A COBERTURA DAS QUEST¡¦S DE POL¡¦ICA EXTERNA
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A cobertura das quest¡¦s de pol¡¦ica externa pelos meios de comunicação na campanha para as eleições presidenciais ?importante, n¡¦ apenas por poder influenciar a forma como os cidad¡¦s votam, mas tamb¡¦ porque ela serve para "informar os cidad¡¦s para ajudar a estabelecer a agenda para discuss¡¦s p¡¦licas", afirma Wesley G. Pippert, diretor do Programa Washington da Faculdade de Jornalismo da Universidade de Missouri e que trabalhou por cerca de trinta anos como rep¡¦ter da United Press International, incluindo tr¡¦ anos no Oriente M¡¦io. ?claro, afirma ele, que ambos os candidatos e os meios de comunicação na campanha eleitoral de 2000 "dever¡¦ prestar maior atenção ao cen¡¦io internacional". |
A cobertura das quest¡¦s de pol¡¦ica externa pelos meios de comunicação durante a campanha eleitoral para presidente de 2000 tem sido incompleta. Os pr¡¦rios candidatos s¡¦ parcialmente respons¡¦eis por n¡¦ discutirem as quest¡¦s; os meios de comunicação, entretanto, n¡¦ pressionaram os candidatos para falarem sobre o assunto.
Existem tr¡¦ formas em que as quest¡¦s tipicamente ganham divulgação durante as campanhas eleitorais. Primeiramente, as campanhas dos candidatos emitem declarações de posicionamento sobre diversas quest¡¦s, embora elas possam receber atenção restrita dos meios de comunicação, com exceção dos t¡¦icos "quentes". Em segundo lugar, um candidato pode ter a oportunidade de uma discuss¡¦ profunda de um t¡¦ico controverso, o que gera cobertura dos meios de comunicação. O p¡¦lico provavelmente recebe a maior an¡¦ise da capacidade de um candidato de lidar com assuntos de pol¡¦ica externa, entretanto, a partir de observações espont¡¦eas para os meios de comunicação em encontros p¡¦licos, como entrevistas coletivas ou debates.
A cobertura das campanhas eleitorais pelos meios de comunicação ?importante, n¡¦ para influenciar os cidad¡¦s sobre como votar (uma noção popular do poder da imprensa que ?mais mito que realidade) mas para informar os cidad¡¦s e ajudar a estabelecer a agenda para discuss¡¦ p¡¦lica. Portanto, quando a cobertura dos meios de comunicação ?esparsa ou distorcida, o eleitorado deposita seus votos com base em conhecimentos limitados ou talvez possa afastar-se das urnas como um todo.
Aparte da cobertura de quest¡¦s controversas, a cobertura profunda das agendas de pol¡¦ica externa dos candidatos pelos meios de comunicação na campanha eleitoral para presidente de 2000 tem sido a exceção, e n¡¦ a regra. Em um dos poucos programas em rede que abordaram essas quest¡¦s, a Cable News Network (CNN) dedicou uma parte do seu notici¡¦io noturno de 18 de agosto aos aspectos de pol¡¦ica externa da campanha. O programa chamou a atenção para o fato de que os republicanos dedicaram uma noite inteira durante sua convenção nacional a quest¡¦s internacionais, enquanto os democratas mal mencionaram essas quest¡¦s na sua convenção. O ex-senador democrata Jim Sasser do Tennessee, que tamb¡¦ trabalhou como embaixador na China, foi citado ao dizer que os eleitores poucas vezes depositam votos com base em quest¡¦s internacionais, a menos que exista uma guerra ou crise em desenvolvimento.
Confirmando a vis¡¦ de Sasser, a pol¡¦ica externa teve grande presen¡¦ no notici¡¦io das campanhas anteriores -- a campanha Kennedy-Nixon de 1960, em que as ilhotas asi¡¦icas de Quemoy e Matsu foram muito debatidas, a campanha Johnson-Goldwater de 1964, em que o envolvimento norte-americano no Vietn?era uma quest¡¦ importante, e a campanha Carter-Reagan de 1980, que ocorreu durante a crise dos ref¡¦s norte-americanos no Ir?
Al¡¦ do programa da CNN, houve, ?claro, outras exceções nesta campanha. The New York Times, em seu principal editorial de sete de agosto, afirmou que havia "claras e importantes diferen¡¦s" entre o vice-presidente Al Gore e o governador George W. Bush sobre pol¡¦ica externa. O Washington Post, em seu principal editorial de primeiro de setembro, afirmou: "?encorajador observar a campanha presidencial movendo-se em direção a um debate sobre pol¡¦ica externa, prontid¡¦ das for¡¦s armadas e o papel dos Estados Unidos no mundo. Estas s¡¦ quest¡¦s que receberam muito pouca atenção." Mas, com o final da Guerra Fria e o n¡¦ surgimento de nenhum conflito com uma superpot¡¦cia, os candidatos e os meios de comunicação est¡¦, em sua maioria, prestando pouca atenção ¡¦ quest¡¦s de pol¡¦ica externa.
Durante a preparação para este artigo, pesquisei o per¡¦do entre o colapso das conversações de paz no Oriente M¡¦io em Camp David no final de julho e o Dia do Trabalho (a primeira segunda-feira de setembro). A pesquisa (conduzida utilizando-se os resumos do arquivo de notici¡¦ios televisivos da Universidade Vanderbilt) examinou at?que ponto as quest¡¦s de pol¡¦ica externa foram cobertas pelo The New York Times e pelo Washington Post; pelas tr¡¦ revistas semanais de informação; e pelos notici¡¦ios noturnos das quatro principais redes de televis¡¦, incluindo o not¡¦el "Nightline", da ABC. Os resultados demonstraram que, dentre as redes, a CNN havia de longe transmitido mais not¡¦ias internacionais, mas raramente a CNN exibiu coment¡¦ios de Gore ou Bush sobre essas not¡¦ias. Dos meios impressos examinados, a Associated Press apresentou a cobertura mais extensa do cen¡¦io internacional.
Selecionei este per¡¦do deliberadamente. Normalmente, o per¡¦do julho/agosto ?um per¡¦do noticioso calmo em Washington, mas n¡¦ foi esse o caso em 2000. As conversações de Camp David estavam se realizando, tanto o Partido Republicano como o Democrata realizaram suas convenções nacionais em agosto e o Dia do Trabalho marca o in¡¦io tradicional da campanha presidentical nos Estados Unidos. Este per¡¦do forneceu, portanto, abundantes oportunidades para que os meios de comunicação e os candidatos discutissem quest¡¦s de pol¡¦ica externa.
Eles raramente o fizeram. Houve apenas discuss¡¦s completas sem freqüência de quest¡¦s de pol¡¦ica externa e sua import¡¦cia. Ocasionalmente, e geralmente t¡¦ s?na forma de fragmentos, os meios de comunicação discutiram as credenciais dos candidatos para conduzir a pol¡¦ica externa e suas opini¡¦s sobre esses assuntos.
N¡¦ foi por falta de oportunidade. Havia diversos assuntos que clamavam a cobertura de Bush e Gore e suas posições pelos meios de comunicação.
As conversações de Camp David sobre o futuro do Oriente M¡¦io, quest¡¦ a que o pr¡¦imo presidente certamente necessitar?dar continuidade, fracassou na semana de 23 de julho. Na esteira do colapso, os israelenses e palestinos culpavam uns aos outros pelo fracasso; o presidente Clinton elogiava o primeiro ministro Ehud Barak e sugeria que ele devesse apoiar a mudan¡¦ da ambaixada norte-americana de Tel-Aviv para Jerusal¡¦. O Times, o Post, as redes de televis¡¦ e as revistas jornal¡¦ticas dedicaram freq¡¦ntes reportagens ?quest¡¦ durante o final de julho e todo o m¡¦ de agosto. Mas em nenhum momento os meios de comunicação obtiveram de Bush ou Gore suas opini¡¦s sobre Camp David ou as tens¡¦s subseq¡¦ntes, ou como eles teriam tratado a situação. Posteriormente, apenas a AP comparou as posições de Bush e Gore sobre o Oriente M¡¦io (em um despacho de seis de setembro), incluindo as opini¡¦s dos candidatos sobre as conversações de paz, a situação na S¡¦ia e no L¡¦ano e se a embaixada norte-americana deveria ser transferida para Jerusal¡¦.
Na mesma semana do colapso das conversações de Camp David, Bush nomeou Richard Cheney como seu parceiro na disputa. Cheney, o general aposentado Colin Powell e a ex-reitora da Universidade Stanford Condoleezza Rice, principal conselheira de pol¡¦ica externa de Bush, fizeram discursos sobre pol¡¦ica externa durante a Convenção Republicana. Foi uma excelente oportunidade para aprender como esse trio, que provavelmente formaria a equipe de seguran¡¦ nacional mais pr¡¦ima de Bush, lidaria com eventos mundiais. Cheney havia sido secret¡¦io da Defesa durante a Guerra do Golfo uma d¡¦ada atr¡¦, enquanto Powell havia sido presidente da Junta de Chefes de Equipe. Acredita-se largamente que Powell seria secret¡¦io de Estado em um gabinete de Bush e Rice seria conselheira de Seguran¡¦ Nacional.
Novamente, entretanto, a cobertura noticiosa foi esparsa. Muitos dos meios de comunicação ressaltaram resumidamente o voto de Cheney em 1986 contra as sanções impostas ?¡¦rica do Sul do apartheid. Newsweek, na sua edição de sete de agosto, em tr¡¦ longos artigos sobre Cheney, tamb¡¦ referiu-se a ele como a "oposição declarada ¡¦ sanções norte-americanas contra o Ir?, bem como sua oposição anterior a sanções econ¡¦icas contra a ¡¦rica do Sul. Sobre Powell e Rice, sua cobertura centralizou-se no fato de serem afro-americanos e n¡¦ em suas posições pol¡¦icas. Na sua principal reportagem de dois de agosto, The New York Times observou que: "Ao longo de todos os seus elogios aos atributos pessoais do Sr. Bush, (o senador John) McCain e a Sra. Rice disseram pouco sobre pol¡¦icas ou pa¡¦es espec¡¦icos." A Reuters incluiu no seu despacho de 14 de agosto sobre a visita de Rice a Israel ap¡¦ a convenção que ela afirmou aos israelenses que Bush daria continuidade ?lideran¡¦ de Clinton para incrementar a paz no Oriente M¡¦io. Nenhum dos meios de comunicação norte-americanos veiculou a not¡¦ia ou especulou sobre o prop¡¦ito e a conveni¡¦cia da sua visita.
A cobertura das agendas de assuntos externos descritas nas plataformas partid¡¦ias pelos meios de comunicação foi igualmente magra. A cinco par¡¦rafos do final do seu longo artigo sobre a plataforma do Partido Republicano, The New York Times informou que os republicanos acusaram o governo Clinton de conduzir crises erroneamente, desde os B¡¦c¡¦ at?o M¡¦ico, e veiculou forma apropriada a resposta do partido de Gore de que os republicanos estavam se voltando para o isolacionismo. O Post informou em um par¡¦rafo que Bush havia prevalecido sobre os conservadores que acreditavam que uma pol¡¦ica de "paz atrav¡¦ da for¡¦" n¡¦ era suficientemente ressaltada na plataforma do Partido Republicano. Em 16 de agosto, o Post comparou as duas plataformas, relacionando seis "quest¡¦s fundamentais" e a pol¡¦ica externa n¡¦ era uma delas. Em uma exceção not¡¦el relacionada, a AP conduziu dois despachos comparando as posições de Gore e Bush sobre o Oriente M¡¦io e o Hemisf¡¦io Ocidental.
Mas houve muitas outras quest¡¦s regionais (como as conversações entre as Cor¡¦as do Norte e do Sul, a disputa entre a ¡¦dia e o Paquist¡¦ sobre a Caxemira, a guerra das drogas na Col¡¦bia e a seguran¡¦ das embaixadas norte-americanas) sobre as quais Gore e Bush tiveram pouco a dizer publicamente, ou houve pouca cobertura dos seus coment¡¦ios pelos meios de comunicação. No seu principal editorial de dois de agosto, intitulado "Meia Pol¡¦ica Externa", o Post questionou: "O Sr. Bush est?realmente indiferente ?possibilidade da ¡¦dia, China e R¡¦sia poderem em breve sofrer taxas de infecção de HIV pr¡¦imas ¡¦ da ¡¦rica? Ele tem um plano de combate ao aquecimento global?" O jornalista e colunista de pol¡¦ica externa do Washington Post, Jim Hoagland, um dos poucos rep¡¦teres que seguiam pressionando Gore e Bush em busca de afirmações espec¡¦icas, perguntou em sua coluna de quatro de agosto o que Bush e Gore fariam sobre o futuro das miss¡¦s internacionais de manutenção da paz; talvez uma das principais quest¡¦s que o novo presidente ter?que lidar.
Talvez a quest¡¦ a que os candidatos prestaram mais atenção durante este per¡¦do foi a prontid¡¦ militar; e parece prov¡¦el que continuar?desta forma durante o resto da campanha. Ao aceitar a nomeação para vice-presidente em dois de agosto, Cheney acusou Clinton e Gore de estenderem os comprometimentos militares dos Estados Unidos, exaurindo o poderio militar norte-americano. No dia seguinte ao seu discurso de aceitação, Bush seguiu criticando a prontid¡¦ militar dos Estados Unidos. O The New York Times e o Washington Post cobriram os dois discursos com as mesmas refer¡¦cias relativamente resumidas que os candidatos dedicaram ?quest¡¦.
Um dos maiores conflitos entre os candidatos sobre pol¡¦ica externa eclodiu no final de agosto, quando o presidente eleito do M¡¦ico Vicente Fox visitou os Estados Unidos e reuniu-se com Gore, em Washington, e Bush, no Texas. O Post informou que Bush buscava la¡¦s mais fortes com a Am¡¦ica Latina; Gore respondeu que o governo Clinton havia assinado 270 acordos comerciais com pa¡¦es da regi¡¦. O Times, em mat¡¦ia de primeira p¡¦ina no dia 26 de agosto, afirmou que Condoleezza Rice acusou Clinton e Gore de n¡¦ haverem consolidado o progresso na forma de paz, democracia ou com¡¦cio que estava em processo na regi¡¦ em 1992, quando eles foram eleitos. Os auxiliares de Gore responderam que o governo havia promovido esfor¡¦s vitoriosos para encerrar a viol¡¦cia no Equador, Peru e Guatemala, e que havia fornecido ajuda financeira ao M¡¦ico e ao Brasil durante suas crises monet¡¦ias.
Embora as quest¡¦s de pol¡¦ica externa tenham sido ocasionalmente noticiadas durante esta campanha eleitoral para presidente, ?claro que os dois candidatos e os meios de comunicação deveriam estar prestando maior atenção ao cen¡¦io internacional. Como concluiu Hoagland, do Post, em sua coluna de 13 de agosto: "O mundo estar?assistindo a esta campanha com intenso interesse e preocupação... Os candidatos e eleitores necessitam tamb¡¦ assistir ao mundo."
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