O avan¡¦ da democratização na Am¡¦ica Central resultou em maior estabilidade na regi¡¦, diz Paul Trivelli, que assumir?um novo posto, este m¡¦, como vice-chefe da Miss¡¦ da Embaixada dos Estados Unidos em Tegucigalpa, Honduras. Ele diz que h?um compromisso cont¡¦uo dos Estados Unidos no sentido de apoiar a construção da democracia e ao mesmo tempo estimular a liberalização econ¡¦ica na regi¡¦. Trivelli, ex-vice-diretor para Quest¡¦s Referentes ?Am¡¦ica Central, Departamento de Estado, foi entrevistado por Dian McDonald.
Pergunta:: Como o senhor descreveria os principais fatores que levaram ao crescimento da democratização na Am¡¦ica Central?
Ocorreu uma situação extraordin¡¦ia na Nicar¡¦ua com a eleição, ?presid¡¦cia, de Violetta Chamorro em 1990 e a derrota dos Sandinistas nas urnas, e depois, com a passagem do governo eleito para Arnoldo Aleman, uns 19 meses atr¡¦. Essa foi, na verdade, a primeira transição de poder civil de um presidente eleito para outro na hist¡¦ia da Nicar¡¦ua. E esse ?um grande exemplo do in¡¦io da institucionalização da democracia na regi¡¦.
Da mesma forma, em El Salvador, o fim da Guerra Fria acelerou o processo. Os acordos de paz de 1992 foram negociados com a ajuda dos Estados Unidos, das Nações Unidas, e outros. Agora h? uma situação em que a FMLN (Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional) - um antigo movimento guerrilheiro -- se estabeleceu como partido pol¡¦ico. O partido se deu muito bem nas eleições, um ano atr¡¦. Na verdade, o prefeito de San Salvador foi eleito compondo uma chapa em coaliz¡¦ com a FMLN. Portanto, essas s¡¦ as mudan¡¦s realmente incr¡¦eis que ocorreram nessa regi¡¦ nos ¡¦timos oito a dez anos.
P: O senhor poderia definir, em termos espec¡¦icos, como o fim da Guerra Fria teve um efeito sobre a democratização na Am¡¦ica Central?
P: De que forma o avan¡¦ da democratização da Am¡¦ica Central resultou em maior estabilidade na regi¡¦?
Assim, na minha percepção, a democratização resultou em maior estabilidade na regi¡¦, o que, naturalmente, interessa aos Estados Unidos. Sempre estamos interessados em vizinhos que n¡¦ estejam em guerra, que n¡¦ estejam enviando, para o nosso pa¡¦, imigrantes ilegais e refugiados, e cujas populações e economias estejam crescendo. Como resultado disso, n¡¦ vendemos mais e incentivamos as reformas econ¡¦icas na regi¡¦, tamb¡¦. Portanto, tudo isso ?bom.
N¡¦, naturalmente estivemos profundamente envolvidos com a Am¡¦ica Central durante a maior parte da nossa hist¡¦ia, e esse envolvimento se tornou maior, aproximadamente, no final da d¡¦ada de setenta. Temos apoiado muitos programas - - como por exemplo, os IMET (Programas Internacionais Referentes ¡¦ For¡¦s Armadas, Educação e Treinamento) [International Military, Education, and Training] patrocinados pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, e relacionados com a import¡¦cia das relações entre civis e militares e a ascend¡¦cia do poder civil sobre o poder militar. Patrocinamos muitos programas de reforma jur¡¦ica e ajudamos a proporcionar, para o poder judici¡¦io, e para advogados, o treinamento, os recursos e os novos c¡¦igos necess¡¦ios para modernizar os seus sistemas jur¡¦icos, para que as pessoas possam acreditar, pela primeira vez, que a justi¡¦ est?funcionando de maneira correta, transparente, e r¡¦ida.
Temos apoiado os tribunais eleitorais para tentar assegurar que eles tenham o treinamento e o equipamento necess¡¦ios para conduzir eleições corretas. N¡¦ pr¡¦rios temos agido como observadores durante eleições e apoiamos muitas organizações n¡¦-governamentais (ONGs) para que elas pudessem agir como observadoras de eleições. Isso ?s?uma parte do que temos feito, mas esse ?o tipo de coisa que, na minha opini¡¦, estimulou o fortalecimento da democracia na ¡¦ea.
?tamb¡¦ importante enfatizar que pelo h?menos dois pa¡¦es na Am¡¦ica Central que possuem tradições democr¡¦icas bastante duradouras. Belize, um pa¡¦ da Comunidade Brit¡¦ica que se tornou independente em 1981, tem uma longa tradição de democracia. E a Costa Rica tem tido democracia desde 1949, quando o ex¡¦cito foi extinto.
P: Com o crescimento do processo democr¡¦ico na Am¡¦ica Central haver?uma diminuição concomitante nos esfor¡¦s dos Estados Unidos para manter a democracia na regi¡¦?
Acho que tamb¡¦ ?importante que, em conjunto com o nosso apoio ?democratização, n¡¦ tamb¡¦ possamos estimular a liberalização econ¡¦ica. Acho que essas tend¡¦cias devem se apoiar mutuamente. Na Am¡¦ica Central, temos observado uma consider¡¦el liberalização da economia, ao mesmo tempo em que presenciamos um crescimento substancial da democracia. E eu n¡¦ acho que isso acontece por acidente. Na verdade, a regi¡¦ nos procurou e se manifestou com clareza, da seguinte forma: "Olhem, estamos interessados em um acordo de livre com¡¦cio com os Estados Unidos: achamos que isso seria uma boa coisa."
Portanto, esse ?o reverso da medalha, por assim dizer. Estamos vendo muita liberalização, estamos vendo muito crescimento econ¡¦ico, estamos vendo cada vez mais interesse de investidores estrangeiros na regi¡¦. Isso fortalece a democracia -- pelo menos indiretamente porque certamente, se um indiv¡¦uo perceber que ele tem um futuro econ¡¦ico, que o seu quinh¡¦ na vida est?aumentando, ele provavelmente se preocupar?muito mais com a democracia e participar?mais do processo democr¡¦ico. N¡¦ se pode ter um processo democr¡¦ico por muito tempo, no qual a população n¡¦ v?nenhum benef¡¦io. Voc?n¡¦ pode argumentar, com sucesso, "Precisamos da democracia" se o eleitorado n¡¦ vir os benef¡¦ios diretos da democratização. Uma parte desses benef¡¦ios ?o progresso econ¡¦ico. Acredito que estamos vendo isso na Am¡¦ica Central.
P: De que maneira as organizações regionais e o apoio dos Estados Unidos a essas entidades tem estimulado a democratização e a seguran¡¦ regional na Am¡¦ica Central?
Depois disso, o secret¡¦io do Trabalho Alexis Herman se reuniu com os ministros do Trabalho da regi¡¦ para conversar, em termos regionais, sobre o fortalecimento dos minist¡¦ios do trabalho e o fortalecimento da legislação trabalhista, particularmente em ¡¦eas como o trabalho infantil. Al¡¦ disso, a Representante Comercial dos Estados Unidos Charlene Barshefsky se reuniu com o grupo para discutir quest¡¦s comerciais, especialmente o que a Am¡¦ica Central pretende fazer nesse momento em que este hemisf¡¦io progride rumo ao livre com¡¦cio.
Portanto, eu acho que todos esses esfor¡¦s, em conjunto, indicam que estamos realmente tentando fortalecer a regi¡¦ como uma regi¡¦ e estamos querendo nos beneficiar do fato de que existe uma certa identidade regional na ¡¦ea. Naturalmente, existem outras organizações regionais ¡¦ quais j?prestamos apoio. Por exemplo, a Alian¡¦ Centro-Americana para o Desenvolvimento Sustentado, uma organização financiada pela USAID e por outros recursos dos Estados Unidos, trata, em grande parte, das quest¡¦s ambientais e de desenvolvimento sustentado. Essa organização j?est?funcionando h?quatro ou cinco anos. Portanto, estamos come¡¦ndo a avan¡¦r em uma frente multilateral.
P: O senhor pode falar um pouco sobre o papel das ONGs na Am¡¦ica Central?
P: O senhor prev?uma participação maior das ONGs nos pr¡¦imos cinco a dez anos?
P: O senhor v?alguns problemas que s¡¦ peculiares ?regi¡¦, no estabelecimento das sociedades civis?
E eu acho, simplesmente, que o baixo n¡¦el educacional nesses pa¡¦es dificulta o processo. Quanto mais bem educado for o eleitorado, mais ele tende a participar do processo pol¡¦ico. Portanto, pode-se partir da premissa de que ?medida que os n¡¦eis educacionais melhoram, ?medida que taxa de alfabetização melhora - - como tem sido o caso nos ¡¦timos 15 anos na Am¡¦ica Central -- mais atividade ocorre no n¡¦el popular.
P: At?que ponto os narc¡¦icos e a corrupção est¡¦ amea¡¦ndo a democracia na Am¡¦ica Central?
Em termos de corrupção, acho que esse ?um assunto ainda mais sens¡¦el. Esse problema est?entre os temas que foram discutidos na C¡¦ula das Am¡¦icas e na Organização dos Estados Americanos (OEA). E eu acho que h?um reconhecimento de que os governos na regi¡¦ precisam tomar provid¡¦cias contra a corrupção. Portanto, o combate ?corrupção, a maior transpar¡¦cia e maior profissionalismo no setor p¡¦lico s¡¦ quest¡¦s nas quais estamos vendo cada vez mais interesse.
P: H?outras amea¡¦s ?regi¡¦?
P: O senhor se preocupa com a possibilidade de haver retrocessos, agora que as nações est¡¦ progredido com relação ?democracia? Quais s¡¦ os sinais de alerta e que mecanismos devem ser acionados quando esses sinais de alerta aparecerem?
Mas os recuos, eu imagino, sempre s¡¦ poss¡¦eis. Eles podem ocorrer de muitas formas. Dificuldades econ¡¦icas, por exemplo. Disputas entre as nações, quest¡¦s fronteiri¡¦s, por exemplo - - podem causar problemas. Situações internas podem causar problemas -- criados por exemplo, por l¡¦eres carism¡¦icos da "velha escola". Mas eu acho que as chances de isso acontecer s¡¦ menores a cada dia que passa, porque o exemplo mundial, a tend¡¦cia mundial, aponta para uma democratização cada vez maior. Acho que agora os pa¡¦es podem contar com o apoio dos seus vizinhos em termos de democratização. Isso poderia acontecer na Am¡¦ica Central; se um pa¡¦ come¡¦sse a recuar, os pr¡¦rios vizinhos se sentiriam incomodados. E se algum movimento antidemocr¡¦ico come¡¦r a se manifestar, a OEA como organização poderiam, possivelmente, intervir e alertar as partes interessadas, dizendo que isso ?uma coisa que n¡¦ deve acontecer.
Portanto, temos muita esperan¡¦ de que n¡¦ haver?reveses no processo de democratização. Acreditamos que o sistema internacional e o sistema regional que est¡¦ instalados na regi¡¦ tornariam um recuo desse tipo mais dif¡¦il.
Agenda de Pol¡¦ica Externa dos EUA
Revista Eletr¡¦ica da USIA
Vol. 3, N?3, Julho de 1998