A continuidade da exist¡¦cia de amea¡¦s de terroristas -- aliada ?disponibilidade cada vez maior de armas nucleares, qu¡¦icas e biol¡¦icas -- "faz com que o mundo se torne um lugar muito mais perigoso" para todos, diz Holum. E al¡¦ disso, existe a amea¡¦ da guerra de informação, que, segundo ele, pode danificar os elementos de uma sociedade moderna e funcional, "por meio de tipos de ataque n¡¦-convencionais". Holum ?o subsecret¡¦io de Estado Interino para Quest¡¦s de Controle de Armamento e Seguran¡¦ Internacional, e diretor da Ag¡¦cia dos Estados Unidos para Controle de Armas e Desarmamento. A entrevista foi concedida ao nosso colaborador Jacqui Porth.
Pergunta: Os requisitos de seguran¡¦ dos Estados Unidos mudaram muito no per¡¦do p¡¦-guerra fria. Onde havia uma amea¡¦ ¡¦ica e identific¡¦el -- a Uni¡¦ Sovi¡¦ica -- agora h?muitas amea¡¦s que requerem a atenção dos Estados Unidos. O senhor poderia falar sobre algumas delas e os desafios que elas representam para a seguran¡¦ dos Estados Unidos?
Holum: Essas amea¡¦s realmente mudaram toda a nossa perspectiva no mundo, e eu espero que a nova realidade tenha atingido o cerne da nossa filosofia de seguran¡¦. O ataque com g¡¦ sarin no metr?de T¡¦uio em 1995 ?um exemplo do tipo de problemas que poder¡¦mos enfrentar. J?n¡¦ se trata mais do perigo de uma m¡¦sil da Uni¡¦ Sovi¡¦ica; agora estamos falando do perigo de um terrorista que pode trazer alguma coisa em uma mala, ou pode injetar alguma coisa em um reservat¡¦io de ¡¦ua, colocando em risco grandes segmentos da população.
A continuidade da exist¡¦cia de amea¡¦s de terroristas -- em conjunto com a disponibilidade cada vez maior de tecnologias nucleares, qu¡¦icas e biol¡¦icas -- faz com que o mundo se torne um lugar muito mais perigoso para todos n¡¦. Se voc?pensar nos atentados a bomba ocorridos no World Trade Center, no Oklahoma Federal Center ou no Olympic Park em Atlanta, e se pensar em quanto mais sofrimento teria havido se armas de destruição em massa -- mesmo as mais primitivas -- tivessem sido usadas, voc?pode ter uma id¡¦a do que n¡¦ poder¡¦mos estar enfrentando.
P: O senhor falou na amea¡¦ do terrorismo representado por armas nucleares, biol¡¦icas e qu¡¦icas, mas at?que ponto o senhor considera cada uma delas uma amea¡¦ s¡¦ia, e o que os Estados Unidos est¡¦ fazendo para enfrentar cada amea¡¦?
?verdade que, com o fim da Guerra Fria, as armas nucleares est¡¦ sendo desmontadas e os materiais cr¡¦icos para as armas nucleares est¡¦ sendo removidos. No entanto, na nossa opini¡¦, eles n¡¦ est¡¦ sendo armazenados com a devida seguran¡¦. E os sistemas de controle desses locais de armazenamento, e dos reatores nucleares de pesquisa na antiga Uni¡¦ Sovi¡¦ica, s¡¦ muito menos rigorosos do que eram antigamente.
Portanto, estamos trabalhando com muita energia no sentido de desenvolver, l?e em outros locais, sistemas de controle muito mais eficazes, invent¡¦ios, consolidação de dep¡¦itos, e sistemas de seguran¡¦, para evitar o roubo ou o desvio dos materiais cr¡¦icos para a fabricação de armas nucleares. Trata-se de uma quest¡¦ extremamente importante, e apesar da sua probabilidade relativamente pequena como amea¡¦, ela ainda ?significativa.
Acho que as armas qu¡¦icas s¡¦ as mais f¡¦eis de serem usadas pelos terroristas porque elas podem ser feitas em um espa¡¦ relativamente pequeno e n¡¦ requerem um n¡¦el muito elevado de compet¡¦cia t¡¦nica. E as mat¡¦ias-primas necess¡¦ias para a sua fabricação se encontram mais ou menos amplamente dispon¡¦eis.
As armas biol¡¦icas representam um meio-termo no que se refere ?probabilidade de uso, pois elas representam um desafio tecnol¡¦ico maior. Mesmo assim, as conseqüências poderiam ser horrendas.
A tend¡¦cia geral ?considerar as armas qu¡¦icas e biol¡¦icas como um grupo, e colocar as armas nucleares em outra categoria. Mas eu acho que as armas biol¡¦icas est¡¦ mais pr¡¦imas das armas nucleares em termos de potencial de destruição, porque as armas qu¡¦icas se dispersam e se tornam menos mortais na atmosfera. As armas biol¡¦icas, se encontrarem o ambiente adequado, podem se multiplicar; elas s¡¦ organismos vivos. E ?preciso usar uma quantidade muito menor para provocar uma doen¡¦ fatal. Al¡¦ disso eu as considero particularmente ultrajantes quando voc?leva em consideração o fato de que a humanidade vem trabalhando h?tanto tempo para eliminar doen¡¦s temidas -- antraz, a peste, e o botulismo -- e agora, pessoas perversas est¡¦, deliberadamente, preservando, cultivando e protegendo organismos mal¡¦icos para us?los como armas de terrorismo.
P: Quais s¡¦ os planos dos Estados Unidos no sentido de reagir a essas amea¡¦s em potencial?
A Convenção Sobre Armas Biol¡¦icas [Biological Weapons Convention] precisa ser fortalecida. Ela ?muito forte no que diz respeito ¡¦ suas proibições, mas ?quase inteiramente volunt¡¦ia. Precisamos ter um mecanismo mais forte para fazer com que a convenção seja observada. O presidente estabeleceu o ano de 1998 como um prazo para que n¡¦ complet¡¦semos um acordo b¡¦ico. As negociações v¡¦ sendo conduzidas desde 1995, e estamos trabalhando nisso com afinco.
At?agora s?falamos da parte externa. Existe, tamb¡¦, muita coisa que precisa ser feita internamente. E tem havido muitas Instruções Emitidas por Ordem do Presidente que tratam da nossa capacidade de reagir por meio de sistemas que garantem o cumprimento da lei, o gerenciamento de crises, e a localização e apreens¡¦ dos autores de atentados. A Instrução mais recente ?a de n.?63, que trata da infra-estrutura cr¡¦ica e das amea¡¦s n¡¦ convencionais e terrorismo.
P: O que o senhor tem a dizer sobre a natureza da amea¡¦ de guerra da informação, n¡¦ somente em termos de acesso n¡¦-autorizado aos sistemas de inform¡¦ica americanos, mas tamb¡¦ a poss¡¦el incapacitação dos servi¡¦s via sat¡¦ite, e que esperan¡¦ os Estados Unidos podem ter de contornar essa amea¡¦?
Algumas das nossas principais preocupações incluem a evolução de ferramentas de hackers que podem navegar pela Internet e podem permanecer on-line esperando uma v¡¦ima aparecer, e em seguida atacar e corromper um sistema, seja por sobrecarga ou por meio de falsas instruções, ou desabilitando-o de qualquer outra forma. Isso pode ser feito por meio de linhas telef¡¦icas internacionais, e pode vir de uma fonte aparentemente inocente, de modo que os rastros do intruso s¡¦ ocultados. E a nossa capacidade para lidar com essa amea¡¦ ? na verdade, muito limitada.
Sabemos que pa¡¦es como o Ir? o Iraque, e a L¡¦ia est¡¦ enveredando pelos caminhos da guerra de informação. Sabemos que o nosso pr¡¦rio Departamento de Defesa est?sendo alvo, umas 600 vezes por semana, se n¡¦ me engano, de tentativas de penetrar nos nossos sistemas de inform¡¦ica. Algumas pessoas que fazem isso podem ser consideradas "autores de brincadeiras inocentes", embora n¡¦ haja nada de engra¡¦do nisso, e algumas podem estar tentando corromper, intencionalmente, o sistema.
Reconhecendo as dimens¡¦s internacionais disso, h?tamb¡¦ a possibilidade de colaborarmos com outros -- primeiro, elevando o n¡¦el de conscientização sobre o problema, e segundo, estabelecendo convenções internacionais para a proteção de sistemas de inform¡¦ica. N¡¦ porque, como no caso do controle de armamentos, a convenção propriamente vai resolver o problema, mas porque ela nos proporciona uma ferramenta atrav¡¦ da qual podemos fazer um esfor¡¦ conjunto para lidar com esses inimigos cibern¡¦icos, por assim dizer.
P: O senhor mencionou riscos aos reservat¡¦ios de ¡¦ua, mas at?que ponto o senhor acha que as amea¡¦s de terrorismo ambiental s¡¦ reais? Estou me lembrando da Guerra do Golfo, em que o Iraque lan¡¦u m¡¦ de inc¡¦dios em po¡¦s de petr¡¦eo.
P: Quais s¡¦ as prioridades dos Estados Unidos no esfor¡¦ cont¡¦uo para eliminar a proliferação das armas de destruição em massa?
Eu gostaria de chamar a atenção para o trabalho de linha de frente dos esfor¡¦s para a n¡¦-proliferação -- uma coisa que raramente ?vista em p¡¦lico, mas que acontece de maneira coerente e agressiva. Trata-se do trabalhoso processo de examinar relat¡¦ios de intelig¡¦cia, de identificar carregamentos de materiais perigosos -- um ingrediente de arma qu¡¦ica, um meio para o crescimento de armas biol¡¦icas, ou a¡¦s especiais que poderiam ser usados na fabricação de m¡¦seis -- e interceptar esses carregamentos, e em seguida ir at?a fonte e dizer, "Algu¡¦ no seu pa¡¦ vai vender para o Ir?um a¡¦ especial que se destina ao seu programa de m¡¦seis. Voc?deve impedir isso, pois voc?tem uma obrigação pol¡¦ica internacional, de acordo com o Regime de Controle de Tecnologia de M¡¦seis, de n¡¦ permitir que tal coisa aconte¡¦.
?nessas circunst¡¦cias que o trabalho di¡¦io de n¡¦-proliferação ?feito. Isso ilustra todos os elementos de uma estrat¡¦ia bem sucedida. Voc?tem que ter uma obrigação pol¡¦ica, pelo menos, para poder se dirigir ao pa¡¦ envolvido e dizer: "Fazer com que isso pare ?responsabilidade sua." Voc?tem que ter a tecnologia e o equipamento de detecção para poder descobrir o que est?acontecendo. Voc?pode descobrir atrav¡¦ de fontes de intelig¡¦cia; ou por meio de detectores de radiação que s¡¦ instalados nas fronteiras. A tecnologia est?evoluindo. E voc?precisa ter recursos diplom¡¦icos no local, para tentar interceptar os carregamentos.
P: Por que os Estados Unidos est¡¦ promovendo o banimento do material f¡¦sil para armas nucleares? Qual ?a estrat¡¦ia dos Estados Unidos e o que ?que os governo dos Estados Unidos quer que outras nações fa¡¦m?
Ele ?tamb¡¦ uma forma de evitar que o problema se agrave, por exemplo, no sul da ¡¦ia. Se a ¡¦dia e o Paquist¡¦ participassem de tal tratado, n¡¦ resolver¡¦mos o problema nuclear na regi¡¦, mas ter¡¦mos um meio de evitar que o problema assumisse proporções mais s¡¦ias do que as atuais. Ele pode ajudar a evitar uma corrida armamentista.
Temos essas negociações como objetivo desde 1995, na Confer¡¦cia Sobre o Desarmamento. At?o momento, n¡¦ conseguimos iniciar nenhuma negociação, embora a Assembl¡¦a Geral das Nações Unidas tenha endossado um mandato de negociação, em grande parte devido ao fato de que a ¡¦dia se op¡¦ ¡¦ negociações. Recentemente, esse pa¡¦ sinalizou sua disponibilidade para prosseguir com as negociações.
P: Diplom¡¦ica ou publicamente?
Enquanto isso, continuamos envidando nossos pr¡¦rios esfor¡¦s, tanto bilateralmente com os russos quanto trilateralmente entre a R¡¦sia, os Estados Unidos e a Ag¡¦cia Internacional de Energia At¡¦ica [International Atomic Energy Agency - IAEA]. Identificamos mais de 200 toneladas de material. Parte desse material ainda n¡¦ se encontra em condições de ser colocado sob a guarda da IAEA, mas j?colocamos 12 toneladas ?disposição da IAEA e mais material est?a caminho.
P: Em termos de amea¡¦s regionais, at?que ponto os Estados Unidos est¡¦ preparados para enfrentar esses desafios sozinhos e em que circunst¡¦cias os pa¡¦es dever¡¦ formar coaliz¡¦s para trabalharem juntos em uma crise?
P: O que os Estados Unidos est¡¦ fazendo para mudar a imagem segundo a qual, na condição de ¡¦ica super-pot¡¦cia remanescente no mundo, se tornaram uma nação "arrogante" no exerc¡¦io do poder?
Se estamos defendendo a causa da democracia ou a import¡¦cia de combater as armas de destruição em massa, se estamos tentando cumprir o papel de pacificador, ?¡¦vio que isso afeta os nossos interesses, mas isso tamb¡¦ atende a uma finalidade mais elevada do que simplesmente o interesse nacional. Isso, mais do que qualquer outra coisa, nos ajudar?a manter nossa imagem de pa¡¦ que exerce uma influ¡¦cia construtiva no mundo, em vez de um pa¡¦ que est?apenas tentando se impor sobre os outros.
?tamb¡¦ importante que estabele¡¦mos nosso di¡¦ogo com outros pa¡¦es de forma respeitosa. Pelo que tenho visto desde que voltei a trabalhar para o governo em 1993, realmente est?sendo feito um esfor¡¦ muito consciente nesse sentido. N¡¦ h?uma tend¡¦cia marcante, na nossa diplomacia, a sugerir que os pa¡¦es fa¡¦m coisas porque n¡¦ assim desejamos, e sim porque trata-se do seu pr¡¦rio interesse nacional. Acho que nos esfor¡¦mos, com o maior cuidado, para garantir que nossas relações se baseiem no respeito pelo ponto de vista do pa¡¦ e pelas suas necessidades de seguran¡¦.
P: O senhor poderia avaliar a função de resolução de conflitos e diplomacia preventiva no que diz respeito ?formulação da pol¡¦ica de seguran¡¦ dos Estados Unidos?
Uma ¡¦ea na qual eu estou muito envolvido refere-se ao risco de corridas armamentistas que envolvem armas convencionais, assim como armas de destruição em massa. Demos uma grande prioridade, por exemplo, ¡¦ provid¡¦cias b¡¦icas para o estabelecimento de um clima de confian¡¦ na Am¡¦ica Latina -- declarações de poderio militar e notificação antecipada, aos pa¡¦es vizinhos, sobre grandes compras de armamento. Essas ¡¦timas, pela sua pr¡¦ria natureza, trazem consigo a necessidade de que voc?discuta, com os seus pa¡¦es vizinhos, os motivos que o levaram a tomar tal atitude. E os di¡¦ogos sobre a seguran¡¦, entre as autoridades civis e militares, podem ser uma maneira de diminuir o perigo dos recursos militares existentes, e de outros momentos imprevistos de tens¡¦ no futuro.
P: O programa da Parceria Para a Paz tem sido um grande sucesso para os antigos pa¡¦es do Pacto de Vars¡¦ia e outros. De que forma o conceito de parceria se tornou uma base para as relações estrat¡¦icas em outros lugares?
P: Que implicações tem um fen¡¦eno puramente econ¡¦ico como a crise financeira da ¡¦ia para os interesses de seguran¡¦ dos Estados Unidos?
P: Quais ser¡¦ as principais preocupações no s¡¦ulo XXI para a pol¡¦ica de seguran¡¦ dos Estados Unidos?
Acho que as armas de destruição em massa inevitavelmente far¡¦ parte da pauta de discuss¡¦s. Acho que estamos progredindo. Progredimos muito nos ¡¦timos quatro ou cinco anos, mas a dificuldade ?que a tecnologia tamb¡¦ evoluiu. A tecnologia est?mais acess¡¦el, e portanto o risco - - apesar dos nossos ganhos - - ainda ?muito significativo. E h?toda uma nova classe de perigos para a nossa infra-estrutura cr¡¦ica - - seja os seus sistemas de inform¡¦ica, ou sistemas de transporte, ou estrutura energ¡¦ica. Todos os componentes que fazem com que uma sociedade moderna funcione podem correr riscos devido a tipos n¡¦ convencionais de ataque.
Agenda de Pol¡¦ica Externa dos EUA
Revista Eletr¡¦ica da USIA
Vol. 3, N?3, Julho de 1998