"Sentado na minha casa, com o meu computador e o meu modem, eu tenho o poder e a capacidade...de fazer guerra," diz James Adams. "Trata-se de um ambiente muito diferente de qualquer coisa que j?tenhamos experimentado no passado." Adams ?o diretor geral da Infrastructure Defense, Inc., que proporciona um espa¡¦ para a troca de informações e tomada de decis¡¦s sobre a infra-estrutura cr¡¦ica no setor privado e entre os setores p¡¦lico e privado em ¡¦bito mundial. Este artigo ?uma adaptação das declarações feitas por Adams na Ag¡¦cia de Informações dos Estados Unidos em agosto de 1998.
No ano passado, as for¡¦s armadas dos Estados Unidos organizaram um exerc¡¦io que envolvia uma simulação na qual uma crise internacional estava em andamento e um governo estrangeiro havia contratado 35 hackers de computador para neutralizar a reação dos Estados Unidos ¡¦uela crise. Os "hackers" que estavam participando do exerc¡¦io -- chamado Eligible Receiver [Receptor Autorizado] -- eram, na verdade, funcion¡¦ios do governo dos Estados Unidos. Eles n¡¦ receberam nenhuma informação pr¡¦ia. Eles compraram os seus laptops em uma loja de artigos de inform¡¦ica local.
Os hackers foram bem sucedidos na sua demonstração de que podiam facilmente penetrar nas malhas energ¡¦icas de todas as principais cidades dos Estados Unidos -- de Los Angeles a Chicago, a Washington, D.C., ou a Nova York -- que estavam ligadas ?capacidade dos Estados Unidos de posicionar for¡¦s. Ao mesmo tempo eles conseguiram penetrar no sistema de telefonia de emerg¡¦cia "911" e poderiam, facilmente, ter tirado as duas redes do ar.
Em seguida eles acessaram o sistema de comando e controle do Pent¡¦ono. Em poucos dias eles interrogaram 40.000 redes e obtiveram acesso, no n¡¦el inferior, a 36 delas. Eles conseguiram penetrar profundamente na estrutura de comando e controle, e se quisessem, poderiam ter impedido aquela estrutura de funcionar de maneira eficaz.
O que este exerc¡¦io demonstrou ?que 35 pessoas, usando informações dispon¡¦eis publicamente, com habilidades que se encontravam dispon¡¦eis no mundo inteiro, podiam ter impedido os Estados Unidos de responder a uma crise.
Trata-se de uma extraordin¡¦ia demonstração da for¡¦ que a guerra da informação representa. Essa for¡¦ obrigou os Estados Unidos a investirem muito dinheiro no desenvolvimento de uma capacidade ofensiva eficaz onde a guerra pode ser conduzida por outros meios.
Para os que possuem a capacidade, a?est?a oportunidade de fazer a guerra -- n¡¦ posicionando soldados, da forma convencional em um campo de batalha, onde muitos milhares deles morreriam, ou, at?mesmo posicionando m¡¦seis da forma convencional -- mas em vez disso, lan¡¦ndo pelo espa¡¦ cibern¡¦ico, bits e bytes, que destr¡¦m com efic¡¦ia um agressor em potencial antes de as tropas se encontrarem no campo de batalha.
Isso significa apagar as luzes de uma grande cidade. Isso significa impedir os mercados financeiros internacionais de funcionar adequadamente. Isso significa interromper o fluxo de informações em um pa¡¦ estrangeiro, e inserir o fluxo de informações do atacante, de modo que seja poss¡¦el efetuar operações psicol¡¦icas muito eficazes contra um inimigo em potencial.
Essas coisas parecem bastante brandas, mas na verdade elas podem causar o tipo de perda de vidas que uma grande campanha de bombardeio tamb¡¦ pode infligir.
Por exemplo, um estudo feito pela For¡¦ A¡¦ea dos Estados Unidos sobre as conseqüências de se nocautear a malha energ¡¦ica da regi¡¦ sudoeste dos Estados Unidos demonstrou que 20.000 pessoas teriam morrido. Isso teria um efeito devastador na moral do pa¡¦ e apresentaria desafios novos e muito interessantes sobre a maneira pela qual reagir¡¦mos.
No drama com o Iraque poucos meses atr¡¦, enquanto nos prepar¡¦amos para a possibilidade de agir militarmente, foi detectado um esfor¡¦ no sentido de interferir com a rede de log¡¦tica dos Estados Unidos. Descobriu-se, posteriormente, que a origem desse esfor¡¦ era um pr¡¦io em Abu Dhabi. Assumiu-se que o l¡¦er iraquiano Saddam Hussein estava conduzindo uma guerra de informação contra os Estados Unidos, antes do in¡¦io da operação militar. Americanos foram posicionados para lidar com essa amea¡¦. Ao chegar ao pr¡¦io em quest¡¦, eles descobriram um roteador (um ponto de transfer¡¦cia) na Internet, e na verdade, o "ataque" estava sendo lan¡¦do por alguns adolescentes nos Estados Unidos.
Essa ?uma clara demonstração do verdadeiro desafio e da oportunidade que a guerra de informação apresenta. Podemos lan¡¦r um ataque, e podemos dar a impress¡¦ de que ele vem de algum lugar bem distante do seu real ponto de origem. Da mesma forma, quando um ataque ?lan¡¦do contra n¡¦, ?muito, muito dif¡¦il, descobrir de onde ele vem. Mesmo se voc?descobrir a fonte, ?muito dif¡¦il, nesse momento, lan¡¦r um ataque. O que voc?est?atacando e por que voc?est?fazendo isso? Qual ser?a resposta do p¡¦lico e o apoio do p¡¦lico, para as suas ações, se milhares de pessoas morrerem? Como voc?consegue persuadir as pessoas de que esta era a coisa certa a fazer? N¡¦ h?provas -- n¡¦ podemos mencionar beb¡¦ mortos nas ruas. N¡¦ h?nenhum homem de p? em uma esquina, empunhando uma arma. N¡¦ se trata do tipo da coisa com a qual as pessoas est¡¦ acostumadas. Isso apresenta um verdadeiro desafio.
Essas quest¡¦s e as oportunidades que elas representam est¡¦ se tornando muito atraentes para quase todos os pa¡¦es que possuem capacidade de realizar operações na ¡¦ea da inform¡¦ica. Para a nação-estado, o potencial da guerra de informação ?uma coisa atraente, mas tamb¡¦ ?extremamente amea¡¦dor, porque a guerra da informação n¡¦ trata de nações; ela trata do poder que ?atribu¡¦o aos indiv¡¦uos.
Eu acredito que a guerra da informação est? fundamentalmente, mudando uma din¡¦ica que existe h?muito tempo, que ajudou a manter a estabilidade entre os estados, isto ? o governo decide o ritmo da mudan¡¦, de modo geral, e ?um instrumento para uma boa parte dessas mudan¡¦s.
Quando um novo sistema de armamento ?desenvolvido, leva muito tempo at?que esse sistema de armamento v? do pa¡¦ que o gerou, para um pa¡¦ que n¡¦ tem a capacidade de produzi-lo. Vamos falar de um ciclo de 20 anos. Hoje, o mais recente computador ?desenvolvido pela Compaq, possui software fornecido pela Microsoft, e se encontra dispon¡¦el na CompUSA, uma loja de artigos de inform¡¦ica com filiais em todo o territ¡¦io dos Estados Unidos. Pode ser -- ressaltamos o "pode ser" -- que o governo o compre dentre dos pr¡¦imos dois ou tr¡¦ anos, mas isso ?muito pouco prov¡¦el. Entretanto, eu posso ir at?a loja de inform¡¦ica com o meu tal¡¦ de cheques na m¡¦ e compr?lo. Em uma guerra de informação, essa ?a minha arma.
Sentado na minha casa, com o meu computador e o meu modem, eu tenho o poder e a capacidade...de fazer guerra -- isto ? se eu soubesse fazer isso. Trata-se de um ambiente muito diferente de qualquer coisa que j?tenhamos experimentado no passado.
O que ?particularmente interessante, eu acho, ?que o que estamos vendo enquanto essa revolução na informação se desencadeia -- e n¡¦ ainda estamos no comecinho dela -- ?a nova gama de alian¡¦s que est?surgindo. Recentemente eu falei com um amigo que montou uma confer¡¦cia on-line de montanheses. Trata-se de pessoas que vivem nas montanhas em todas as partes do mundo -- sejam elas nos Alpes, ou nos Urais, ou nas Rochosas ou em qualquer outro lugar -- e eles tiveram uma confer¡¦cia on-line de dois dias. Essas pessoas, que nunca haviam se comunicado antes, descobriram que tinham muita coisa em comum. Todas elas detestavam as pessoas que viviam no vale. Todas elas odiavam o governo e todas elas se importavam, de maneira apaixonada, com meio ambiente.
Esse ?um exemplo de uma nova comunidade cujos membros t¡¦ mais coisas em comum um com o outro do que eles t¡¦, talvez, com os outros cidad¡¦s das nações em que eles, de fato, vivem. Agora todos esses grupos -- sejam eles as 52 organizações terroristas que, no momento, possuem sites na Web, organizações ambientalistas, ou pessoas que simplesmente se sentem exclu¡¦as -- t¡¦ uma oportunidade de se comunicar, de compartilhar conhecimentos, e de expressar suas frustrações. ?impressionante como h?uma unidade -- ou uma capacidade de se unir -- nesses grupos que nunca haviam existido.
Embora n¡¦ n¡¦ tenhamos a capacidade de eliminar a probabilidade de uma guerra, n¡¦ temos a capacidade ofensiva de fazer guerra por outros meios e certamente mudar a maneira pela qual chegamos ao conflito tradicional. E isso traz alguns desafios de verdade. Antes de mais nada, o governo precisa entender o que a guerra significa. Ainda estamos presos em um ambiente de Guerra Fria. Se voc?perguntar ?For¡¦ A¡¦ea ou ?Marinha, ou aos outros que est¡¦ desenvolvendo essa capacidade, "Quando voc?tem autorização para usar o que voc?tem?" eles dizem, "Bem, n¡¦ fizemos essa pergunta ao Departamento de Justi¡¦ uns dois anos atr¡¦, e at?agora eles ainda n¡¦ responderam."
Trata-se de uma quest¡¦ importante. Estas armas s¡¦ projetadas para serem usadas exatamente antes de entrarmos em guerra, para impedir que entremos em guerra no sentido tradicional. E no entanto elas s¡¦ muito agressivas e muito poderosas. Este vai sei um grande desafio para o governo. Na verdade, j?? Como ?que o governo vai continuar tendo alguma import¡¦cia quando tudo ao seu redor est?mudando a um ritmo t¡¦ r¡¦ido?
Nos tamb¡¦, de uma maneira defensiva, temos que lidar com um tipo diferente de amea¡¦. Tradicionalmente as for¡¦s armadas se v¡¦m como os soldados que v¡¦ at?a linha de frente, lutam, ficam feridos, morrem, ou voltam; eles s¡¦ bem sucedidos ou falham. Mas no novo ambiente, todos n¡¦, na verdade, estamos na linha de frente. A quest¡¦ ? como vamos nos defender e nos proteger, e como somos protegidos pelo governo ou pelo setor privado? Somos parte do processo. Isso representa um ambiente muito diferente.
O problema dos computadores no ano 2000 (o bug do mil¡¦io) ?uma excelente ilustração disso. Na verdade trata-se de uma quest¡¦ social, assim como a guerra da informação ?uma quest¡¦ social. A guerra da informação ?uma quest¡¦ de interromper o fornecimento de ¡¦ua, cortar a energia el¡¦rica, fazer com que as usinas de tratamento de esgoto entrem em colapso, nocautear os sistemas de caixas autom¡¦icas dos bancos, enfim, remover o tecido da vida.
A tarefa de lidar com a convers¡¦ do ano 2000 demonstrar?a abrang¡¦cia da interdepend¡¦cia das infra-estruturas cr¡¦icas. Por enquanto n¡¦ n¡¦ entendemos -- nenhum de n¡¦ entende -- por completo, at?que ponto tudo o que fazemos est?interligado. Se uma pe¡¦ do quebra-cabe¡¦ cair, o resto do quebra-cabe¡¦ tamb¡¦ fica fragmentado. N¡¦ se trata apenas de uma quest¡¦ em n¡¦el nacional; ?uma quest¡¦ internacional.
Portanto, ao nos prepararmos para enfrentar os desafios da guerra da informação, temos que tratar, ao mesmo tempo, dos desafios do governo. O que isso significa neste novo ambiente? Temos que tratar do desafio ?infra-estrutura cr¡¦ica. Como vamos defender essas estruturas adequadamente?
Um elemento vital ?o setor privado porque, atualmente, o setor privado ?a locomotiva que est?conduzindo todas as mudan¡¦s que se desencadeiam ao nosso redor. O governo tem que demonstrar a sua import¡¦cia e assumir alguma forma de lideran¡¦ neste ponto, a qual eu acho que est?perceptivelmente ausente.
O setor privado pode articular muitas dessas coisas para se defender, e desta forma, para nos defender a todos. Se n¡¦ n¡¦ reconhecermos isso, acho que vamos ter s¡¦ios problemas, a come¡¦r pelo bug do mil¡¦io. N¡¦ nos tornaremos v¡¦imas dos novos agressores que nos rodeiam, que ter¡¦ um poder que n¡¦ ainda nem come¡¦mos a compreender e que quando compreendermos, ser?tarde demais.
O que eu gostaria de fazer ?tentar educar as pessoas sobre essas quest¡¦s e encorajar n¡¦ apenas a conscientização do p¡¦lico, e sim mais ação por parte daqueles que t¡¦ a capacidade de divulgar os fatos, e assim criar defesas contra o que ser?um ambiente extremamente agressivo no pr¡¦imo s¡¦ulo.
Agenda de Pol¡¦ica Externa dos EUA
Revista Eletr¡¦ica da USIA
Vol. 3, N?4, Novembre de 1998