A POL¡¦ICA EXTERNA NA CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 2000:
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Embora a import¡¦cia da pol¡¦ica externa nas campanhas eleitorais para presidente tenham se reduzido em relação a outras quest¡¦s e as diferen¡¦s partid¡¦ias sobre posições pol¡¦icas tenham se estreitado, "os eleitores ainda julgam os candidatos por seus valores de pol¡¦ica externa, compet¡¦cia e capacidade de lideran¡¦, especialmente sua capacidade de administrar crises", afirma Andrew Bennett, professor associado de Governo da Universidade de Georgetown e conselheiro de quest¡¦s de pol¡¦ica externa em diversas campanhas presidenciais. Como resultado, afirma ele, erros ou gafes dos candidatos no transcurso da campanha podem ter "importantes efeitos a longo prazo nas eleições". |
O conceito convencional: a pol¡¦ica externa
n¡¦ importa nas eleições presidenciais
O conceito convencional entre os observadores pol¡¦icos ?que, na aus¡¦cia de crises ou guerras importantes, a pol¡¦ica externa nunca teve muita import¡¦cia nas eleições presidenciais norte-americanas e o fim da Guerra Fria reduziu ainda mais a import¡¦cia da pol¡¦ica externa. Segundo este ponto de vista, a complexidade dos dilemas p¡¦-Guerra Fria e a aus¡¦cia de um potente advers¡¦io externo reduziram as diferen¡¦s pol¡¦icas entre os partidos Democrata e Republicano. Alguns analistas tamb¡¦ sugerem que o p¡¦lico norte-americano tenha retornado ?sua hist¡¦ia de isolacionismo e unilateralismo e o p¡¦lico geralmente n¡¦ presta atenção nem se informa sobre a pol¡¦ica externa e ?extremamente avesso a qualquer sinistro em guerra, reprimindo ainda mais a pol¡¦ica externa dos presidentes e candidatos.
Este conceito convencional ?verdadeiro em alguns aspectos, exagerado ou extremamente simplificado em outros e simplesmente errado em algumas quest¡¦s. A pol¡¦ica externa esteve no auge da sua import¡¦cia nas eleições presidenciais da Guerra Fria durante crises ou guerras, mas a concorr¡¦cia com a Uni¡¦ Sovi¡¦ica tornou-a importante mesmo na aus¡¦cia de crises espec¡¦icas em andamento. O final da Guerra Fria reduziu a proemin¡¦cia da pol¡¦ica externa nas eleições presidenciais, mais claramente em 1992, e as diferen¡¦s pol¡¦icas entre os partidos Republicano e Democrata estreitou-se em 1992 e 1996, mas estes desenvolvimentos foram exagerados. Embora a import¡¦cia da pol¡¦ica externa tenha se reduzido com relação a outras quest¡¦s e as diferen¡¦s partid¡¦ias sobre posições pol¡¦icas tenham se estreitado, os eleitores ainda julgam os candidatos por seus valores de pol¡¦ica externa, compet¡¦cia e capacidade de lideran¡¦, principalmente pela sua capacidade de administrar crises.
Com relação ?opini¡¦ p¡¦lica, de forma geral, a maior parte do p¡¦lico norte-americano n¡¦ vem dando atenção ?pol¡¦ica externa, especialmente ap¡¦ o final da Guerra Fria. Entretanto, quase n¡¦ tem havido modificações nos instintos internacionalistas e multilaterais de pol¡¦ica externa do p¡¦lico desde o final da Guerra Fria e o p¡¦lico se informa e exerce bom julgamento na ocorr¡¦cia de crises espec¡¦icas. Al¡¦ disso, o p¡¦lico est?atento ¡¦ quest¡¦s "interm¡¦ticas" (quest¡¦s internacionais com grande componente dom¡¦tico) que afetam a vida di¡¦ia nos Estados Unidos, tais como a imigração, com¡¦cio ilegal de drogas e com¡¦cio internacional. Al¡¦ disso, muitos grupos de interesse comercial e ¡¦nico concentram-se fundamentalmente em pol¡¦ica externa e s¡¦ influentes durante as campanhas presidenciais atrav¡¦ de contribuições financeiras e "lobby" de base. Por fim, as pesquisas demonstram que o p¡¦lico norte-americano, ainda que atualmente sofra da "fadiga da compaix¡¦" com respeito ?manutenção da paz em conflitos ¡¦nicos e Estados falidos, est?disposto a arriscar vidas caso objetivos humanit¡¦ios e estrat¡¦icos dos Estados Unidos estejam em risco. 1
Conseq¡¦ntemente, a pol¡¦ica externa j?fez a diferen¡¦ na campanha presidencial de 2000 e continuar?a faz?lo. Tanto Al Gore como George W. Bush aderiram a pol¡¦icas externas internacionalistas e distanciaram-se das alas isolacionistas dos seus partidos. Ambos v¡¦ reagindo a grupos de quest¡¦s espec¡¦icas de pol¡¦ica externa. E, embora os dois candidatos n¡¦ possuam posições dramaticamente diferentes sobre pol¡¦ica externa e o p¡¦lico n¡¦ tenha ainda apoiado as pol¡¦icas externas de um em detrimento do outro, ambos os candidatos sofreram as conseqüências de gafes espec¡¦icas de pol¡¦ica externa, ou enganos observados durante suas campanhas. De forma geral, este processo custou mais apoio a Bush que a Gore.
Este artigo reafirma estas conclus¡¦s, analisando primeiramente de forma resumida o efeito da pol¡¦ica externa em campanhas anteriores. Ele ent¡¦ examina como Gore e Bush administraram a pol¡¦ica externa durante suas campanhas, concentrando-se nas conseqüências das declarações equivocadas de Bush sobre o conflito em Kosovo e suas repetidas gafes sobre os nomes dos l¡¦eres e das pessoas, bem como as conseqüências da embara¡¦sa condução do caso de Elian Gonzalez por Gore. Estes enganos observados, embora n¡¦ alterem direta ou dramaticamente a corrida presidencial, tiveram importantes efeitos a longo prazo sobre as eleições e qualquer gafe ou crise de pol¡¦ica externa antes da eleição poder?ter conseqüências maiores e mais imediatas.
Rachas no conceito convencional:
a pol¡¦ica externa nas eleições presidenciais
ap¡¦ a Segunda Guerra Mundial
A maior parte dos argumentos de que "a pol¡¦ica externa n¡¦ importa" nas eleições presidenciais norte-americanas concentra-se na "proemin¡¦cia" das quest¡¦s de pol¡¦ica externa, ou a import¡¦cia que o p¡¦lico deposita sobre essas quest¡¦s nas pesquisas. A proemin¡¦cia da pol¡¦ica externa ? de fato, um fator fundamental no julgamento do seu impacto sobre as eleições, mas outros fatores tamb¡¦ s¡¦ importantes, incluindo as diferen¡¦s observadas nas posições, valores e compet¡¦cia dos candidatos sobre quest¡¦s de pol¡¦ica externa. Embora a proemin¡¦cia da pol¡¦ica externa tenha sofrido s¡¦ia queda desde o final da Guerra Fria, esses outros fatores permanecem importantes.
Em quase todas as pesquisas desde o final da Segunda Guerra Mundial at?a d¡¦ada de 1980, o p¡¦lico considerou a pol¡¦ica externa uma das tr¡¦ quest¡¦s mais importantes enfrentadas pelos Estados Unidos, freq¡¦ntemente a quest¡¦ mais importante. A import¡¦cia geral das relações com a Uni¡¦ Sovi¡¦ica dirigiu grande parte desta preocupação e, al¡¦ disso, quest¡¦s espec¡¦icas tiveram grande import¡¦cia em eleições espec¡¦icas: a Guerra da Cor¡¦a em 1952, o alegado "atraso dos m¡¦seis" em 1960, a Guerra do Vietn?em 1968 e 1972, a intervenção sovi¡¦ica no Afeganist¡¦ e a crise dos ref¡¦s no Ir?em 1980 e as dram¡¦icas mudan¡¦s na Uni¡¦ Sovi¡¦ica em 1988. A proemin¡¦cia das quest¡¦s de pol¡¦ica externa mudou dramaticamente, entretanto, com o final da Guerra Fria. De 1992 para c? a pol¡¦ica externa raramente atingiu as doze maiores quest¡¦s consideradas mais importantes pelo p¡¦lico. Em uma pesquisa do Gallup em janeiro de 2000, por exemplo, perguntando aos eleitores quais dentre uma longa relação de quest¡¦s eram mais importantes para eles, os gastos militares ficaram apenas em 20?lugar, enquanto o papel dos Estados Unidos nos assuntos mundiais foi o 22?em import¡¦cia.2
Muitos observadores apontam as eleições de 1992 como demonstração da limitada import¡¦cia da pol¡¦ica externa ap¡¦ a Guerra Fria, notando que o p¡¦lico sentiu que o presidente Bush n¡¦ prestava atenção ¡¦ quest¡¦s dom¡¦ticas e que Bush caiu de ¡¦dices de aprovação de cerca de 90% ap¡¦ a Guerra do Golfo at?a perda da eleição pouco mais de um ano depois. A pol¡¦ica externa foi de fato menor que as quest¡¦s dom¡¦ticas na lista de prioridades dos eleitores em 1992, mas esta interpretação omite que a derrota de Bush foi tamb¡¦ conseqüência de reveses e oportunidades perdidas na pol¡¦ica externa. Apesar da administração em grande parte bem sucedida de Bush do final da Guerra Fria, Saddam Hussein permaneceu no poder ap¡¦ a Guerra do Golfo, os cr¡¦icos queixaram-se da falta de "vis¡¦" de Bush e seu fracasso em definir os objetivos e pol¡¦icas atr¡¦ da sua ret¡¦ica sobre uma "Nova Ordem Mundial", e Bush n¡¦ adotou ações eficazes na Som¡¦ia (at?depois das eleições) ou na B¡¦nia. At?mesmo o ex-presidente Nixon criticou Bush por ser t¡¦ido demais no aux¡¦io ?consolidação da democracia e dos mercados na R¡¦sia. Al¡¦ disso, vale a pena recordar que os candidatos mais isolacionistas (Patrick Buchanan, senador Tom Harkin e o ex-governador da Calif¡¦nia Jerry Brown) n¡¦ venceram as indicações dos seus partidos.
Portanto, as posições e a compet¡¦cia dos candidatos em pol¡¦ica externa t¡¦ a mesma import¡¦cia da proemin¡¦cia geral das quest¡¦s de pol¡¦ica externa. Na maior parte do per¡¦do da Guerra Fria, os candidatos Republicanos foram beneficiados por uma reputação de serem mais duros com a Uni¡¦ Sovi¡¦ica mas, com o final da Guerra Fria, as diferen¡¦s de posicionamento se reduziram. Apesar de algumas diferen¡¦s de simbolismo e valores nas eleições de 1996, como as cr¡¦icas do senador Robert Dole ao secret¡¦io geral da ONU Boutros Gali, n¡¦ havia diferen¡¦s marcantes entre Dole e Clinton na maior parte das quest¡¦s de pol¡¦ica externa, incluindo os desdobramentos norte-americanos de manutenção da paz na B¡¦nia. Talvez a generalização mais clara sobre posições de pol¡¦ica externa seja que o candidato ou o partido que ocupa a Casa Branca tende a ser mais internacionalista que o candidato ou partido da oposição. O presidente Clinton, por exemplo, centralizou-se em sua agenda dom¡¦tica na campanha de 1992, mas desde ent¡¦ ele tem estado no lado internacionalista de quest¡¦s como o financiamento da ONU pelos Estados Unidos, manutenção da paz, autoridade negociadora comercial "fast-track" e o financiamento do Fundo Monet¡¦io Internacional (FMI), enquanto o Congresso, Republicano desde 1994, tem estado mais do lado isolacionista dessas quest¡¦s.
A experi¡¦cia na pol¡¦ica externa tem a mesma import¡¦cia que posições pol¡¦icas espec¡¦icas, mas n¡¦ ?esmagadoramente importante: o candidato com menos experi¡¦cia de pol¡¦ica externa venceu em 1992 (Bush-Clinton), 1980 (Carter-Reagan) e 1976 (Carter-Ford). Mais importante que a experi¡¦cia direta em pol¡¦ica externa ?o sentimento de julgamento geral dos candidatos pelos eleitores, compet¡¦cia e car¡¦er em quest¡¦s de pol¡¦ica externa e sua capacidade de administrar crises. Os eleitores julgam estas habilidades fundamentais na pol¡¦ica externa em diversos contextos durante a campanha, incluindo os que n¡¦ estejam diretamente relacionados com a pol¡¦ica externa. As habilidades de administração de crises de Clinton estiveram ?mostra, por exemplo, quando ele sobreviveu ?prim¡¦ia de New Hampshire em 1992, apesar da exaltação alimentada pelos meios de comunicação sobre um alegado caso extraconjugal. O julgamento e o car¡¦er do senador Gary Hart sobre pol¡¦ica externa foram questionados em 1984 quando ele pareceu mudar de posição antes da prim¡¦ia de Nova Iorque sobre a quest¡¦ da mudan¡¦ da embaixada norte-americana em Israel para a cidade de Jerusal¡¦. As habilidades de administração de crises de Hart tamb¡¦ se provaram inferiores ¡¦ de Clinton quando Hart esteve na posição similar de responder a alegações de um caso em 1988. Esses eventos contribu¡¦am para o fracasso de Hart em vencer a nomeação presidencial Democrata.
?portanto prov¡¦el que a capacidade de administração de crises seja uma esp¡¦ie de "teste de tornassol" para os eleitores ao decidirem em quem votar para presidente. Mesmo que os eleitores geralmente considerem a pol¡¦ica externa com baixa import¡¦cia nas suas prioridades, eles podem ainda afastar-se de candidatos que pare¡¦m ser incapazes de administrar crises.
Como a pol¡¦ica externa
afetou a campanha presidencial de 2000?
Os candidatos presidenciais em 2000 enfrentam um eleitorado que atribui baixa prioridade ?pol¡¦ica externa, mas que permanece internacionalista em suas vis¡¦s pol¡¦icas e que est?buscando um presidente que seja competente na administração de crises de pol¡¦ica externa. Os candidatos responderam com pol¡¦icas externas que s¡¦ similares em suas linhas mais amplas mas diferentes em seus detalhes, simbolismo e apresentação. At?o momento, as pesquisas n¡¦ demonstram que os eleitores tenham dado a qualquer dos candidatos uma vantagem significativa sobre quest¡¦s de pol¡¦ica externa mas, ?medida que a eleição se aproxima, as quest¡¦s de compet¡¦cia e administração de crises provavelmente tomar¡¦ maior vulto. Ao final, apesar da baixa proemin¡¦cia da pol¡¦ica externa e das limitadas diferen¡¦s de posição entre os candidatos, a percepção do p¡¦lico sobre gafes de pol¡¦ica externa nas campanhas, mais a sua reação a quaisquer novos erros, poder?ser importante para a decis¡¦ do resultado.
Refletindo a baixa proemin¡¦cia da pol¡¦ica externa, nem Gore nem Bush colocaram muita ¡¦fase sobre a pol¡¦ica externa em discursos p¡¦licos. Os dois candidatos articularam suas pol¡¦icas externas em alguns discursos fundamentais no in¡¦io das suas campanhas, adotando geralmente pol¡¦icas internacionalistas.3 Os conselheiros e defensores da pol¡¦ica externa de Bush, que incluem Condoleezza Rice, Colin Powell, Henry Kissinger e Norman Schwarzkopf, bem como o candidato a vice-presidente Richard Cheney, v¡¦ desempenhando papel proeminente na campanha de Bush, aparecendo freq¡¦ntemente com ele no cen¡¦io em importantes discursos de pol¡¦ica externa, para tranq¡¦lizar preocupações sobre a falta de experi¡¦cia de Bush em pol¡¦ica externa. Devido ?ampla experi¡¦cia de pol¡¦ica externa de Gore, seus conselheiros de pol¡¦ica externa v¡¦ tendo papel p¡¦lico menos proeminente.
Ambos os candidatos fizeram muito pouca refer¡¦cia ?pol¡¦ica externa nos discursos de suas convenções. Bush chamou a atenção ?quest¡¦ da prontid¡¦ de defesa no seu discurso de convenção e nas semanas que se seguiram mas, embora isto lhe tenha dado uma leve ascens¡¦ nas pesquisas sobre a quest¡¦ da defesa, teve efeito limitado devido ¡¦ not¡¦ias nos meios de comunicação que indicavam que Bush havia exagerado em sua reivindicação na convenção de que duas divis¡¦s do ex¡¦cito dos Estados Unidos n¡¦ estavam prontas para o combate. De forma similar, Bush tentou tirar vantagem da sua ¡¦fase sobre a construção de defesas contra m¡¦seis bal¡¦ticos, mas isto lhe valeu apoio limitado face ao apoio cont¡¦uo de Gore ?pesquisa sobre defesas contra m¡¦seis e em vista dos repetidos fracassos nos testes de sistemas de defesa contra m¡¦seis. Com respeito ?convenção Democrata, Gore discutiu a pol¡¦ica externa em termos muito gerais por alguns par¡¦rafos, sobrepujando as sugest¡¦s de alguns dos seus conselheiros de retirar qualquer menção de pol¡¦ica externa.4 As diferen¡¦s pol¡¦icas dos candidatos sobre outras quest¡¦s vis¡¦eis foram limitadas: ambos apoiaram o estabelecimento de relações comerciais normais permanentes com a China e ambos se opuseram a um projeto de lei proposto no Congresso para estabelecer um prazo no ver¡¦ de 2001 para a retirada das tropas norte-americanas de Kosovo.
Talvez devido ¡¦ diferen¡¦s limitadas nas posições de pol¡¦ica externa dos candidatos e ?baixa proemin¡¦cia da pol¡¦ica externa, as pesquisas na primavera de 2000, as ¡¦timas dispon¡¦eis sobre este assunto no momento de fechar esta edição, demonstravam que o p¡¦lico estava dividido igualmente entre Gore (42%) e Bush (43%) sobre quem cuidaria melhor da pol¡¦ica externa.5 Apesar deste saldo aparentemente equilibrado, existem sinais de que a pol¡¦ica externa vem favorecendo Gore at?o momento na campanha. Primeiramente, em junho de 1999, Bush come¡¦u com vantagem substancial de 53% contra os 36% de Gore sobre a quest¡¦ de quem conduziria melhor a pol¡¦ica externa.6 Parte da eros¡¦ do apoio ?pol¡¦ica externa de Bush no ano interveniente deveu-se sem d¡¦ida ?ascens¡¦ t¡¦ica do desenvolvimento de um vice-presidente ao tornar-se nomeado. Resultados mais detalhados de pesquisas, entretanto, sugerem que os erros e as gafes de Bush sobre pol¡¦ica externa (falta de lideran¡¦ em Kosovo e falta de familiaridade com os nomes de l¡¦eres e pessoas) custaram-lhe mais apoio que a abrupta mudan¡¦ de pol¡¦ica de Gore com relação a Elian Gonzalez.
A hesitação de Bush sobre Kosovo
A hesitação de Bush ao declarar uma pol¡¦ica clara sobre a crise em Kosovo foi possivelmente seu erro mais caro de pol¡¦ica externa na campanha. Quando a crise surgiu no final de mar¡¦ de 1999, o senador John McCain, que ent¡¦ se opunha a Bush na eleição prim¡¦ia Republicana para presidente, declarou imediatamente que, se os Estados Unidos usassem a for¡¦, deveriam us?la para ganhar e n¡¦ deveriam excluir o uso de for¡¦s terrestres. Esta posição, juntamente com a reputação de McCain como her¡¦ da Guerra do Vietn? deu a McCain tremenda exposição nacional no notici¡¦io da televis¡¦ e em programas de entrevistas. Bush, ao contr¡¦io, evitou fazer uma declaração pol¡¦ica clara sobre a crise por diversas semanas, antes de finalmente fazer eco ?posição pol¡¦ica de McCain. Este atraso pode haver resultado em parte do cuidado de Bush por estar na frente na campanha, mas tamb¡¦ refletiu comprovadamente divis¡¦s entre os conselheiros de pol¡¦ica externa de Bush.7 Qualquer que tenha sido a raz¡¦ da indecis¡¦ de Bush, este epis¡¦io marcou claramente o in¡¦io da ascens¡¦ de McCain sobre os outros candidatos para a nomeação Republicana, eventualmente auxiliando-o a for¡¦r Bush a uma luta mais longa, mais cara e politicamente mais danosa pela nomeação. As pesquisas em New Hampshire em abril e maio mostraram a ascens¡¦ de McCain ao terceiro lugar na corrida Republicana, atr¡¦ de Bush e Elizabeth Dole, e nas pesquisas nacionais McCain subiu de 3% em mar¡¦ para 6% em maio.8
O fracasso de Bush no "jogo de conhecimentos gerais"
As gafes mais conhecidas de Bush referem-se ?sua capacidade de nomear somente um dentre quatro l¡¦eres estrangeiros em resposta ao jogo de conhecimentos gerais de um rep¡¦ter em novembro de 1999 e suas freq¡¦ntes confus¡¦s de nomes de povos estrangeiros (como chamar os gregos de "gr¡¦ios"). Esses erros n¡¦ causaram nenhuma queda marcante ou imediata na posição de Bush nas pesquisas. A atenção p¡¦lica ?campanha na ¡¦oca era limitada e o p¡¦lico distingue o conhecimento substantivo de detalhes pol¡¦icos e de julgamento em uma crise. A maneira defensiva da resposta de Bush ao jogo de conhecimentos gerais, entretanto, e a resson¡¦cia com sua confus¡¦ com nomes de povos estrangeiros fez com que a hist¡¦ia fosse comentada por muito tempo e reduzisse a confian¡¦ do p¡¦lico no conhecimento de assuntos externos de Bush. O banco de dados Lexis-Nexis de reportagens em jornais exibe 96 reportagens com as palavras-chave "Bush" e "jogo" na primeira semana ap¡¦ o jogo e 236 reportagens com esses termos at?o final de dezembro de 1999. O mesmo banco de dados exibe 91 artigos mencionando o nome de Bush e a palavra "gr¡¦ios" entre setembro de 1999 e meados de setembro de 2000, continuando at?mesmo no final desse per¡¦do ?raz¡¦ de um a dois artigos por semana. Enquanto isso, a confian¡¦ nas pesquisas de opini¡¦ p¡¦lica sobre se Bush faria um "bom trabalho" em pol¡¦ica externa caiu de 61% em meados de setembro de 1999 para 55% em meados de janeiro de 2000. Uma pesquisa em dezembro de 1999 demonstrou que 58% do p¡¦lico acreditavam que Gore tinha conhecimentos suficientes de assuntos externos para ser um bom presidente, em comparação com apenas 44% que tinham o mesmo pensamento de Bush. Por outro lado, a avaliação do conhecimento de pol¡¦ica econ¡¦ica e educacional dos dois candidatos diferia em apenas 1 a 2%. A grande diferen¡¦ na percepção dos candidatos pelo p¡¦lico com relação ao conhecimento de assuntos externos prosseguiu at?a primavera e o p¡¦lico concedeu a Gore vantagem de 5 a 6% sobre "quest¡¦s de compreens¡¦ complexa" e "possui o conhecimento necess¡¦io para ser presidente".
A mudan¡¦ pol¡¦ica de Gore sobre Elian Gonzalez
A posição de pol¡¦ica externa de Gore sofreu quando ele endossou abruptamente legislação proposta no final de mar¡¦ para conceder status de resid¡¦cia permanente a Elian Gonzalez, um garoto cubano que sobreviveu com dificuldade ap¡¦ uma viagem de balsa para os Estados Unidos, seu pai e parentes. Esta posição colocou Gore em desacordo com ampla maioria do p¡¦lico, que acreditava que Elian deveria reunir-se ao seu pai, que insistia em retornar a Cuba. Mais importante, como a mudan¡¦ pol¡¦ica de Hart sobre a quest¡¦ de Jerusal¡¦ em 1984, a decis¡¦ de Gore levantou suspeitas sobre a possibilidade dele estar cedendo a press¡¦s de um grupo de interesses (neste caso, os cubano-americanos concentrados na Fl¡¦ida). Em conseqüência, uma pesquisa do "USA Today" em 24 de abril demonstrou que 25% aprovavam a condução do caso Elian por Gore, mas 37% desaprovaram as ações de Gore e, entre 30 de mar¡¦ e sete de abril, Gore caiu de 45% para 41% entre os poss¡¦eis eleitores em pesquisas que o opuseram contra Bush.
Ao contr¡¦io das gafes de Bush, entretanto, ?dif¡¦il encontrar nas pesquisas qualquer evid¡¦cia de que a pol¡¦ica de Gore sobre Elian tenha causado danos duradouros ?sua posição com o p¡¦lico. Como Gore ?familiar ao p¡¦lico por um per¡¦do muito mais longo que Bush, sua imagem n¡¦ era t¡¦ exposta a ponto de ser muito afetada por qualquer pol¡¦ica isolada ou erro percebido. Al¡¦ disso, em parte devido ?sua transformação de ser visto principalmente como vice-presidente para ser considerado principalmente candidato ?presid¡¦cia, as avaliações de Gore como l¡¦er forte e independente que coloca os interesses nacionais acima dos pessoais aumentaram significativamente com seu discurso na convenção e permaneceram em n¡¦eis superiores aos da primavera.
Conclus¡¦s
Apesar da pouca import¡¦cia dada pelo p¡¦lico ?pol¡¦ica externa e das reduzidas diferen¡¦s de pol¡¦ica externa entre os partidos Democrata e Republicano desde o final da Guerra Fria, o p¡¦lico leva em conta os valores, a compet¡¦cia e as capacidades de administração de crises dos candidatos ?presid¡¦cia. Neste contexto, as gafes de pol¡¦ica externa podem assumir import¡¦cia desmedida. Algumas gafes n¡¦ t¡¦ necessariamente maior peso que as posições pol¡¦icas ou erros sobre quest¡¦s dom¡¦ticas mas, em uma corrida acirrada como a campanha de 2000, elas podem fazer diferen¡¦ crucial no resultado. Quaisquer erros de pol¡¦ica externa por qualquer dos candidatos em seus debates ou declarações, ou em quaisquer crises antes das eleições, ter?maior import¡¦cia que os erros cometidos anteriormente na campanha, quando o p¡¦lico estava menos atento. At?o momento, a equação da pol¡¦ica externa tem trabalhado em favor de Gore, mas ainda permanece a observar-se se este ser?ainda o caso no dia da eleição.
1. John E. Rielly, ed., American Public Opinion and U.S. Foreign Policy (A opini¡¦ p¡¦lica norte-americana e a Pol¡¦ica Externa dos Estados Unidos) 1999, Conselho de Relações Externas de Chicago, 1999. Os resultados desta pesquisa est¡¦ dispon¡¦eis "on-line" no endere¡¦:
http://www.ccfr.org/publications/opinion
texto 2. Gallup Poll Monthly (Pesquisa mensal do Gallup), janeiro de 2000. Os n¡¦eros de pesquisas subseq¡¦ntes mencionados no presente, a menos que indicados em contr¡¦io, tamb¡¦ s¡¦ das pesquisas mensais do Gallup das datas correspondentes. texto 3. Os "web sites" oficiais das campanhas de Gore e Bush cont¡¦ o texto de cerca de oito a dez discursos sobre pol¡¦ica externa; os que talvez tenham recebido cobertura mais ampla incluem a fala de Bush em 19 de novembro de 1999 e o discurso de Gore em 30 de abril de 2000. texto 4. Melinda Henneberger, "In Reversal of Speech Process, Gore Wrote and His Aides Then Whittled" (No reverso do processo da fala, Gore escreveu e seus auxiliares depois cortaram), The New York Times, 18 de agosto de 2000, p¡¦. 17. texto 5. "The Gallup Poll Monthly", maio de 2000, p¡¦. 11. texto 6. Ibid. texto 7. The Washington Post relatou em 19 de novembro de 1999 que o conselheiro de Bush Dov Zakheim era contra a tomada de ações militares para parar a limpeza ¡¦nica em Kosovo, enquanto Paul Wolfowitz era a favor, o que contribuiu para a indecis¡¦ de Bush sobre o assunto. texto 8. Ronald Brownstein, "Crisis in Kosovo Gives McCain's Presidential Bid a Boost" (A crise em Kosovo d?impulso ?candidatura presidencial de McCain", Los Angeles Times, 22 de abril de 1999, p¡¦. 8; "Gallup Polls", mar¡¦ a maio de 1999. texto
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