Joulwan diz que o ato de trazer novos membros ativos para a OTAN, da ・ea estrategicamente relevante da Europa Central e Oriental, melhorar?a seguran・ dos Estados Unidos e da alian・. O general da reserva do Ex・cito -- que at?julho foi o Comandante em Chefe das tropas aliadas da OTAN na Europa (Supreme Allied Commander in Europe -- SACEUR) -- acredita que a Pol・ia, a Hungria e a Rep・lica Tcheca "trar・ um esp・ito novo e mais vigor para reenergizar a alian・, no momento em que ela se prepara para entrar no S・ulo XXI". Joulwan foi entrevistado pelo nosso colaborador Jacqui Porth.
Pergunta: Por que o senhor acredita que a OTAN, nas suas pr・rias palavras, ?"a mais bem sucedida alian・ militar na hist・ia?"
Joulwan: Por muitos motivos. Antes de mais nada, a OTAN j?demonstrou o seu valor tanto como organiza艫o pol・ica quanto militar, pelas suas realiza苺es nos seus primeiros 40 anos; ela contribuiu para o fim da Guerra Fria, para o colapso do Muro de Berlim e da Cortina de Ferro, para a reunifica艫o da Alemanha, e para o fim do comunismo na Europa.
Desde 1989, a alian・ vem se adaptando ・ realidades que atualmente enfrentamos na Europa. A principal realidade ?a instabilidade. E a OTAN est?se adaptando de uma forma que, na minha opini・, demonstra a sua flexibilidade e relev・cia no que se refere ao S・ulo XXI. Isso pode ser percebido, mais do que em qualquer outro lugar, na B・nia. A alian・, por meio de uma s・ie de c・ulas, tem assumido novas miss・s, tem feito adapta苺es internas e externas, e pela primeira vez na sua hist・ia, enviou tropas para a B・nia para garantir o cumprimento de um acordo de paz, e para trazer estabilidade a essa parte extremamente inst・el da Europa.
P: O senhor pode falar um pouco sobre as adapta苺es internas?
Joulwan: A adapta艫o interna da alian・ ?mais evidente, eu acho, na nossa estrutura militar, na qual o Comando Aliado na Europa, por exemplo, foi reduzido de quatro regi・s para tr・. Ele sofreu uma redu艫o de 25% no seu quadro de pessoal, e est?tornando a sua estrutura de comando e for・ mais leve.
Al・ disso, incorporamos a Identidade Europ・a de Seguran・ e Defesa (European Security and Defense Identity (ESDI)) ・ nossas opera苺es no Quartel-General Supremo dos Poderes Aliados na Europa (SHAPE) (Supreme Headquarters Allied Powers Europe). Por exemplo, o chefe do Estado-Maior (um oficial-general de quatro estrelas) do Comandante Supremo Aliado sempre foi um americano. Agora esse cargo ?ocupado por um general alem・ de quatro estrelas. O chefe do Estado-Maior Conjunto e de Planejamento ?um oficial-general holand・, de quatro estrelas. O chefe da C・ula de Coordena艫o de Parceria ?um oficial-general dinamarqu・ de duas estrelas. Portanto, os oficiais europeus est・ tendo, cada vez mais, uma fun艫o na estrutura de comando da alian・. E a adapta艫o interna da alian・ continuar?
Estamos tamb・ estudando o conceito de uma For・-Tarefa Conjunta Combinada (Combined Joint Task Force), na qual montar・mos um quartel-general de comando e controle que poderia funcionar sob os ausp・ios da OTAN ou n・ -- ele poderia, por exemplo, se reportar ?Uni・ da Europa Ocidental (WEU -- Western European Union) -- no caso de uma opera艫o que fosse, em grande parte, europ・a. Essa adapta艫o ?muito significativa, no momento em que a OTAN se adapta ・ realidades de hoje e de amanh?
P: E de que forma est?sendo feita a adapta艫o externa?
Joulwan: H?duas quest・s principais. Uma ?a Parceria para a Paz (PFP), que surgiu a partir da c・ula de chefes de estado de janeiro de 1994. Tratava-se de uma tentativa, por parte da alian・, de se aproximar dos nossos antigos advers・ios e estados n・-alinhados e ver se poder・mos trabalhar juntos para desenvolver normas e procedimentos comuns, al・ de uma doutrina, para que pud・semos conduzir miss・s em conjunto no futuro. Naquela ・oca, ningu・ sabia que a teoria seria colocada em pr・ica na B・nia, mas esse programa de coopera艫o militar ocupava um lugar de destaque na minha lista de prioridades. E ele foi muito bem sucedido: atualmente, 27 na苺es fazem parte do Programa de Parceria Para a Paz; 25 dessas 27 na苺es possuem oficiais de liga艫o no quartel-general do SHAPE em Mons, na B・gica. Isso torna o SHAPE o maior quartel-general multinacional do mundo. A OTAN e os nossos parceiros fazem 15 grandes exerc・ios em conjunto e est・ envolvidos, tamb・, em centenas de semin・ios, grupos de trabalho, e outros tipos de contatos. Estamos passando de um per・do de confronto, na Guerra Fria, para uma era -- atual -- de coopera艫o e di・ogo. E est?dando certo.
A outra adapta艫o externa ?o que estamos fazendo com os russos; esse foi um dos destaques dos meus quatro anos na fun艫o de SACEUR. Desde outubro de 1995, temos um oficial russo que se reporta diretamente ao SACEUR. Devido a essa situa艫o, as for・s russas est・ cooperando lado a lado com as for・s americanas e da OTAN na B・nia, patrulhando o estrat・ico Corredor de Pasovina e interagindo umas com as outras no que se refere a comunica苺es, log・tica, e treinamento t・ico. Como resultado dessa coopera艫o, o Documento Constitutivo OTAN-R・sia foi assinado em Paris em maio ・timo e oferece muita esperan・ para o futuro.
P: Quais s・ as adapta苺es e mudan・s na ・ea militar, que a alian・ precisa fazer para conseguir uma expans・ al・ da que o senhor descreveu?
Joulwan: Fundamentalmente, o que precisa acontecer ?o seguinte: as na苺es aceitas na alian・ precisam entrar para a estrutura integrada de defesa a・ea da OTAN. Para mim, essa ?a prioridade m・ima. Al・ disso, as comunica苺es devem ser estabelecidas e o treinamento deve ser intensificado, para fazer com que as novas na苺es-membros alcancem os padr・s da OTAN rapidamente.
P: De que forma os novos membros da OTAN contribuir・ para os requisitos de seguran・ dos Estados Unidos?
Joulwan: Eu acredito que os novos membros propostos, os h・garos, os poloneses e os tchecos, est・ localizados em uma parte estrat・ica da Europa. Trata-se de um v・uo que tem prevalecido entre a Alemanha e a R・sia durante s・ulos, e durante s・ulos tem havido guerras nessa regi・: somente neste s・ulo, duas guerras mundiais, custando milh・s e milh・s de vidas e trilh・s de d・ares em preju・os. Portanto, o ato de admitir essas na苺es na alian・ n・ apenas contribui para a seguran・ dos Estados Unidos, mas tamb・ para a seguran・ da OTAN.
Al・ disso, esses pa・es possuem for・s armadas que, com o tempo, proporcionar・ um recurso valioso para a alian・, e j?demonstraram que est・ dispostos n・ s?a compartilhar os nossos valores e ideais, mas tamb・ compartilhar os riscos, enviando tropas ?B・nia. Al・ disso, eu acho que essas na苺es trar・ um novo esp・ito e mais vigor para reenergizar a alian・, no momento em que ela se prepara para entrar no S・ulo XXI.
P: A amplia艫o da OTAN ?necess・ia, sob o ponto de vista militar?
Joulwan: Eu creio que sim. Acredito que o ato de trazer essa parte estrategicamente relevante da Europa para o seio da alian・ promover?a estabilidade e criar?mais oportunidades de investimentos na Europa Oriental e Central. Ao fazer isso, tamb・ estaremos dando alguns passos ?frente no caminho da democracia. Afinal, a vis・ de George Marshall, cinq・nta anos atr・, inclu・ n・ somente a Europa Ocidental, mas tamb・ a Europa Oriental e naquela ・oca, a Uni・ Sovi・ica tamb・. Portanto, isso est?totalmente em conformidade com o sonho de Marshall, meio s・ulo atr・. De fato, na minha opini・, a estabilidade da Europa Central proporciona seguran・ para o flanco ocidental da R・sia.
P: O senhor tocou nesse assunto rapidamente, mas o senhor poderia definir com mais detalhes, as implica苺es militares para a Pol・ia, a Hungria e a Rep・lica Tcheca, no que se refere ?sua admiss・ na OTAN?
Joulwan: Eu acredito que isso melhorar?a seguran・ das tr・ na苺es, obviamente, mas quando me reuni com os l・eres pol・icos e militares de todas essas tr・ na苺es, eles deram todas as indica苺es de que tamb・ desejam contribuir, em muito, para a alian・, tanto no campo pol・ico e diplom・ico, quanto no campo militar. Ap・ muitas discuss・s com a lideran・ dessas tr・ na苺es, estou convencido de que elas ser・ membros em toda a sua plenitude, ativos e contribuintes.
P: Os opositores da expans・ da OTAN dizem que a admiss・ de novos membros pode, fatalmente, diluir a natureza da alian・. O que o senhor acha disso?
Joulwan: Essa ?a quest・ que precisa ser debatida durante o pr・imo ano ou durante os pr・imos dois anos. Mas, a alian・ passou por uma expans・ em 1951. T・hamos 12 na苺es quando o general Eisenhower era o Comandante Supremo. No decorrer dos 30 anos que se seguiram, n・ crescemos, e o n・ero de na苺es chegou a 16. Portanto, houve crescimento no passado. Eu acredito que h?motivos estrat・icos muito s・idos para incluir essas na苺es cuja admiss・ foi aceita em Madri (em julho): Pol・ia, Hungria, e a Rep・lica Tcheca. Outras 12 na苺es se candidataram, e portanto, a alian・ e as na苺es soberanas devem continuar a dialogar e ent・ a decis・ pol・ica deve ser tomada sobre at?que ponto a expans・ deve continuar.
P: A amplia艫o da OTAN ?necess・ia para solidificar o relacionamento entre a Comunidade Atl・tica?
Joulwan: Eu acredito que a amplia艫o ?uma continua艫o dos eventos de 1989 e 1990. N・ podemos impedir o acesso dessas na苺es que tanto se sacrificaram nos ・timos 40 ou 50 anos, na luta pela liberdade, e que tamb・ podem contribuir, e muito, para a seguran・ da Europa no futuro.
P: O senhor acha que os membros da OTAN conseguir・ -- individualmente e em conjunto -- tratar da quest・ da divis・ de responsabilidades de defesa de maneira satisfat・ia para os membros do Congresso dos Estados Unidos que podem se opor ?expans・ da OTAN?
Joulwan: Acho que o custo ?uma quest・ que precisa ser tratada. Pessoalmente, nas minhas conversas com os l・eres pol・icos e militares de todas as tr・ na苺es, eles disseram que pretendem pagar a parte que lhes cabe da expans・ da OTAN. Como eu disse, na minha percep艫o, quando eu era o Comandante Supremo, deixei bem claro que os requisitos, na minha opini・, inclu・m a defesa a・ea integrada, comunica苺es, e treinamento. A decis・ sobre os avi・s, navios ou tanques que uma na艫o deve comprar deve ser tomada pela pr・ria na艫o.
N・ temos total inter-operabilidade dentro da alian・ atualmente, entre as 16 na苺es. Nem todos t・ o mesmo tanque, e nem todos t・ o mesmo avi・ de ca・. Mas concordamos sobre os princ・ios, normas, e procedimentos comuns. E essas na苺es sobre as quais falamos est・ demonstrando -- atualmente, na B・nia -- que compreendem esses procedimentos.
Portanto, os custos s・ uma quest・ que deve ser tratada, mas eu realmente acho que eles foram superestimados segundo algumas fontes. Al・ disso, n・ sei como se pode colocar uma etiqueta de pre・ no risco que voc?corre quando tem um conflito de qualquer tipo, ou at?mesmo uma guerra. Por isso, acho que os custos de que falamos podem ser administrados.
P: H?outras mudan・s ou adapta苺es na ・ea militar que a alian・ precisa fazer para implementar a expans・, al・ das adapta苺es internas e externas que o senhor mencionou?
Joulwan: N・, eu acredito que a estrutura j?se adaptou. Agora, temos um Conselho de Parceria Atl・tica, que inclui todos os parceiros da PFP. Portanto, ?medida que eles entrarem como novos membros, creio que a estrutura pol・ica poder?acolh?los. Agora, talvez eles precisem aumentar a mesa e aumentar o pr・io, mas eu acho que, pelo que pude perceber nas minhas discuss・s e intera苺es com essas tr・ na苺es, elas contribuir・, em muito, para a alian・, e para o que alian・ significa. Eu fiquei convencido de que essas na苺es compreendem os valores e ideais que n・ conhecemos h?tantos anos, e na verdade, sob muitos aspectos, elas me fazem lembrar do real significado da alian・.
P: O debate sobre a OTAN, no Senado dos Estados Unidos, est?ocorrendo praticamente no mesmo momento em que est?ocorrendo o debate sobre a retirada das tropas dos Estados Unidos e da OTAN da B・nia. O senhor tem alguma preocupa艫o, ou prev?algum problema, com a possibilidade desses dois fatos serem relacionados?
Joulwan: Politicamente, eu acho que ser?um problema. Espero que as quest・s referentes ?B・nia possam ser resolvidas antes de junho de 1998. Mas, trata-se de decis・s pol・icas que t・ que ser tomadas. A For・ de Estabiliza艫o (SFOR) est?l?h?18 meses por causa de uma decis・ pol・ica da alian・, da qual os Estados Unidos ?um dos principais membros. Se os Estados Unidos ou a comunidade internacional quiser que a data seja mudada, a alian・ precisa dizer qual ?a nova miss・ e precisa defin?la com clareza. Acho que quanto mais cedo isso acontecer, melhor. Ou retiramos as tropas em junho de 1998. Essa decis・ deve ser tomada politicamente, e muito em breve -- eu diria, no m・imo, at?dezembro.
Mas a quest・ da expans・ ?tamb・ uma quest・ estrat・ica, e espero que ela seja debatida pelos seus pr・rios m・itos, porque essas s・ decis・s que afetar・ a seguran・ futura dos Estados Unidos, at?bem depois da virada do s・ulo. E precisamos fazer a coisa certa. ?necess・io que haja apoio un・ime, do povo americano, do Congresso, e da alian・ do Atl・tico Norte.
Pol・ica Externa dos EUA -- Agenda
Revista Eletr・ica da USIA
Vol. 2, N?4, Outubro de 1997