REFLEX・S SOBRE A FAM・IAConversa com Douglas Besharov
Douglas Besharov, acad・ico residente do Instituto Empresarial Norte-americano para Pesquisas de Pol・ica P・lica, em Washington, D. C., e Professor da Faculdade de Quest・s P・licas da Universidade de Maryland, dedicou muita de sua aten艫o a aspectos da vida familiar e das necessidades das fam・ias, ?medida que evolu・am ao longo dos anos. Diretor do Projeto de Responsabilidade Social e Individual da AEI, ele ?autor de diversos livros sobre crian・s, educa艫o e os pobres. No momento, ele est?trabalhando no seu pr・imo livro, America's Families: Trends, Explanations and Choices (Fam・ias Norte-americanas: Tend・cias, Explica苺es e Escolhas), que ?o tema da conversa a seguir.
P: Quais s・ as condi苺es das fam・ias nos Estados Unidos, tomadas como um todo, de acordo com suas descobertas at?o momento? R: Acho que a fam・ia norte-americana est?no limiar do que podemos chamar de mudan・ s・mica. De um lado, as pessoas observam as mudan・s que est・ acontecendo, que refletem as cat・trofes e a convuls・ social. Outros observam licenciosidade. Eu vejo um processo mais progressista e evolucion・io, ocasionado por uma combina艫o de melhores condi苺es de vida, individualidade e mobilidade. O casamento tradicional, acredito, est?sendo remodelado. Mas as atitudes tradicionais sobre a import・cia da fam・ia (e somente em grau menor do casamento) resistem. Acho que a raz・ do grau um pouco menor de rela艫o com o casamento ?que o casamento ?menos importante na Am・ica contempor・ea, e isso ir?prosseguir ao longo do tempo. P: Como o sr. observou, existem pontos de vista contr・ios; alguns observam a fam・ia em termos mais otimistas e outros, muito mais sombrios. R: N・ acho que os dados ap・em a no艫o de que a fam・ia est?mais forte do que nunca. Ela est?claramente sofrendo algumas mudan・s. N・ se pode ter tr・ d・adas e meia de altos ・dices de div・cio (como temos) e cinco d・adas de cada vez mais nascimentos fora do casamento e n・ observar nenhuma mudan・. A mudan・ est?em toda parte. A ・ica quest・ ?se ela ?catastr・ica ou simplesmente uma evolu艫o. P: Mudan・ ou evolu艫o, o impacto de for・s e influ・cias externas pode ser um fen・eno positivo. Quais s・ os exemplos de desenvolvimentos que foram incorporados suavemente ?vida familiar - melhorando-a? R: Em termos do que ocorreu suavemente, existem duas mudan・s significantes que ocorreram nas fam・ias intactas. A primeira ?a redu艫o do n・ero de filhos. A segunda ?que as m・s em idade escolar e as crian・s mais jovens uniram-se ?for・ de trabalho, seja em per・do integral ou parcial. Essa transi艫o ocorreu de forma realmente suave. Reduzimos o tempo que os pais gastam na cria艫o dos filhos. Alguns gostam disso, outros n・. Mas todos aceitam o fato de que isso ocorreu de forma relativamente suave. P: O sr. diria que as crian・s se ajustaram bem a isso? R: Acho que esta ?uma quest・ em aberto. P: Quais s・ os desdobramentos que causam preocupa苺es - e eles podem ser modificados ou revertidos? R: Acho que a maior preocupa艫o ?que pessoas jovens (normalmente adolescentes pobres e sem forma艫o) est・ tendo filhos fora do casamento sem os recursos necess・ios para cuidar deles adequadamente. Costum・amos chamar isso de "crian・s tendo crian・s". Ainda acho que ?o que est?acontecendo. Teve um revestimento de pobreza; um alto componente de pobreza que ajuda a mant?lo. Esse ?um mau desdobramento para as crian・s, e tamb・ n・ ?bom para suas m・s. Prejudica o seu crescimento. Esse ?o problema mais s・io enfrentado pela sociedade p・-industrial em todo mundo pois, como voc?sabe, os nascimentos fora do casamento est・ aumentando em toda parte. P: As estat・ticas recentes n・ indicam que a castidade, ou abstin・cia, est?come・ndo a surgir em alguns lugares? R: Sim, mas em bases limitadas. A linha de tend・cia est?na dire艫o certa, mas ?muito indefinida. Desde cerca de 1992, as taxas de natalidade come・ram a mudar. Mas isso significa que retornamos apenas aos n・eis de 1983 ou 1984. P: Afirma-se que, nas fam・ias de hoje, existem diversas misturas de categorias (av・, padrastos, pais solteiros) com diferentes valores. O que acontece quando esses sistemas de valores diferentes entram em confronto? Atinge-se um consenso? Qual ?o resultado? R: Eu as chamaria de alian・s. A fam・ia tradicional, hier・quica e de m・tiplas gera苺es, tinha esses pap・s claramente definidos. Os av・ sempre achavam que sabiam melhor como criar os filhos mas, at?certo ponto, eles sabiam que os pais tinham a ・tima palavra sobre o que acontecesse com as crian・s. Esses novos relacionamentos que voc?mencionou criam situa苺es em que o direito dos adultos do lar terem uma opini・ e terem sua opini・ ouvida ?incerto. A responsabilidade de adultos diferentes no lar ?incerta e confusa. Isso cria oportunidades adicionais de atrito na fam・ia contempor・ea, j?que os relacionamentos n・ s・ t・ claramente compreendidos pelos participantes. P: E essa incerteza afeta as linhas de autoridade. R: Exatamente. P: A gera艫o mais velha ainda ?olhada com respeito, embora essa gera艫o seja representada em uma resid・cia? R: Acho que fica complicado, especialmente na estrutura do div・cio. Voc?parece (especialmente para os homens que deixaram o lar) ter menos autoridade. As mulheres que permaneceram na casa ・ vezes parecem, aos olhos dos seus filhos, ser mercadorias com defeito. Acho que parte da autoridade moral ou familiar que det・ a gera艫o mais velha vem do fato de terem navegado com sucesso ao longo do casamento e da vida familiar. Se esse n・ for o caso, isso mina a sua autoridade. P: Parece que parte da raz・ por que os av・ est・ tomando os lares de tempos em tempos ?que a expectativa de vida cresceu. R: Temos duas tend・cias diferentes ao mesmo tempo. As fam・ias de renda m・ia e mais alta est・ presenciando o advento da gera艫o do sandu・he. Os av・ s・ velhos demais para criar seus netos e acabam tamb・ por serem criados pelos seus netos. Nas fam・ias de baixa renda, a dist・cia entre as gera苺es est?diminuindo. Pode-se ter uma m・ de quinze anos de idade com sua m・ de trinta ou 35 anos. Assim, a av?pode desempenhar papel mais ativo com seus netos mas, por ser mais jovem, ela pode sentir ter mais da sua pr・ria vida para viver. ?muito relativo ?classe social e esta pode ser a causa de grandes tens・s. P: O que podemos esperar no futuro pr・imo em termos da for・ de trabalho em mudan・: mais pais em casa, necessidade maior de concentra艫o na assist・cia ・ crian・s, outros elementos? R: ?dif・il dizer. O percentual de m・s que trabalham, na realidade, n・ cresceu na ・tima d・ada e, portanto, pode-se dizer que atingimos certo n・el de estagna艫o. Isso quer dizer que as mulheres que querem trabalhar (incluindo as m・s) agora est・ trabalhando. As m・s que n・ querem trabalhar n・ o est・ fazendo. Estou falando de mulheres de classe m・ia, que t・ alguma escolha. No caso dos lares de baixa renda, devido ?reforma da assist・cia social e ?economia mais forte, um n・ero substancialmente maior de m・s est?agora trabalhando. P: Concentremo-nos por um momento no impacto de valores religiosos sobre o lar, j?que os dados demonstram que a religi・ est?se tornando fator maior na vida das pessoas. At?que ponto o sr. v?alguma penetra艫o desses valores na vida familiar? R: N・ sei como responder. A ・ica evid・cia que observei ?que, para algumas fam・ias, aumentou a intensidade das cren・s religiosas, experi・cia e ref・io. Al・ disso, simplesmente n・ sei. Existe claramente certo ressurgimento do sentimento religioso em torno das denomina苺es e f・. Simplesmente n・ sei o quanto isso ?disseminado. P: Quando falamos sobre as responsabilidades dos setores p・lico e privado com rela艫o ・ fam・ias, em qual esfera de governo o sr. acredita que haja um papel a desempenhar e onde devemos manter dist・cia? R: Com base nos ・timos cem anos, pode-se afirmar que as fam・ias se sair・ melhor se o governo se afastar e ponto final. N・ conhe・ muitos exemplos de situa苺es ou pol・icas em que o governo tenha auxiliado as fam・ias. Algumas pessoas podem dizer que a pol・ica habitacional (dedu苺es nas hipotecas) foi positiva por facilitar a compra de resid・cias privadas. Mas acho que a evid・cia ?incerta. P: No limiar deste novo s・ulo, o que o sr. prev?para a vida familiar nos Estados Unidos? R: O quadro que observo para a fam・ia no futuro ? primeiramente, de casamentos mais tardios; o que equivale a dizer que mais jovens esperar・ ficar um pouco mais velhos antes de se casarem. Tamb・ prevejo n・ero um pouco menor de casamentos, o que significa que as pessoas n・ somente esperar・ at?ficarem um pouco mais velhas, mas um n・ero crescente n・ se casar? N・ ser?um n・ero muito grande; talvez cerca de 10% de todas as mulheres n・ se casar・. As taxas de div・cio dificilmente ser・ mais altas, podendo reduzir-se um pouco. Veremos fam・ias menores. E veremos muito mais na forma de co-habita艫o e relacionamentos tempor・ios entre as pessoas. No geral, o que vejo ?uma situa艫o em que as pessoas (especialmente as crian・s) ser・ muito mais isoladas, n・ apenas porque ambos os seus pais estar・ trabalhando, mas eles ter・ menos irm・s, menos primos, menos tios e tias. Assim, ao longo do tempo, estamos nos movendo em dire艫o a uma sociedade mais individualista.
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