Velha Estrat¡¦ia e Novas T¡¦icas Direcionam
a Defesa Ambiental na Internet
Thomas Beierle A Internet tornou-se uma nova esp¡¦ie de ponto de encontro em que os ativistas encontram pessoas com pensamentos similares para promover as suas causas. Os ambientalistas v¡¦ sendo particularmente competentes na utilização do ciberespa¡¦ para proteger a Terra. Enquanto milhares de manifestantes cercavam a cidade de Seattle, Washington, em dezembro de 1999 para condenar as pol¡¦icas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), um editorial do Washington Post afirmava: "Na ¡¦tima vez em que foram iniciadas conversações sobre a liberalização do com¡¦cio, em 1986, no Uruguai, doze organizações n¡¦-governamentais (ONGs) registraram-se para observar o processo. Mas o alcance e a influ¡¦cia das ONGs expandiram-se maravilhosamente desde ent¡¦, como cortesia da Internet". Comentando sobre a mesma s¡¦ie de uma semana de eventos, o colunista Sebastian Mallaby tamb¡¦ argumentou no Washington Post que "a Internet forneceu a esses grupos poder demais que viabiliza sua completa exclus¡¦". Quando a Internet ganhou essa influ¡¦cia? De que forma uma tecnologia dispon¡¦el em larga escala somente nos ¡¦timos cinco anos pode ser proclamada como fundamento de uma das mais dram¡¦icas exibições de mobilização popular nos Estados Unidos nos ¡¦timos anos? Da mesma forma que a Internet est¡¦transformando muitos aspectos da sociedade, ela est¡¦mudando a forma como as ONGs se organizam e reivindicam. Embora a estrat¡¦ia b¡¦ica de reivindicação n¡¦ tenha se modificado com a Internet, as t¡¦icas se modificaram. Os grupos de defesa ainda tentam influenciar a pol¡¦ica fazendo argumentos persuasivos aos tomadores de decis¡¦s, demonstram amplo apoio atrav¡¦ da mobilização popular e estabelecem coaliz¡¦s com grupos de pensamento similar. Mas a Internet introduziu diversas novas t¡¦nicas de influ¡¦cia e mobilização e, ao faz¡¦lo, pode estar mudando a pr¡¦ria natureza das ONGs. O impacto da Internet ¡¦conseqüências das suas exclusivas funções tecnol¡¦icas. Ao contr¡¦io do r¡¦io ou da televis¡¦, a Internet permite interatividade sincronizada entre muitas pessoas, em uma rede distribu¡¦a e descentralizada. N¡¦ h¡¦barreiras geogr¡¦icas, nem intermedi¡¦ios. O custo marginal de envio de uma mensagem ¡¦praticamente zero. As mensagens podem ser transmitidas amplamente ou, utilizando a capacidade de personalização da Internet, restringidas a uma audi¡¦cia espec¡¦ica. Todas essas funções significam que a Internet possui capacidade sem precedentes de conex¡¦ a grande velocidade de comunidades de interesse em todo o mundo. As ONGs ambientais v¡¦ sendo r¡¦idas para utilizar a capacidade de formação de redes da Internet para criar essas comunidades e estimul¡¦las para ação coletiva. A t¡¦nica de reivindicação repousa sobre quatro elementos estrat¡¦icos: comunicação, argumentação eficaz, mobilização p¡¦lica e estabelecimento de coaliz¡¦s. A Internet traz novas tecnologias a cada um desses esfor¡¦s. Novas ferramentas de comunicação com os elaboradores pol¡¦icos s¡¦ talvez o impacto mais ¡¦vio da revolução da Internet mas, de algumas formas, os menos interessantes. Petições, cartas, mensagens por fax, ligações telef¡¦icas e visitas a escrit¡¦ios s¡¦ as t¡¦nicas verdadeiras e experimentadas de atingir os legisladores, autoridades do executivo e outros tomadores de decis¡¦s. A mensagem por correio eletr¡¦ico ¡¦outra dessas ferramentas. Simplesmente como meio de condução de uma mensagem, entretanto, os e-mails s¡¦ um pouco diferentes de cartas ou mensagens por fax. Na verdade, a falta de identificadores geogr¡¦icos da Internet pode realmente enfraquecer o impacto dos e-mails, j¡¦que os legisladores podem n¡¦ ser capazes de determinar se um e-mail vem de um eleitor no seu distrito ou n¡¦. O impacto da Internet sobre o conte¡¦o da comunicação ¡¦mais significativo. A explos¡¦ das informações dispon¡¦eis na Internet, bem como maior acesso a ferramentas de an¡¦ise, d¡¦¡¦ ONGs o poder decorrente do argumento forte e bem informado. A Internet oferece ao p¡¦lico acesso sem precedentes a dados instant¡¦eos, localizados e especializados sobre problemas ambientais. Cada vez mais o p¡¦lico possui tamb¡¦ ferramentas sofisticadas para interpretação e an¡¦ise de dados. Redes de usu¡¦ios estabelecem sua for¡¦ utilizando essas ferramentas poderosas e compartilhando suas informações e experi¡¦cias com aliados, de forma a dar aos seus argumentos maior pot¡¦cia e circulação mais ampla. Independentemente da for¡¦ da mensagem de um grupo, a influ¡¦cia final depende da capacidade de mobilização do p¡¦lico para agir sobre aquela mensagem. A Internet oferece novas e inovadoras t¡¦icas, utilizando as mesmas t¡¦nicas de direcionamento aos consumidores que os Web sites de com¡¦cio eletr¡¦ico. As campanhas de reivindicações on line direcionam alertas sobre quest¡¦s a cidad¡¦s mais provavelmente simpatizantes pela causa. O prop¡¦ito n¡¦ ¡¦apenas o de mobilizar o p¡¦lico, mas de estabelecer parcerias e desenvolver uma rede de ativistas prontos para atuar a curto prazo. A campanha das Florestas da Heran¡¦ Norte-Americana, por exemplo, que busca restringir a construção de estradas nas florestas nacionais, recentemente levou os funcion¡¦ios da Casa Branca ao limite com 170.000 e-mails gerados por uma campanha dirigida a pessoas com afinidade para atividades de campo. A campanha utilizou os servi¡¦s do Juno, um provedor de servi¡¦s on line que coleta informações sobre perfis pessoais sobre seus 13 milh¡¦s de assinantes em troca de e-mail gratuito e depois utiliza os dados para direcionar avisos e campanhas espec¡¦icas. O direcionamento on line parece permitir que grupos ambientais atinjam audi¡¦cias totalmente novas. No caso de Florestas da Heran¡¦ Norte-Americana, por exemplo, a maior parte das pessoas que agiram ainda n¡¦ havia se afiliado a nenhum grupo ambiental. Cada participante foi adicionado ao banco de dados da rede de reivindicação da campanha para r¡¦ida ação em quest¡¦s futuras. T¡¦icas similares de identificação de grupos de afinidade podem tamb¡¦ ser utilizadas para levantamento de fundos, uma atividade facilitada pelo advento de conex¡¦s seguras para a transmiss¡¦ de informações financeiras. Al¡¦ de mobilizar o p¡¦lico, a Internet ¡¦uma ferramenta poderosa para a criação de coaliz¡¦s estrat¡¦icas. Os protestos contra a OIT em Seattle, por exemplo, envolveram a inusitada coaliz¡¦ entre a Igreja Metodista Unida, a ONG ambiental Amigos da Terra, a uni¡¦ sindical Teamsters e o Sindicato dos Metal¡¦gicos. Muitos dos grupos envolvidos nos protestos contra a OIT em Seattle em 1999 utilizaram t¡¦icas de organização on line similares para impedir as negociações da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econ¡¦ico (OCDE) sobre o Acordo Multilateral de Investimento (MAI) em 1998. A oposição ao MAI envolveu 600 grupos em 70 pa¡¦es. Uma pessoa envolvida na oposição relatou o poder da Internet na coordenação em todo o mundo: "Se um negociador afirma alguma coisa a algu¡¦ ao beber um copo de vinho, teremos a afirmação na Internet em uma hora, em todo o mundo... Se soubermos de algo que seja sens¡¦el para um governo, repassamos instantaneamente aos nossos aliados naquele pa¡¦. N¡¦ acho que os governos algum dia sejam capazes de fazer novamente essa esp¡¦ie de negociações secretas de com¡¦cio". ¡¦medida que a Internet introduz novas t¡¦icas para que os grupos de defesa comuniquem-se, argumentem, mobilizem-se e coordenem-se, ela tamb¡¦ est¡¦mudando a pr¡¦ria natureza das ONGs. ¡¦medida que mais atividades passam a ser on line, reduz-se a necessidade de pessoal e membros off-line. Com uma campanha eficaz de reivindicação on line, at¡¦mesmo pequenos grupos de interesse p¡¦lico podem ter grande impacto. De fato, a Internet criou a possibilidade de exist¡¦cia de grupos de defesa quase inteiramente no ciberespa¡¦. Enquanto no passado os grupos precisavam arregimentar membros e depois mobiliz¡¦los, as campanhas via Internet reduzem o espa¡¦ entre o recrutamento e a mobilização. A capacidade de conduzir campanhas de reivindicação com or¡¦mentos m¡¦imos j¡¦amea¡¦u algumas ONGs ambientais nacionais, ¡¦medida que seções regionais e locais necessitam depender cada vez menos de sedes para a obtenção de membros e recursos. Da mesma forma que algumas ONGs podem ser organizações virtuais, suas composições podem tamb¡¦ ser virtuais. Os analistas inventaram o termo "astroturfe" para designar o ativismo on line em ocasi¡¦ isolada com amplo apoio e participação popular. Embora os grupos de defesa tenham encontrado pessoas bastante dispostas a engajar-se em ações ¡¦icas, eles encontraram maior desafio na manutenção de interesse e atividade a longo prazo. De fato, a percepção de que a maior parte do ativismo on line ¡¦ na verdade, astroturfe, gerou algumas estrat¡¦ias criativas para mascarar as origens on line das comunicações. Em vez de enviar e-mails, o clique de um ¡¦one em alguns Web sites de reivindicação gera cartas ou mensagens por fax personalizadas, ou mesmo inicia uma ligação telef¡¦ica entre o usu¡¦io do computador e um escrit¡¦io do Congresso. As proclamações sobre a capacidade da Internet em apoiar o poder das ONGs poderiam ser interpretadas de diferentes formas. A Internet pode estar ajudando a introduzir uma nova era de democracia direta e forte engajamento c¡¦ico em que a tecnologia exclusiva da Internet supera as barreiras reconhecidas h¡¦tanto tempo para identificar, organizar e expressar leg¡¦imos interesses p¡¦licos. Em um cen¡¦io pessimista, entretanto, a mudan¡¦ on line pode estar colocando ferramentas extremamente poderosas nas m¡¦s de grupos que n¡¦ s¡¦ representativos, nem respons¡¦eis por nenhuma real participação popular e cujas campanhas respondem a caprichos p¡¦licos ef¡¦eros e passageiros. ¡¦muito cedo para afirmar qual cen¡¦io dominar¡¦o futuro do ativismo on line. Tudo o que sabemos ¡¦que a Internet continuar¡¦a mudar as regras do jogo para defensores ambientais e tomadores de decis¡¦s por algum tempo. ----------
Thomas Beierle est¡¦engajado em an¡¦ises dos acontecimentos sobre o papel do envolvimento p¡¦lico na tomada de decis¡¦s ambientais em Recursos para o Futuro (http://www.rff.org), uma organização apartid¡¦ia e sem fins lucrativos que conduz pesquisas sobre quest¡¦s de recursos naturais e ambientais.
In¡¦io do artigo | Quest¡¦s Globais, novembro de 2000
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