O NASCIMENTO
DE UMA VELHA GERAÇÃO

Theodore Roszak


Meu jornal da manh?traz uma not¡¦ia cultural curiosa. As redes de televis¡¦ fizeram suas pesquisas anuais de audi¡¦cia para determinar a renda com a publicidade na pr¡¦ima temporada. Os vencedores s¡¦ as duas redes que obtiveram mais sucesso na tarefa de atrair a faixa et¡¦ia de 18 a 49 anos de idade, a qual, segundo a imprensa, ?considerada a mais valiosa pelo pessoal da ¡¦ea de publicidade.

Mais de 30 anos atr¡¦, o mercado americano, pela primeira vez, descobriu a "demografia jovem." Os turbulentos filhos da explos¡¦ populacional, que pareciam, naquela ¡¦oca, ter descoberto o segredo da eterna juventude, j?est¡¦, h?muito tempo, na problem¡¦ica meia-idade, ¡¦oca em que todos precisam fazer concess¡¦s, de uma forma ou de outra. No entanto, os anunciantes e a m¡¦ia -- assim como os pol¡¦icos e as pessoas respons¡¦eis pela elaboração de pol¡¦icas diversas -- continuam obcecados com a juventude e parecem ignorar as necessidades e as opini¡¦s dos americanos de idade mais avan¡¦da. Um redator publicit¡¦io relativamente idoso lamentou, em uma edição especial da New York Times Magazine a respeito desse crescimento do n¡¦ero de pessoas idosas, que "para os anunciantes, a juventude ?excitação e "glamour"....Isso remonta a uma daquelas normas t¡¦itas do marketing: n¡¦ fa¡¦ nada dirigido aos consumidores com 50 anos ou mais, porque eles est¡¦ fora de alcance."

No seu livro The Conquest of Cool, de 1997, sobre "cultura empresarial, contracultura e o advento do consumismo 'da moda,' " Thomas Frank argumenta que a preocupação com a juventude que surgiu na d¡¦ada de 60 nunca vai desaparecer. "A juventude sempre vence," ele escreve. "O novo substitui naturalmente o velho...Com certeza teremos novas gerações de rebeldia da juventude, da mesma forma que teremos novas gerações de escapamentos de carros, ou de dentifr¡¦io, ou de cal¡¦dos." Se Frank estiver certo, o setor empresarial dos Estados Unidos, assim como os seus meios de comunicação, est?em guerra com o Escrit¡¦io de Recenseamento dos Estados Unidos. Isso tamb¡¦ se aplica aos pol¡¦icos que ignoram os idosos. Todos esses setores est¡¦ ignorando o principal fato demogr¡¦ico do s¡¦ulo XXI: os jovens s¡¦ uma esp¡¦ie em extinção. O futuro est?nas m¡¦s dos velhos.

OLHANDO PARA O FUTURO:
A PERSPECTIVA DE UM FILHO DA EXPLOS¡¦ POPULACIONAL

Trechos de uma Segmentation Analysis [An¡¦ise de Segmentação] da American Association of Retired Persons [Sociedade Americana de Aposentados]

A geração da explos¡¦ populacional ?a componente da população dos Estados Unidos nascida entre 1946 e 1964, no per¡¦do posterior ?Segunda Guerra Mundial. Por muitas d¡¦adas, essa geração vem atraindo a atenção dos dem¡¦rafos, pol¡¦icos, especialistas em marketing e cientistas sociais, com a passagem dos anos - desde o per¡¦do de prosperidade da d¡¦ada de 50 at?a contra-cultura da d¡¦ada de 60, e depois, a ¡¦oca das fam¡¦ias com dois sal¡¦ios e a geração egoc¡¦trica das d¡¦adas de 70 e 80, at?a d¡¦ada atual.

Atualmente os filhos mais velhos da explos¡¦ populacional est¡¦ na faixa dos 50 anos, e portanto, est¡¦ se aproximando ¡¦oca de se aposentar. Na verdade, alguns deles j?se aposentaram. Muitos o far¡¦ bem antes do ano 2010.

Uma pesquisa recente, realizada pela American Association of Retired Persons (AARP) [Sociedade Americana de Aposentados], acumulando informações reunidas por meio de grupos de pesquisa, por um grande n¡¦ero de entrevistas por telefone, e por outros meios de se fazer pesquisas de opini¡¦ p¡¦lica, apresentou um panorama das expectativas dos filhos da explos¡¦ populacional sob alguns aspectos. A pesquisa revelou o seguinte:

    Oito em cada dez deles t¡¦ planos de trabalhar pelo menos em regime de meio expediente ap¡¦ a aposentadoria. Somente 16 por cento dizem que n¡¦ pretendem trabalha.

    Seis em cada dez t¡¦ confian¡¦ na sua pr¡¦ria capacidade de se preparar adequadamente para o futuro. Somente 23 por cento acreditam que ter¡¦ dificuldades financeiras.

    Somente dois em cada dez apresentam uma atitude do tipo "o futuro se resolver?por seus pr¡¦rios meios", e somente nove por cento acreditam na depend¡¦cia da pr¡¦ria fam¡¦ia para a obtenção de assist¡¦cia ap¡¦ a aposentadoria.

    Dois ter¡¦s est¡¦ satisfeitos com a quantidade de dinheiro que est¡¦ depositando atualmente no banco, para a sua aposentadoria. Menos da metade (48 por cento) est¡¦ contando com a Seguridade Social [Social Security] como fonte de renda para aposentadoria, e desses, somente 15 por cento espera contar com essa instituição para a maior parte ou para a totalidade das suas necessidades, ap¡¦ a aposentadoria.

    Quase a metade dos entrevistados (49 por cento) esperam dedicar mais tempo ao servi¡¦ comunit¡¦io ou ?pratica do trabalho volunt¡¦io ap¡¦ a aposentadoria.

    Mais de sete em cada 10 (73 por cento) t¡¦ planos de ter um hobby ou algum interesse especial ao qual dever¡¦ dedicar uma parte consider¡¦el do seu tempo quando estiverem aposentados.

    Mais de oito em cada dez (81 por cento) dos que dizem ter pensado seriamente em se aposentar dizem que se sentem otimistas no que se refere ao per¡¦do p¡¦-aposentadoria.


Embora os jovens ainda representem um mercado, eles est¡¦ fadados a ter suas fileiras, assim como o seu poder de compra, inexoravelmente reduzidos. Os Estados Unidos v¡¦m envelhecendo coletivamente desde 1800. Na ¡¦oca de Thomas Jefferson, metade da população branca se encontrava abaixo dos 16 anos de idade, uma taxa de idosos em relação a jovens que nunca mais ocorreu no pa¡¦. No decorrer do s¡¦ulo XIX, apesar do vaiv¡¦ demogr¡¦ico causado pela ondas de imigrantes e epidemias mortais, a expectativa de vida aumentou e a sociedade se tornou cada vez mais idosa. Entre 1930 e 1940, foram realizadas confer¡¦cias para tentar encontrar soluções para os problemas causados por uma crescente população de indiv¡¦uos idosos. Atualmente, os americanos com mais de 50 anos de idade formam o segmento da sociedade que cresce mais rapidamente.

A grande exceção ao aumento, a longo prazo, da idade da sociedade dos Estados Unidos, foi a explos¡¦ populacional que ocorreu entre 1946 e 1964. Nesses anos, o n¡¦ero de nascimentos nos Estados Unidos cresceu de maneira significativa, tendo chegado a 3,7 filhos por fam¡¦ia. Menos de uma d¡¦ada depois, como se uma onda de cansa¡¦ se abatesse sobre a população, a fertilidade total entre as mulheres nos Estados Unidos sofreu uma diminuição, chegando a um n¡¦ero baixo recorde em 1976 - 1,7 nascimentos por fam¡¦ia - bem abaixo da taxa necess¡¦ia para repor a população. Desde ent¡¦, a exemplo da maior parte das sociedades industrializadas, a taxa de natalidade continua em uma trajet¡¦ia descendente. O fato de a nossa taxa geral de crescimento populacional ter se mantido em torno do n¡¦ero necess¡¦io para a reposição se deve, cada vez mais, ?imigração.

Em todos os lugares, nas sociedades industrializadas, as pessoas est¡¦ se casando mais tarde (isto ?quando se casam); elas est¡¦ demorando mais tempo para terem filhos, e quando o fazem, a prole ?menos numerosa. Como at?mesmo os alarmistas da explos¡¦ populacional agora est¡¦ admitindo, o decl¡¦io na procriação est?inegavelmente associado ao que o mundo moderno chama de progresso. As mulheres, particularmente, consideram a falta de filhos, ou o fato de terem filhos quando mais velhas, uma experi¡¦cia liberalizante; essa situação lhes d?a oportunidade de dedicar mais tempo das suas vidas ao investimento em suas carreiras, ¡¦ viagens e aos estudos. Os pr¡¦rios filhos da explos¡¦ populacional do pa¡¦ estabeleceram esse padr¡¦ de reprodução. Em meados da d¡¦ada de 70, quando o movimento pela liberação das mulheres atingiu o seu apogeu, o n¡¦ero de mulheres, na faixa dos 20 aos 30 anos, sem filhos, duplicou; na d¡¦ada seguinte, o n¡¦ero de nascimentos de filhos de mulheres entre as idades de 30 e 35 anos triplicou. A maior parte dessas m¡¦s mais velhas trabalhavam e tiveram menos filhos, freq¡¦ntemente apenas um.

Mas os americanos mais velhos n¡¦ sobrepujam os mais novos apenas no que diz respeito aos n¡¦eros. Sua participação na riqueza nacional excede, e muito, a participação dos seus filhos e netos -- um fato que pode ser muito interessante para os profissionais de marketing que dirigem suas atenções, t¡¦ ansiosamente, a um p¡¦lico-alvo mais jovem. O quarto da população dos Estados Unidos que ter?mais de 50 anos de idade no in¡¦io do s¡¦ulo XXI tem uma renda pessoal anual de quase um trilh¡¦ de d¡¦ares. Esses americanos mais velhos controlam a metade da renda dispon¡¦el do pa¡¦, 75 por cento do seu ativo fixo (mais de 8 trilh¡¦s), e 80 por cento das suas contas de poupan¡¦.

IDOSOS: UM RECURSO VITAL

James Scheibel

O envelhecimento da população dos Estados Unidos poderia ser um grande desafio, se os idosos fossem um peso para a sociedade, e se eles desviassem recursos dos americanos mais jovens. Essa ?a imagem, que, em algumas ocasi¡¦s, se pretendeu atribuir aos idosos. Na verdade, o envelhecimento da nação est?dando uma excelente oportunidade ao grupo de aposentados mais saud¡¦eis e com o mais alto n¡¦el de escolaridade da hist¡¦ia dos Estados Unidos de nos ajudar a lidar com os desafios da sociedade atual do pa¡¦.

O n¡¦ero de pessoas de mais de 65 anos nos Estados Unidos dobrou nas ¡¦timas quatro d¡¦adas, e dever?dobrar novamente at?o ano 2030. Os aposentados de hoje est¡¦ descobrindo que, ap¡¦ deixar o mercado de trabalho, eles agora t¡¦ tempo, energia e vontade para se dedicarem ao trabalho volunt¡¦io para o qual eles tinham pouco tempo quando estavam trabalhando. Eles est¡¦ se filiando a organizações como o Corpo Nacional de Servi¡¦s de Idosos [National Senior Service Corps], uma rede de mais de meio milh¡¦ de idosos.

No Corpo, que faz parte da Corporação de Servi¡¦ Nacional [Corporation for National Service], 24.000 av¡¦ adotivos passam 20 horas por semana em pris¡¦s, albergues, instituições de apoio aos enores carentes, salas de aula, abrigos para os sem-teto e outras instituições, ajudando os jovens que sofreram as conseqüências os maus tratos e do abandono, e cuidando de beb¡¦ prematuros e crian¡¦s deficientes. Aproximadamente 13.000 "companheiros mais velhos" ajudam outros idosos que residem em unidades de vida independente. E ainda h?outros volunt¡¦ios idosos que d¡¦ aulas de refor¡¦ para jovens estudantes, constr¡¦m casas, patrulham bairros e entregam refeições ¡¦ pessoas que est¡¦ impossibilitadas de sair das suas casas - geralmente enfermos ou portadores de defici¡¦cias. Al¡¦ disso, os homens e mulheres de mais de 55 anos est¡¦, cada vez mais, colocando as suas habilidades, talentos, interesses e criatividade ?disposição de entidades locais sem fins lucrativos, entidades assistenciais e programas empresariais de trabalho volunt¡¦io. Eles est¡¦ empregando suas habilidades em atividades que variam desde a educação e cuidados com a sa¡¦e at?a seguran¡¦ p¡¦lica e o meio ambiente. Os idosos parecem se prestar muito bem para lidar com os problemas das crian¡¦s e dos jovens. Por exemplo, os cinco projetos de demonstração do Corpo de Experi¡¦cia [Experience Corps] da Corporação de Servi¡¦ Nacional est¡¦ se valendo dos volunt¡¦ios idosos n¡¦ apenas para dar aulas individuais de refor¡¦ nas salas de aula, mas tamb¡¦ para dar in¡¦io a programas de atividades ap¡¦ o hor¡¦io das aulas, recrutar pais para se filiarem ¡¦ associações de pais e mestres e para trazer novos recursos da comunidade para as escolas.

?medida que um n¡¦ero cada vez maior de idosos e aposentados procuram se envolver com os servi¡¦s comunit¡¦ios, o desafio aos encarregados de criar pol¡¦icas ?a criação de mais oportunidades para que os idosos prestem servi¡¦s - tanto em regime de meio expediente quanto de hor¡¦io integral. O aproveitamento do potencial dos 50 milh¡¦s de idosos dos Estados Unidos poderia ajudar muito na construção de uma sociedade melhor para todos os americanos. O renomado psic¡¦ogo Erik Erikson, disse, certa vez, que o desafio final da vida ?aceitar a id¡¦a de que "Eu sou a parte de mim que sobrevive." Se ele estiver certo, o trabalho volunt¡¦io - em especial o tipo de prestação de servi¡¦s que exerce influ¡¦cia sobre os jovens - ?essencial para que a pessoa possa ter uma velhice proveitosa e ben¡¦ica.

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James Scheibel ?vice-presidente da Corporação de Servi¡¦ Nacional [Corporation for National Service] em Washington, D.C.


Com uma longa expectativa de vida ?sua frente, a geração da explos¡¦ populacional se tornar?mais rica ?medida que envelhece. Os filhos da explos¡¦ populacional herdar¡¦ cerca de 10,7 trilh¡¦s dos seus pais. Segundo as estimativas da Administração de Seguridade Social [Social Security Administration], gra¡¦s ¡¦ economias pessoais, ao servi¡¦ de assist¡¦cia m¡¦ica [Medicare], ao fato de possu¡¦em as casas em que moram, e ao fato de terem incentivos fiscais, os americanos com mais de 65 anos de idade possuem, atualmente, a maior renda dispon¡¦el da nação -- mais de duas vezes maior do que a das pessoas na faixa dos 25 aos 34 anos. Somente entre as mulheres p¡¦-menopausa, existe o que a colunista Ellen Goodman chama de "um sonho dos profissionais de marketing" -- 50 milh¡¦s de mulheres bem informadas, que compram livros e que consomem cultura, sendo que muitas delas s¡¦ as primeiras benefici¡¦ias da terapia de reposição hormonal que as manter?vivas e ativas, e talvez at?ganhando dinheiro, at?uma idade bastante avan¡¦da.

"Sempre haver?um mercado jovem," observa Cheryl Russel, colaboradora de "American Demographics", "mas esse mercado nem sempre ser?t¡¦ poderoso em relação aos outros mercados. No futuro, as empresas americanas ter¡¦ que aprender a amar as pessoas de meia-idade."

Uma mudan¡¦ demogr¡¦ica t¡¦ dram¡¦ica n¡¦ pode deixar de estar ligada a maiores mudan¡¦s pol¡¦icas que podem acontecer. ?medida que o centro de gravidade financeiro e pol¡¦ico da sociedade americana se move continuamente em direção ?geração mais velha, os valores que se firmam entre os americanos mais velhos se tornam cada vez mais importantes. Os idosos n¡¦ s¡¦ apenas os donos dos bens materiais nos Estados Unidos; eles tamb¡¦ s¡¦ os eleitores mais conscientes do pa¡¦. Conquistar a sua lealdade pode ser o maior objetivo pol¡¦ico do pr¡¦imo s¡¦ulo.

Os estudos do comportamento dos eleitores indicam que os eleitores mais velhos n¡¦ t¡¦ nenhuma orientação pol¡¦ica previs¡¦el sobre qualquer assunto -- com exceção de amea¡¦s evidentes aos benef¡¦ios aos quais t¡¦ direito. Por mais conservadores que possam ser a respeito de muitas quest¡¦s, os idosos s¡¦ a ¡¦cora do estado do bem-estar social, e essa ¡¦cora est?ficado mais pesada a cada ano que passa. Essa tend¡¦cia inexor¡¦el ?o motivo da urg¡¦cia com que est¡¦ sendo feitas campanhas para cortar ou privatizar programas assistenciais como a assist¡¦cia m¡¦ica (Medicare) e a seguridade social (Social Security). Por exemplo, o Projeto Paul Tsongas [Paul Tsongas Project], um ramo da Coaliz¡¦ Concord [Concord Coalition] que tem uma postura conservativa no que diz respeito ¡¦ quest¡¦s fiscais, tem realizado sess¡¦s p¡¦licas de discuss¡¦ sobre a "responsabilidade quanto ¡¦ gerações", e tem anunciado na sua literatura que "antes que a explos¡¦ populacional se transforme na explos¡¦ dos velhos, nossas lideran¡¦s pol¡¦icas est¡¦ tendo uma oportunidade" de reformar a pol¡¦ica assistencial. Os integrantes do projeto acreditam que os benef¡¦ios "logo estar¡¦ consumindo todas as verbas federais."

Isso parece alarmante, mas quando ?"logo"? Se n¡¦ fiz¡¦semos nada para reestruturar a Seguridade Social entre agora e 2032, o sistema ainda seria capaz de pagar 75 por cento do que deve. Mesmo na pior das hip¡¦eses, n¡¦ h?uma emerg¡¦cia muito convincente. Mas ?claro que a sociedade americana n¡¦ vai ficar parada sem fazer "nada" a respeito da Seguridade Social. Como a Administração da Seguridade Social deixou claro, uma s¡¦ie de ajustes modestos e graduais de custeio e cobertura - nenhum dos quais requer privatização - manter?o programa economicamente vi¡¦el no pr¡¦imo s¡¦ulo.

Outros inimigos dos benef¡¦ios expressaram suas cr¡¦icas de forma mais veemente. Peter G. Peterson, presidente e fundador da Concord Coalition, alerta que o programa Medicare em breve ter?que tomar uma atitude: ter?que usar o "R" de racionamento. Ele pode acreditar, como declarou, que est?defendendo os interesses dos "nossos filhos" -- mas ser?instrutivo observar quantos desses filhos estar¡¦ dispostos a fazer uma contribuição em dinheiro, quando o administrador de uma empresa prestadora de servi¡¦s m¡¦icos, com fins lucrativos, lhes disser que ser?economicamente invi¡¦el, para a empresa, prolongar a vida dos seus pais, quando estes estiverem doentes.

No passado, a função dos sindicatos dos trabalhadores era assegurar que a riqueza da nação fosse distribu¡¦a de maneira equitativa. Nos anos vindouros, talvez tenhamos que contar com o poder dos nossos av¡¦ como a ¡¦ica entidade com for¡¦ e benevol¡¦cia suficiente para por um freio na comunidade empresarial americana e na expans¡¦ da globalização. Se um ato de rebeldia desse tipo parece ser muita coisa para se esperar dos mais velhos, devemos nos lembrar de que os filhos da explos¡¦ populacional s¡¦ uma geração que sempre esperou muito de si mesma. Os idosos do futuro n¡¦ podem ser julgados pelos idosos do presente; quando os filhos da explos¡¦ populacional entrarem para a categoria dos idosos, podemos esperar um comportamento pol¡¦ico muito diferente.

A pr¡¦ima geração de idosos nos Estados Unidos ser?a geração que ter?o mais alto grau de escolaridade, ser?a mais viajada, ter?o melhor treinamento profissional, ser?a mais astuta, politicamente falando, e a mais criativa, culturalmente, que este pa¡¦ j?criou. E os elementos dessa geração tem uma formid¡¦el heran¡¦ cultural. Eles conquistaram um espa¡¦ nos livros de hist¡¦ia como rebeldes que cerraram suas fileiras em defesa de muitas causas nobres: os direitos civis, o desarmamento nuclear, a liberdade sexual, a defesa dos direitos do consumidor, a sa¡¦e ambiental e a liberação das mulheres, dos homossexuais e das minorias. Desde os tempos de figuras politicamente independentes como Robert LaFollette e o presidente Theodore Roosevelt, no in¡¦io do s¡¦ulo, nenhuma geração desafiou a estrutura de poder, levantando quest¡¦s desafiadoras a respeito do uso ¡¦ico da riqueza e do poder.

A juventude ?uma ¡¦oca em que se assume posturas morais elevadas; a idade avan¡¦da ?outra. ?verdade que a geração jovem e contestadora da d¡¦ada de 60 chegou a uma condição adulta que cobrou um tributo do seu idealismo. Mas com o tempo, os adultos envelhecem mais ainda e finalmente se aposentam, ficando em uma situação que chega a ser parecida com a liberdade dos tempos de estudante.

Uma pessoa que reconheceu esse fato bem cedo, na d¡¦ada de 60, ?Maggie Kuhn, fudadora da Grey Panthers, uma organização educacional e de defesa de id¡¦as que envolve v¡¦ias gerações, e que trabalha em prol da justi¡¦ social e econ¡¦ica. A organização trata de quest¡¦s como a assist¡¦cia m¡¦ica em ¡¦bito nacional, empregos, seguridade social, habitação, meio ambiente sustent¡¦el, educação e paz. "Os velhos," diz ela, "tendo o benef¡¦io da experi¡¦cia da vida, o tempo para fazer coisas, e muito pouco a perder se expondo, estavam na situação ideal para agirem como defensores do bem p¡¦lico em geral."

Foi um erro considerar os estudantes universit¡¦ios da d¡¦ada de 60 membros convencionais da classe m¡¦ia. Pode ser igualmente tolo assumir que a pr¡¦ima geração de idosos simplesmente desaparecer? tornando-se politicamente inexpressiva, assim como ocorreu com os seus pais quando eles eram menos numerosos e a palavra "velho" era, invariavelmente, relacionada ?palavra "pobre". "Estar aposentado", Kuhn observou, "?como ser rico. Ningu¡¦ pode demit?lo."

Se procurarem em seu repert¡¦io ¡¦ico, os filhos da explos¡¦ populacional facilmente encontrar¡¦ muitas alternativas de contracultura em que poder¡¦ se basear para dar forma ?revolução da longevidade. Eles cresceram com o tipo de desejos ut¡¦icos que cr¡¦icos sociais como Paul Goodman consideravam o in¡¦io das mudan¡¦s pol¡¦icas significativas. Da primeira vez, aqueles que sonharam em alternativas para o status quo podem ter sido imaturos; eles precisavam do benef¡¦io do amadurecimento. E isso ?o que eles ganharam na passagem dos anos 60 para os anos 90. Agora eles formam a geração mais velha, e j?n¡¦ podem mais ser considerados crian¡¦s mimadas. A aposentadoria lhes d?o tempo -- e os benef¡¦ios sociais lhes d¡¦ a oportunidade -- de voltar ?paix¡¦ moral que, no passado, os caracterizou como uma geração extraordin¡¦ia.

Atualmente o estere¡¦ipo de desenho animado do americano idoso ?aquele do parasita moribundo se arrastando em um campo de golfe. Essa imagem est?muito longe da realidade dos nossos idosos de hoje, que est¡¦ expandindo o setor de voluntariado da economia, tornando-se cada vez mais politicamente engajados, e demonstrando um grande interesse em se manter em dia com a modernidade, tornando-se h¡¦eis usu¡¦ios de computadores. Como todos os conselheiros de aposentadoria sabem, na idade avan¡¦da as pessoas levam o significado da vida a s¡¦io e procuram se dedicar a quest¡¦s que tenham uma import¡¦cia duradoura. A pr¡¦ima geração de idosos pode descobrir tal significado no trabalho que deixou inacabado h?muitos anos.

O poeta William Wordsworth, que chegou ?idade adulta na ¡¦oca da Revolução Francesa, escreveu o seguinte a respeito dos jovens que viveram naqueles tempos turbulentos: "Era uma felicidade estar vivo naquela alvorada/E ser jovem era estar no c¡¦!" Seria extraordin¡¦io, de fato, se o verdadeiro destino da disc¡¦dia radical do nosso tempo n¡¦ estivesse na alvorada dessa geração em particular, e sim nos seus anos outonais, ainda ?espera da realização.

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Theodore Roszak ?professor de hist¡¦ia na Universidade Estadual da Calif¡¦nia, em Hayward [California State University, Hayward]. Ele ?o autor de America the Wise: The Longevity Revolution and the True Wealth of Nations (Houghton Mifflin Company, 1998), e de The Making of a Counterculture: Reflections on the Technocratic Society and Its Youthful Opposition (University of California Press, 1995).

Este artigo foi publicado anteriormante na edição de Outubro/Novembro de 1998 de Civilization. Sua reprodução foi autorizada.

Sociedade e Valores dos EUA
Revista Eletr¡¦ica da USIA, Vol. 4, N?2, Junho de 1999