian・s podem conseguir informa苺es de qualquer lugar muito rapidamente. Isso ?uma contribui艫o. O transporte ?tal que o povo pode sair rapidamente de um extremo da cidade para outro. Estamos vivendo em uma cultura diferente. As comunica苺es s・ fortalecidas. As pessoas s・ mais m・eis. O desenvolvimento est?ocorrendo. Portanto, as escolas est・ refletindo agora diretamente esta din・ica colaboradora. Quando cheguei ao Condado de Montgomery em 1979, havia predominantemente estudantes caucasianos, estudantes negros e uma pequena quantidade de hisp・icos e asi・icos. Agora, olhando para esta escola com as casas constru・as em volta dela, vemos diversidade de v・ias formas.

P: Conte sobre a composi艫o ・nico/racial.

A: Quarenta e dois por cento s・ caucasianos, 22% s・ afro-americanos, quase o mesmo percentual ?de hisp・icos e os restantes, cerca de 15%, s・ asi・icos. Mas vamos analisar a diversidade de outra forma, sobre como o programa institucional destina-se a atender ・ necessidades das crian・s de diversas experi・cias e antecedentes. Estamos falando sobre poder ensinar todas as crian・s, considerando suas formas de aprendizado, seus diferentes n・eis de intelig・cia, seus antecedentes e experi・cias. Tudo isso vem primeiro. Temos que nos equipar, na cultura de hoje, para ter nosso programa instrutivo encorajador, motivador e apropriado, com clareza e atualidade. Em seguida, agregamos a ele pontos culturais, para que as crian・s se reconhe・m no curr・ulo escolar. O que eu chamo de "culturalizar o curr・ulo escolar" necessita ocorrer de forma real e natural.

P: Seu interesse com rela艫o ?diversidade estende-se tamb・ aos funcion・ios, eu imagino.

A: Bem, n・ diretamente proporcional ao corpo estudantil. Mas tenha em mente que esta escola foi filos・ica e estruturalmente projetada para ter um programa de educa艫o regular e tamb・ para estudantes com preocupa苺es neurol・icas e/ou ortop・icas. Por isso, isto ?uma parte de como ela surgiu. ?por este motivo que nossos corredores s・ amplos, nosso espa・ de escrit・ios ?amplo, os banheiros possuem espa・ para acomoda艫o, as portas abrem-se automaticamente. Temos um andar. Nesta escola, temos estudantes que s・ capazes de andar, outros que usam andadores, outros que se movimentam em cadeiras de rodas, outros que podem necessitar de certos tipos de acomoda苺es ou adapta苺es com rela艫o aos programas educacionais: carteiras ou equipamento especial de processamento de texto, ajuda de funcion・ios para a escrita. Recebemos os funcion・ios e recursos financeiros para lidar com tudo isso. No programa neurol・ico/ortop・ico, estamos falando de cerca de trinta crian・s. Mas existe grande n・ero de "crian・s de recursos" com defici・cias de aprendizado ou preocupa苺es emocionais, que formam um aspecto adicional da nossa programa艫o. Temos uma profissional que usa cadeira de rodas e, para permitir que ela desempenhe sua fun艫o profissional da forma como que gostaria, o sistema fornece a ela um assistente de ensino que ajuda em algumas de suas necessidades f・icas.

P: Parece que sa・os da corrente geral (de trazer as crian・s para as escolas regulares mas coloc?las em classes especiais) para a inclus・ (torn?las parte integrante da sala de aula regular) como filosofia para necessidades especiais. ?este o caso t・ico?

A: Bem, estamos realmente examinando o que chamamos o "ambiente menos restritivo", ou LRE, como o denominamos neste pa・. Isto significa que desejamos dar aos estudantes os tipos de apoio de que eles necessitam para serem bem sucedidos. Isso poderia significar, por exemplo, que uma crian・ em cadeira de rodas pode estar na sala de aula regular por todo o dia, com algu・ vindo como consultor para colaborar com o professor regular. Nesta escola, como em outras, ?comum que as crian・s com diversas capacidades sejam inclu・as no formato da educa艫o regular. Isto representa uma ampla mudan・ da educa艫o ao longo das ・timas duas d・adas.

P: Vamos falar um pouco sobre a educa艫o bil・g・. Antigamente, um s・ulo atr・, durante as primeiras ondas de imigra艫o, era "matar ou morrer" para os rec・-chegados. O que est?acontecendo hoje, em termos de alcan・r esta gera艫o de imigrantes?

A: Temos um maior fluxo de entrada de estudantes hisp・icos e asi・icos chegando com diversos n・eis de conhecimento de ingl・. Na semana passada, aceitamos uma crian・ asi・ico-americana que n・ sabia ingl・. Com mais desses acontecimentos, as escolas necessitam fazer diversas coisas ao mesmo tempo. Primeiramente, elas devem treinar os pais. Este n・ era o caso anos atr・. Temos que reunir os pais, ensin?los o que fazer em casa, como cuidar da li艫o de casa, quais tipos de quest・s devem perguntar. Explicamos a eles o b・ico, como o que ?uma ficha de relat・io, como ?composto; coisas que tomar・mos por certas no passado. Tamb・ temos que obter agora o m・imo de recursos poss・el de diversos aspectos das nossas comunidades. Temos que incluir os pais, o mundo empresarial e as ag・cias sociais para ajudar-nos; ensinar as crian・s ap・ a escola e durante o ver・ para proporcionar-lhes tipos experimentais de atividades de aprendizado.

P: Existem muitas evid・cias de que, apesar do crescimento dos lares em que ambos os pais possuem suas pr・rias carreiras profissionais, o envolvimento deles nas escolas e na educa艫o dos seus filhos est?se expandindo. Qual ?o grau desse envolvimento na sua escola e como foment?lo?

A: A din・ica da sociedade atual ?tal que os pais necessitam ser inclu・os em algumas das atividades de administra艫o sediadas nas escolas em que n・ eram inclu・os anteriormente. Minha antiga escola, por exemplo, era administrada no local, com os pais, profissionais e administradores sentando-se realmente juntos para a tomada de decis・s sobre o curr・ulo escolar, funcion・ios, como o dinheiro estava sendo gasto. Este ?um exemplo. Os conselhos de administra艫o de qualidade foram introduzidos nas escolas dos condados, em que os pais, profissionais e administradores colaboram formalmente na administra艫o das escolas.

P: Agindo como advogado do diabo, a educa艫o norte-americana floresceu por cerca de dois s・ulos sem que os pais se envolvessem intimamente na tomada de decis・s significativas nas escolas dos seus filhos. Por que isso agora ?necess・io?

A: Atualmente, os pais s・ muito mais instru・os e conscientes de muitos aspectos do processo educacional que anos atr・. Quanto a educar os pais, fazemos um esfor・ extra para proporcionar informa苺es para eles: apostilas, fitas de v・eo. ?comum que os sistemas escolares estejam fazendo um trabalho muito melhor de informar e educar os pais. Este ?um grupo que compreende quais s・ as necessidades e exig・cias, qual ?a filosofia. Eles v・ ・ reuni・s cientes de coisas que n・ conheciam anteriormente. Necessitamos, portanto, que eles se envolvam mais. Devido ?din・ica da nossa sociedade, n・ podemos mais faz?lo sozinhos. Existem exig・cias demais. Temos que educar formalmente. Temos que ser conselheiros, que lidar com crian・s que est・ tendo problemas em casa ou preocupa苺es com a sa・e. Temos que dar nossas m・s aos pais e com as organiza苺es comunit・ias, para colaborar para o bem estar das crian・s.

P: D?me um exemplo dessa colabora艫o.

A: Estabeleci "lanches com o diretor". Em meu boletim bimestral para os pais, solicito ser convidado para a casa de algum deles ?noite. Uma vez por m・, um pai apresenta-se como volunt・io para ser o anfitri・ e divulgamos o evento. Os pais comparecem ・uela casa. Dou in・io ?noite dizendo que estou dispon・el para uma discuss・ aberta e honesta das preocupa苺es que eles t・ sobre aspectos da vida escolar. Os pais, de maneira acess・el e francamente honesta, comunicam o que t・ em mente. Tomo notas e as trago para as reuni・s mensais do nosso conselho consultor (que inclui pais) e discutimos essas preocupa苺es. Portanto, temos essa conex・. Acho que visitar as casas simboliza o esfor・ de alcance externo. Voc?precisa inclu?los no processo de tomada de decis・s, mas tamb・ sair em busca deles.

P: Seus funcion・ios tamb・ podem ser descritos como diferentes entre si.

A: Sim, temos funcion・ios hisp・icos e asi・icos e uma indiana. ?fundamental para a auto-estima dos estudantes observar funcion・ios, em fun苺es de lideran・, que sejam como eles. Tamb・ acho que ?importante que os estudantes em nossas escolas mais homog・eas encontrem funcion・ios de etnias variadas, da mesma forma que ?importante que eles incluam no curr・ulo escolar aspectos que abordem as diversas culturas. ?imperativo possuir funcion・ios que reflitam a popula艫o estudantil, ainda que um bom professor deva relacionar-se com qualquer aluno.

P: Entendo que voc?lidou com a etnia entre os pr・rios profissionais.

A: H?v・ios anos, venho ministrando um curso sobre ra・es ・nicas na sociedade norte-americana, um curso de servi・ necess・io para todos os profissionais novos nas escolas do Condado de Montgomery. Explico como ensinar a crian・s em um ambiente multicultural e como conviver com companheiros de trabalho de diferentes origens. ?imperativo que os funcion・ios conhe・m diversos feriados e celebra苺es e como conduzir-se em outras ocasi・s. Por exemplo, o que se deve trazer a uma casa no "shiva" (o luto judeu)? Temos o orgulho de sermos sens・eis a algumas das idiossincrasias de diversas culturas deste condado.

P: ?・vio, a partir de tantos indicadores vis・eis para todos os que entram no pr・io, que o sr. acredita no estabelecimento de tra・s de car・er nas pessoas ao come・r na idade mais precoce poss・el.

A: Sim, ?claro. Todos n・ contribu・os para a constru艫o do car・er das nossas crian・s e a escola tem que fazer a sua parte. E os pais concordam com isso (quando no passado acreditavam que este era unicamente seu papel). Nosso conselho consultor (que tamb・ inclui pais) examina como e o que damos ・ nossas crian・s. Isso evita os conflitos de pap・s. ?um ・imo exemplo de como ?fundamental a tomada de decis・s colaborativa ou participativa. Inclu・os o car・er no curr・ulo escolar. As crian・s l・m sobre isso, escrevem e falam sobre isso. O teste ?como elas se saem quando n・ est・ perto de voc? quando elas est・ no parque de divers・s e h?um conflito. Far・ elas uso do que ensinamos?

P: Em abril de 2000, uma pesquisa do USA Today/CNN concluiu que, apesar de alguns incidentes de viol・cia que ocorreram nas escolas de diferentes partes dos Estados Unidos nos ・timos anos, 68% dos pesquisados acreditavam que as escolas dos seus filhos haviam agido corretamente para manter a seguran・ dos seus estudantes. Considerando a sua escola em debate, explique o que ?feito para manter o ambiente mais seguro poss・el.

A: Primeiramente, a seguran・ ?nossa prioridade n・ero um e isso ?comunicado muito claramente aos estudantes, pais e funcion・ios. Todos os anos, em nossa noite de retorno ?escola, coloco-me ?frente da sala cheia e lhes digo isso. Se as crian・s estiverem f・ica e psicologicamente seguras, elas estar・ dispostas para o aprendizado. Se os nossos funcion・ios estiverem f・ica e psicologicamente seguros, eles poder・ ensinar o dia todo, e ?para isso que eles est・ aqui. E os pais podem repousar e relaxar em casa ou no seu trabalho, ao saberem que as crian・s est・ seguras. Mas, ap・ afirmar isso, estamos falando de fazer tudo o que ?prudente e razo・el para assegurar, ao m・imo da nossa capacidade, que realmente todos estejam seguros. Existem pr・icas com as quais somos inflex・eis. Ningu・ pode entrar no pr・io sem passar diretamente pela secretaria, assinar um formul・io e obter um adesivo de visitante. Os volunt・ios usam distintivos para isso. As crian・s sabem que n・ podem p・ o p?fora da sala de aula sem ter um cart・ nas m・s. Sou r・ido quanto a isso. Os funcion・ios e as crian・s foram ensinados a notificar a secretaria imediatamente caso vejam algu・ sem distintivo ou adesivo no nosso edif・io ou nos nossos jardins. As crian・s est・ alertas e participam rapidamente. Nossos funcion・ios de servi・s do pr・io, como parte das suas fun苺es, policiam os jardins. Isso nos fornece olhos adicionais. Portanto, o que me faz ficar mais tranq・lo (j?que se trata de uma grande escola elementar, em grande parte em espa・ aberto) ?que sei que todos sabem o que se espera em termos de seguran・ e prote艫o.

P: Considerando o que o sr. viu e leu, o que os seus colegas e companheiros est・ dizendo, qual ?a sua impress・ final do sistema de escolas p・licas nos Estados Unidos, visto da linha de frente?

A: Acho que estamos nos concentrando muito deliberadamente na qualidade da nossa instru艫o. Sinto que estamos melhorando; que as crian・s est・, por exemplo, aprendendo a ler bem, de forma abrangente, e estamos melhorando nossa capacidade com rela艫o ao n・ero de alunos. E estamos atraindo 90% das crian・s dos Estados Unidos. Eu pr・rio freq・ntei a escola particular e enviei meus filhos a escolas particulares algumas vezes, mas trouxe-os de volta ?educa艫o p・lica. Queremos desesperadamente atender o desafio. Sinto-me confiante em rela艫o aos nossos esfor・s de responsabilidade que precisamos ter desenvolvidos. Temos que mostrar ?comunidade como estamos progredindo, por isso aprecio esses esfor・s. Conclu・os tamb・ que ?absolutamente essencial dedicar parcela apropriada do nosso or・mento ?renova艫o c・lica e cont・ua do treinamento nas escolas e como condado. Eu precisei freq・ntar um curso este ano sobre a observa艫o e an・ise do ensino - fascinante! - para que eu pudesse equipar-me melhor para o que fa・. Assim acredito que estamos nos elevando em dire艫o ao desafio.

P: Suas ra・es s・ importantes para os objetivos que o sr. estabeleceu para si, n・ s・?

A: Sim, s・. Nasci em Little Rock, no Arkansas. Minha fam・ia viveu perto da Central High School [local de um dos cap・ulos tensos da hist・ia do fim da segrega艫o da educa艫o p・lica ordenada pela justi・ nas d・adas de 1950 e 1960]. ?parte da minha mem・ia coletiva e me d?orgulho de at?onde chegamos neste pa・ como sociedade.

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As opini・s expressas neste artigo n・ refletem, necessariamente, as opini・s ou pol・icas do governo dos Estados Unidos.

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Ao come・ da p・ina | ・dice, Perspectivas Econ・icas, Junio 2000 | IIP Revistas electr・icas | IIP Home