A LITERATURA ASI¡¦ICO-AMERICANA: TRANSFORMANDO O MOSAICO

Shirley Geok-lin Lim

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O romancista norte-americano Henry James observou certa vez que ?preciso muito tempo para produzir-se o florescimento da literatura. ?luz dessa afirmação, a velocidade com que a nova literatura asi¡¦ico-americana est?surgindo pode ser considerada uma forma de hist¡¦ia encapsulada, uma resposta entusi¡¦tica dos c¡¦culos liter¡¦ios da maioria norte-americana ao surgimento tardio de asi¡¦ico-americanos na consci¡¦cia dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, ela sugere que a tarefa de avaliação ?urgente e complexa.

A avaliação de uma tradição marginal ainda emergente e em r¡¦ida transformação dever?evitar crit¡¦ios definitivos extra¡¦os de tradições liter¡¦ias diferentes. Isso n¡¦ significa que a avaliação seja in¡¦il ou imposs¡¦el. Ao contr¡¦io, como as literaturas emergentes s¡¦ mais situadas em termos de conflito, provis¡¦ias e transit¡¦ias, elas devem incorporar seus pr¡¦rios discursos cr¡¦icos, interrogativos e auto-reflexivos; em outras palavras, uma auto-avaliação.

Uma pesquisa dos cat¡¦ogos dos editores sobre literatura asi¡¦ico-americana demonstra que, na d¡¦ada de 1990, esta disciplina tornou-se, para usar uma frase coloquial, um "acontecimento quente". Sua popularidade nos primeiros dias do novo s¡¦ulo pode geralmente ser relacionada ao sucesso do movimento dos direitos civis das d¡¦adas de 1950 e 1960, a autores afro-americanos como W. E. B. Du Bois do in¡¦io do s¡¦ulo XX, e Toni Morrison em d¡¦adas mais recentes, ganhadora do Pr¡¦io Nobel de Literatura em 1994. The Woman Warrior (1978), de Maxine Hong Kingston, a primeira obra asi¡¦ico-americana a receber ampla aclamação, e The Joy Luck Club (1989), de Amy Tan, que estabeleceu aquela escritora entre os "best-sellers", fizeram surgir outros escritores cujas obras t¡¦ apelo de tal amplitude que s¡¦ encontradas tanto em supermercados como em livrarias universit¡¦ias.

O interesse popular e acad¡¦ico na literatura asi¡¦ico-americana vem de anos recentes, com suas ra¡¦es diretas encontradas no ativismo estudantil em S¡¦ Francisco e na Universidade da Calif¡¦nia em Berkeley, entre outros lugares nos Estados Unidos, no final dos anos 1960, que levaram ?criação de programas de estudos ¡¦nicos interdisciplinares. Atualmente, as aulas de literatura asi¡¦ico-americana s¡¦ comuns em toda a educação superior dos Estados Unidos. Como resultado, esse corpo de escritores expandiu-se n¡¦ apenas em visibilidade, mas tamb¡¦ - e mais significativamente - em conquistas.

Publicações como Bridge em Nova Iorque e Amerasia, criada pela Universidade da Calif¡¦nia em Los Angeles, foram for¡¦s vitais para aumentar a popularidade de escritores asi¡¦ico-americanos selecionados. Este interesse, que se intensificou nas ¡¦timas duas d¡¦adas entre leitores da maioria norte-americana e editoras, trouxe com ele oportunidades renovadas e, ironicamente, uma crise de representação. Um sinal desta crise ?o debate interno girando sobre os esfor¡¦s para a definição de um "c¡¦one" de textos (uma lista dos melhores ou mais significativos escritos) e o estabelecimento de um curr¡¦ulo fixo. Neste tema, ?medida que as discuss¡¦s abordam a provisoriedade e temporalidade, a literatura asi¡¦ico-americana ?particularmente um campo em mudan¡¦ e freq¡¦ntemente contestado.

De que forma, ao final, pode-se definir as fronteiras da literatura asi¡¦ico-americana? Tr¡¦ antologias antigas, Asian-American Authors (1972), Asian-American Heritage (1974) e Aiiieeeee! (1975), sugeriram que o paradigma de "formato ¡¦ico" era inadequado para uma compreens¡¦ da identidade cultural asi¡¦ico-americana. Ao mesmo tempo, influenciados pelo movimento dos direitos civis dos negros na d¡¦ada de 1960, os editores de Aiiieeeee! (que publicaram posteriormente pe¡¦s teatrais, romances, contos e poesia) argumentaram que a "sensibilidade" asi¡¦ico-americana era um fen¡¦eno americano distintamente diferente e sem relações com as fontes culturais asi¡¦icas. Mas este ponto de vista evaporou-se ao longo dos anos, em face da crescente imigração asi¡¦ica durante o ¡¦timo quarto do s¡¦ulo XX.

Gra¡¦s a esse fluxo de entrada, o percentual asi¡¦ico da população dos Estados Unidos aumentou de 0,5% para mais de 3%. ?interessante notar que Aiiieeeee! concentrou-se apenas em autores sino e nipo-americanos, a maior parte deles do sexo masculino. Em comparação, nos 25 anos anteriores ?publicação da pioneira antologia, as livrarias norte-americanas foram invadidas por obras de americanos com descend¡¦cia filipina, malaia, indiana, paquistanesa, vietnamita, coreana e outras, com as mulheres ampla e notoriamente representadas.

Muitas vezes, a literatura asi¡¦ico-americana foi abordada por cr¡¦icos e analistas a partir da ¡¦ica perspectiva de ra¡¦. Em outras palavras, a literatura ?lida como centralizada na posição de identidade dos norte-americanos de descend¡¦cia asi¡¦ica e dentro do contexto de hist¡¦ias de imigração asi¡¦ico-americana e lutas legislativas contra pol¡¦ias injustas e viol¡¦cia racial. A verdade ?que diferentes hist¡¦ias de imigração de comunidades de origem nacional geraram escritos que refletem preocupações e estilos de diversas gerações. Os poemas em l¡¦gua chinesa escritos por chineses imigrantes nos acampamentos de Angel Island (o local da chegada de imigrantes na Costa Oeste dos Estados Unidos) entre 1910 e 1940 e os "tankas" (forma de verso japon¡¦) dos isseis (a primeira geração de nipo-americanos) foram traduzidos. Cada um fez sua adição ao "c¡¦one" arquivado de literatura asi¡¦ico-americana. As hist¡¦ias e ensaios de Edith Eaton (Mrs. Spring Fragrance, 1910), que adotou o nome art¡¦tico de Sui Sin Far para designar sua adoção ?metade chinesa de sua ascend¡¦cia, abordaram os problemas enfrentados pelos chineses e pelas pessoas de "ra¡¦ mista" ou, como ela os denomina, os "eurasi¡¦icos", nos Estados Unidos no in¡¦io do s¡¦ulo XX. America Is in The Heart (1946), de Carlos Bulosan, acompanha um imigrante filipino enquanto ele e outros trabalhadores imigrantes lutam por justi¡¦ social e aceitação. Cada um deles ?parte da tradição asi¡¦ico-americana.

No per¡¦do anterior ao surgimento da nova literatura da era p¡¦-guerra e mesmo posteriormente, as autobiografias eram o g¡¦ero preferido pelos imigrantes e pela primeira geração de escritores (isso ?verdadeiro tamb¡¦ para literaturas de outras etnias). The Grass Roof (1931), de Younghill Kang, Father and Glorious Descendant (1943), de Pardee Lowe, e Fifth Chinese Daughter (1950), de Jade Snow Wong, satisfizeram a curiosidade da audi¡¦cia das maiorias sobre os estranhos no seu meio. De fato, as experi¡¦cias de residentes nipo-americanos durante a Segunda Guerra Mundial eram um tema importante para a prosa e poesia autobiogr¡¦ica ao longo das d¡¦adas do p¡¦-Guerra, conforme refletido em Nisei Daughter (1956), de Monica Sone, Farewell to Manzanar (1973), de Jeanne Wakatsuki Houston e James D. Houston, e os poemas de Mitsuye Yamada em Desert Run (1988).

Mas as comunidades liter¡¦ias asi¡¦ico-americanas n¡¦ eram limitadas a uma era e local, nem a uma disciplina da literatura. Os escritores se comunicavam, e continuam a comunicar-se, atrav¡¦ de uma variedade de g¡¦eros, que inclui ficção, poesia, drama e hist¡¦ia oral.

O primeiro romance publicado por um nipo-americano nascido nos Estados Unidos (ou nissei) foi No No Boy (1957), de John Okada, um ano ap¡¦ The Frontiers of Love, da sino-americana Diana Chang, receber respeitosa atenção. A guinada da produção liter¡¦ia desde ent¡¦ indica que a trajet¡¦ia da tradição liter¡¦ia asi¡¦ico-americana ainda se encontra em formação, de forma imaginativa.

A quantidade de conquistas nos ¡¦timos anos ?impressionante. Ap¡¦ os pr¡¦ios colecionados por The Woman Warrior de Kingston, outros escritores asi¡¦ico-americanos encontraram leitores e audi¡¦cias desejadas. O romance Picture Bride, de Cathy Song, e a coleção de versos de Garrett Hongo, The River of Heaven, ajudaram a solidificar a reputação da comunidade liter¡¦ia asi¡¦ico-americana nos anos 1980, da mesma forma que o fez M. Butterfly, a surpreendente pe¡¦ teatral de David Henry Wang, e o drama de Philip K. Gotanda, The Wash.

Enquanto Tan emergia com The Joy Luck Club e Kingston prosseguia em sua ascens¡¦ com Tripmaster Monkey (1989), outros escritores vinham ?cena, como Bharati Mukherjee (Jasmine). Os romances de estr¡¦a do sino-americano Gish Jen (Typical American), do coreano-americano Chang-rae Lee (Native Speaker) e do vietnamita-americano Lan Cao (Monkey Bridge) foram todos muito bem recebidos. Em 1999, o escritor sino-americano Ha Jin recebeu o Pr¡¦io Nacional do Livro por Waiting, seu primeiro romance, passado no cen¡¦io da Revolução Cultural. No setor de contos, escritores como David Wong Louie (Pangs of Love and Other Stories, 1991), Wakako Yamauchi (Songs My Mother Taught Me, 1994) e Lan Samantha Chang (Hunger, 1998) receberam aclamação similar.

Esse espectro de conquista reflete a diversidade das preocupações tem¡¦icas da literatura asi¡¦ico-americana paralelamente ?heterogeneidade asi¡¦ico-americana contempor¡¦ea. As obras asi¡¦ico-americanas n¡¦ est¡¦ situadas em uma tradição unida e coesa, nem a ela contribuem. Ao contr¡¦io, certos elementos culturais parecem ser compartilhados por autores de hist¡¦ias e origens variadas. Preocupações similares podem ser vistas emergindo de uma vis¡¦ de mundo espec¡¦ica do leste asi¡¦ico, de construções patriarcais de g¡¦ero e afinidade e de experi¡¦cias comuns de luta e isolamento no novo mundo dos Estados Unidos. E, ainda assim, n¡¦ h?nenhuma tradição ¡¦ica subordinada ¡¦ diversas t¡¦nicas e estrat¡¦ias que caracterizam as conquistas da literatura asi¡¦ico-americana.

O fato ?que representações heterog¡¦eas (na literatura e na sociedade) ajudam a reverter o estere¡¦ipo dos "impenetr¡¦eis" asi¡¦ico-americanos. Quando a filipino-americana Jessica Hagedorn deu ?sua recente antologia de literatura asi¡¦ico-americana o t¡¦ulo de Charlie Chan is Dead, houve mais que um toque de ironia nessa refer¡¦cia ao detetive asi¡¦ico-americano her¡¦co, mas ainda estereotipado, protagonista dos romances dos anos 1930 do escritor anglo-americano Earl Derr Biggers e suas adaptações cinematogr¡¦icas.

At?recentemente, os estudos asi¡¦ico-americanos aceitavam uma noção psicossocial limitada do estere¡¦ipo. Psic¡¦ogos como Stanley Sue argumentavam que os euro-americanos justificavam historicamente sua discriminação sobre os asi¡¦ico-americanos com preconceitos populares que denegriam os imigrantes como inferiores, doentes e que n¡¦ eram bem-vindos. Esse estere¡¦ipo negativo infeliz do s¡¦ulo XIX deu lugar em nossos dias a um estere¡¦ipo positivo dos asi¡¦ico-americanos como educados, trabalhadores e vitoriosos, um modelo de minoria, uma vis¡¦ que est?encontrando presen¡¦ crescente tamb¡¦ na literatura, mesmo sendo o tema de debates cont¡¦uos com a comunidade.

Outro tema que surge al¡¦ da an¡¦ise de ra¡¦s, ?a an¡¦ise de sexo, com muitas obras que contam as lutas das mulheres asi¡¦ico-americanas contra atitudes patriarcais tradicionais. The Woman Warrior, de Maxine Hong Kingston, ?um exemplo; uma s¡¦ie complexa de narrativas sobre o crescimento em uma comunidade estruturada sobre linhas de ra¡¦ e sexo.

Como na maior parte das sociedades tradicionais, os pap¡¦s de cada sexo nas comunidades asi¡¦ico-americanas tendem a ser fixados e comunalmente escrutinados. As tens¡¦s causadas por essas estruturas vieram ?tona na ¡¦tima d¡¦ada, em antologias de literatura asi¡¦ico-americana como Home to Stay (1990) e Our Feet Walk the Sky (1993). De forma geral, a alta estima centralizada sobre filhos homens trouxe expectativa s¡¦io-econ¡¦ica mais grandiosa dos filhos homens. Esperava-se que as filhas mulheres se casassem, tornando-se parte dos lares dos seus maridos. De fato, a vis¡¦ dominante em todas as sociedades do leste asi¡¦ico era de que as mulheres eram submissas primeiramente aos pais, depois aos maridos e mais tarde, se vi¡¦as, aos seus filhos homens.

A imigração para os Estados Unidos, uma sociedade em que os pap¡¦s dos homens e das mulheres s¡¦ definidos de forma mais livre e fluida, coloca os valores sociais tradicionais sob tens¡¦. Em conseqüência, esse desenvolvimento afetou a literatura. As obras da geração mais jovem, como Mona in the Promised Land (1996), de Gish Jen, e Monkey Bridge (1997), do escritor vietnamita-americno Lan Cao, expressam as confus¡¦s que surgem da dist¡¦cia entre as suas aspirações de auto-confian¡¦ e felicidade individual e as expectativas das suas m¡¦s imigrantes. Mas, mesmo anteriormente, logo ap¡¦ a Segunda Guerra Mundial, Jade Snow Wong e Jeanne Wakatsuki Houston, ao escreverem sobre a criação de meninas, fizeram reflex¡¦s similares sobre as inclinações de cada sexo em suas fam¡¦ias.

Naturalmente, ?verdade que os pap¡¦s de cada sexo s¡¦ muitas vezes apresentados como função da cultura. Escritoras norte-americanas com origens no sul da ¡¦ia, como Bharati Mukherjee e Bapsi Sidhwa (An American Brat, 1994), concentraram-se nas tens¡¦s culturais emergentes ao cruzar fronteiras nacionais. Os personagens homens asi¡¦ico-americanos enfrentam crises para compreender o significado da masculinidade, em livros como Pangs of Love, de Louie, e China Boy (1991), de Gus Lee. No amor ou na unidade da fam¡¦ia, portanto, os asi¡¦ico-americanos necessitavam negociar ideais em conflito de identidades masculinas e femininas.

Outro tema importante da literatura asi¡¦ico-americana ?o relacionamento entre pais e filhos. Este tamb¡¦ tem fundamento hist¡¦ico e social. Nos anos passados, devido ¡¦ barreiras de idioma enfrentadas pelos imigrantes asi¡¦ico-americanos, o ponto de vista dos filhos e filhas asi¡¦ico-americanos de segunda geração, nascidos nos Estados Unidos, normalmente prevalecia na sua literatura. J?em 1943, a autobiografia de Lowe, Father and Glorious Descendant, proporcionou aos leitores norte-americanos o car¡¦er de um pai dominante com uma comunidade ¡¦nica forte e coesa.

Enquanto os filhos de segunda geração muitas vezes rejeitam a expectativa social dos seus pais, os pais imigrantes n¡¦ s¡¦ simplesmente representações passivas de sociedades est¡¦icas. Eles tamb¡¦ s¡¦ indiv¡¦uos que se separaram de suas comunidades originais ao mudarem-se para os Estados Unidos. Como resultado, os escritores asi¡¦ico-americanos nascidos nos Estados Unidos retratam personagens patriarcais complexos, que s¡¦ em si pr¡¦rios figuras duplas. As obras de Yamamoto e Yamauchi descrevem relacionamentos entre m¡¦ e filha que s¡¦ propensos a conflitos que n¡¦ s¡¦ apenas familiares, mas tamb¡¦ com base em sexo. Os evocativos contos de Lan Samantha Chang em Hunger s¡¦ exemplos adicionais desse tipo de literatura.

O relacionamento entre pai e filho n¡¦ s¡¦ meramente representados como um conjunto de temas, mas tamb¡¦ como padr¡¦s de estrat¡¦ias narrativas: pontos de vista, enredos, personagens, vozes e escolhas de linguagem. O centro de consci¡¦cia no poema ou na hist¡¦ia afeta o fluxo de identidade para o leitor. A variação de vozes e tons dada aos interlocutores nos informa se os pais s¡¦ imigrantes que n¡¦ falam ingl¡¦ ou interlocutores bil¡¦g¡¦s, bem como se os filhos diferem amplamente dos seus pais ou n¡¦, em atitudes e valores culturais. O que raramente est?em d¡¦ida ?o significado central do relacionamento entre pai e filho nessas obras, iluminando o papel social prim¡¦io desempenhado pelas fam¡¦ias nas comunidades asi¡¦ico-americanas.

Algumas dessas obras tamb¡¦ s¡¦ restritas a regi¡¦s. As narrativas de Okada, Toshio Mori e Kingston, por exemplo, s¡¦ especificamente localizadas em enclaves da Costa Oeste dos Estados Unidos, enquanto Eat a Bowl of Tea (1961), de Louis Chu, tem lugar em Chinatown, em Nova Iorque, a um continente de dist¡¦cia. As obras oriundas do Hava? como o romance All I am Asking for Is My Body (1975), de Milton Murayama, e os poemas e ficções de Lois-Ann Yamanaka em Saturday Night at the Pahala Theatre (1993) e Hanging (1998), de Blu, exprimem uma forte identidade do arquip¡¦ago e utilizam registros em ingl¡¦ e recursos em dialeto espec¡¦icos do coloquialismo havaiano. Temas similares identificados com as ilhas e registros estil¡¦ticos s¡¦ evidentes nas antologias e t¡¦ulos publicados pela Bamboo Ridge Press, do Hava?

Invariavelmente, houve tamb¡¦ uma mudan¡¦ para t¡¦nicas p¡¦-modernistas atuais nos ¡¦timos anos. As obras de escritores contempor¡¦eos mais jovens, como In the Valley of the Heart (1993), da romancista Cynthia Kadohata, e os dramas dos dramaturgos Hwang e Gotanda, deparam-se com o genial romance Tripmaster Monkey (1989), de Kingston. Eles fazem experimentos com t¡¦nicas perspicazes como a par¡¦ia, a ironia e a imitação para desafiar as categorias interligadas de ra¡¦, classe e sexo e incluir identidade sexual como um dos temas centrais de identidade. Utilizando t¡¦nicas similares, Dogeaters (1990), de Jessica Hagedorn, passado nas Filipinas, critica o colonialismo hist¡¦ico dos Estados Unidos e o regime de Marcos ao celebrar fus¡¦s culturais filipinas.

As antologias de g¡¦ero ¡¦ico oferecem amplo espectro de estilos e vozes. The Open Boat (1993) e Premonitions (1995) indicam novas direções para a poesia. Charlie Chan Is Dead (1993) e Into the Fire (1996) apresentam aos leitores a ficção recente. E duas antologias de 1993, The Politics of Life e Unbroken Thread, registram o que est?acontecendo na dramaturgia. Existe uma saud¡¦el heterogeneidade evidente, bem como nas antologias recentes, centralizada nas origens nacionais individuais, tais como Living in America (1995), as reflex¡¦s de norte-americanos com ascend¡¦cia no sul da ¡¦ia, e Watermark (1998), uma coleção de escritos de vietnamita-americanos, bem como um volume rec¡¦-publicado, Southeast Asian American Writing: Tilting the Continent (2000). E certamente existe uma rica variedade de identidades comunit¡¦ias, g¡¦eros e estilos a serem encontrados em recentes antologias gerais, que incluem Asian American Literature (1996), de Shawn Wong.

Tomadas em conjunto, o prop¡¦ito dessas antologias ?o de proporcionar acesso satisfat¡¦io ¡¦ obras originais, provocadoras e desafiadoras produzidas no ¡¦timo s¡¦ulo. Aprofundando o equil¡¦rio entre obras conhecidas e aclamadas e escritos mais recentes, as seleções normalmente refletem considerações de significado hist¡¦ico e tem¡¦ico e qualidade liter¡¦ia, um crit¡¦io que muitas vezes ?sujeito a saud¡¦el e feroz debate. Juntos, entretanto, a diversidade de estilos, g¡¦eros e vozes testemunha a vitalidade da literatura asi¡¦ico-americana.

Por fim, essa diversidade possui, em seu n¡¦leo, o transnacionalismo: um movimento global de culturas, povos e capital. Este novo fen¡¦eno fez com que os escritores criassem novas identidades para as pessoas e para eles mesmos. A classe dos asi¡¦ico-americanos ?uma miscel¡¦ea de asilados, refugiados, exilados e imigrantes que v¡¦ chegando aos Estados Unidos h?d¡¦adas, continuam a escrever e s¡¦ publicados aqui. At?recentemente, entretanto, diversos mantiveram suas identidades de origem e at?mesmo retornaram ¡¦ suas terras de origem posteriormente. Um exemplo ?o conhecido escritor chin¡¦ e acad¡¦ico da Universidade de Col¡¦bia Lin Yu-Tang, que retornou a Taiwan ap¡¦ aposentar-se como professor. Apesar de haver escrito um romance passado nos Estados Unidos, Chinatown Family, meio s¡¦ulo atr¡¦, ele n¡¦ foi classificado como escritor asi¡¦ico-americano.

Hoje, claramente, essas fronteiras de identidade nacional s¡¦ consideradas mais porosas, como resultado e fator que contribui para a globalização das culturas e das economias mundiais sob as for¡¦s das operações de mercado livre, acompanhadas por uma mudan¡¦ para a construção transnacional maior da identidade norte-americana. Os escritores migrantes, imigrantes ou transnacionais, como os coreano-americanos Chang-rae Lee e Theresa Hak Kyung Cha, o indon¡¦io-americano Li-Young Lee, a malaio-americana Shirley Geok-lin, os norte-americanos com origens no sul da ¡¦ia Meena Alexander, Chitra Davakaruni e Bapsi Sidhwa, bem como Hagedorn e Cao, s¡¦ novas identidades norte-americanas notavelmente em construção que contrastam de forma aguda com, por exemplo, o modelo euroc¡¦trico de capitalismo em seus est¡¦ios iniciais descritos por J. Hector St. John de Crevecoeur h?mais de 200 anos em

Letters from an American Farmer (1782). As identidades transnacionais do s¡¦ulo XXI emergem, por outro lado, em um momento do capitalismo na sua maturidade e s¡¦ dependentes de interc¡¦bios globais.

Os romances de Lee, Cao e Jin exigem consci¡¦cia da est¡¦ica binacional e bicultural e da formação lingüística. As ficções de Jin (que chegou aos Estados Unidos em 1985), por exemplo, passadas na China dos ¡¦timos trinta anos, embora recentes, s¡¦ diferentes da novidade dos escritores nascidos nos Estados Unidos como Kingston, cujas tentativas de recuperar uma hist¡¦ia ¡¦nica resultam nas explorações de migrações reversas, dos Estados Unidos para uma China que ele nunca viu.

Ao ler a literatura asi¡¦ico-americana, portanto, somos lembrados de que os cr¡¦icos e professores devem mediar entre os novos textos e as tradições liter¡¦ias norte-americanas historicamente constru¡¦as, entre locais sociais e identidades liter¡¦ias das comunidades para as quais os textos est¡¦ falando. Juntos, as obras recentes de escritores asi¡¦ico-americanos (tanto transnacionais, imigrantes como nativos americanos) ressaltam o fen¡¦eno de publicação r¡¦ida e cont¡¦ua reinvenção da identidade cultural asi¡¦ico-americana. Ao reunir-se deliberadamente esses escritores, o c¡¦one crescente da literatura asi¡¦ico-americana sugere um conjunto coletivo de novas identidades norte-americanas que s¡¦ flexivelmente transnacionais e multiculturais, que ajudam a transformar o mosaico multinacional que historicamente moldou os Estados Unidos.

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Shirley Geok-lin Lim, atualmente em licen¡¦ de seu magist¡¦io na Universidade da Calif¡¦nia em Santa B¡¦bara, est?atuando como professora catedr¡¦ica de ingl¡¦ na Universidade de Hong Kong..

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