TR¡¦ICO DE ARMAS DE PEQUENO PORTE E ARMAMENTOS LEVES: PODE SER CONTROLADO?

Herbert L. Calhoun, Especialista S¡¦ior em Assuntos Externos e
Vice-Diretor de Divis¡¦, Escrit¡¦io de Assuntos Pol¡¦icos e Militares,
Departamento de Estado dos Estados Unidos

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photo of Herbert Calhoun "Desde o fim da Guerra Fria, o interesse voltou-se para armas de pequeno porte e armamentos leves, principalmente como resultado do aumento dram¡¦ico do n¡¦ero, duração e destrutividade de conflitos entre Estados, muitos dos quais motivaram custosas miss¡¦s de manutenção da paz das Nações Unidas", afirma Herbert L. Calhoun, especialista s¡¦ior em assuntos internos e vice-diretor de divis¡¦, Escrit¡¦io de Assuntos Pol¡¦icos e Militares, Departamento de Estado dos Estados Unidos. "A mudan¡¦ do cen¡¦io de seguran¡¦ internacional de poucas guerras eventuais de larga escala entre Estados para freq¡¦ntes conflitos de pequena escala entre Estados ocorreu em uma ¡¦oca em que as normas internacionais, os regimes de controle de exportação e os tratados de controle ou eliminação de armas de destruição em massa est¡¦ fazendo progressos substanciais."

A maior parte dos esfor¡¦s de controle de armas desde a Segunda Guerra Mundial dedicou-se a armas nucleares e outras de destruição em massa, ou armas pesadas convencionais. Desde que o secret¡¦io geral das Nações Unidas emitiu um suplemento ?sua Agenda da Paz de 1995 sobre o assunto (janeiro de 1995), vem sendo dedicada maior atenção ¡¦ armas que est¡¦ realmente produzindo os horrores vivenciados na ¡¦rica, nos B¡¦c¡¦ e em outras partes do mundo. Esses armamentos s¡¦ armas de pequeno porte e armamentos leves, tais como minas terrestres, rifles de assalto (como o AK-47) e metralhadoras. Este artigo examina os esfor¡¦s recentes para tratar das quest¡¦s, desenvolver e estabelecer controles internacionais apropriados sobre armas de pequeno porte e armamentos leves. A quest¡¦ do controle de minas terrestres de combate a soldados seguiu percurso separado e n¡¦ ?abordado no presente.

O Que Sao Armas de Pequeno Porte e Armamentos Leves?

Em um contexto mais amplo, armas de pequeno porte e armamentos leves incluem grande variedade de instrumentos letais, desde rev¡¦veres at?sistemas de defesa a¡¦ea individuais. Embora n¡¦ exista definição universalmente aceita de armas de pequeno porte, a express¡¦ ?normalmente considerada como abrangendo rev¡¦veres individuais e sua munição, destinados principalmente para uso individual por for¡¦s militares como armamentos letais. Uma relação t¡¦ica de armas de pequeno porte inclui pistolas autom¡¦icas, rifles e carabinas, armas subautom¡¦icas, rifles de assalto e armas autom¡¦icas leves. N¡¦ se incluem nessa lista os rifles de ca¡¦, rev¡¦veres civis e armas consideradas itens de colecionador, tais como pe¡¦s de museus e outras armas preservadas para fins hist¡¦icos.

Os armamentos leves s¡¦ normalmente mais pesados e maiores que as armas de pequeno porte e destinam-se a ser empregados por uma pequena equipe ou tripulação de pessoal de infantaria. Eles incluem algumas armas de fogo individuais e sua munição, armas e foguetes de artilharia leve e m¡¦seis teleguiados para uso contra ve¡¦ulos blindados, avi¡¦s ou fortificações. Uma relação t¡¦ica de armamentos leves poder?tamb¡¦ incluir armas autom¡¦icas lan¡¦doras de granadas manuais, sob barreiras e montadas, sistemas de defesa a¡¦ea individuais (tais como armas e m¡¦seis anti-a¡¦eos port¡¦eis), bombas anti-tanques e rifles sem coice, sistemas lan¡¦dores de foguetes e anti-tanques port¡¦eis e morteiros de calibre abaixo de 100 mm. Os armamentos leves encontram-se imediatamente abaixo das sete categorias de armas de grande porte relatadas para o Registro de Armas Convencionais das Nações Unidas e s¡¦, portanto, uma categoria intermedi¡¦ia entre "armas de pequeno porte" e "armas de grande porte".

Em comparação com sistemas complexos de armas de grande porte, as armas de pequeno porte e armamentos leves s¡¦ mais amplamente produzidas e dispon¡¦eis, relativamente f¡¦eis de serem ocultados e exigem pouca manutenção, apoio log¡¦tico e treinamento para sua operação.

A Que Se Deve o Recente Aumento do Interesse Pelas
Armas De Pequeno Porte e Armamentos Leves?

Desde o final da Guerra Fria, o interesse voltou-se para armas de pequeno porte e armamentos leves, principalmente como resultado do aumento dr¡¦tico do n¡¦ero, duração e destrutividade dos conflitos entre Estados, muitos dos quais motivaram custosas miss¡¦s de manutenção da paz das Nações Unidas. A mudan¡¦ do cen¡¦io de seguran¡¦ internacional de poucas guerras eventuais de larga escala entre Estados para conflitos freq¡¦ntes de pequena escala ocorreu em um momento em que as normas internacionais, os regimes de controle de exportação e os tratados de controle ou eliminação de armas de destruição em massa est¡¦ fazendo progressos substanciais. Ao mesmo tempo, a proliferação e o mau uso criminoso de armas de pequeno porte e armamentos leves v¡¦ representando amea¡¦s crescentes ?seguran¡¦ nacional e regional.

Essas armas alimentaram dezenas de conflitos locais e entre Estados mundo afora, matando, ferindo e deslocando milh¡¦s de pessoas, principalmente mulheres e crian¡¦s, da Alb¡¦ia at?a Rep¡¦lica Democr¡¦ica do Congo. Elas s¡¦ as reais armas de destruição em massa de hoje em dia. Patrick Brogan relata em "World Conflicts" (The Scarecrow Press, 1998) que entre 20 e 30 milh¡¦s de mortes ocorreram nas 85 guerras ocorridas desde 1945. O Instituto de Estudos Internacionais da ¡¦rica do Sul informa que somente a ¡¦rica sofreu 5.994.000 fatalidades nos ¡¦timos 50 anos, devido principalmente ¡¦ armas de pequeno porte e armamentos leves. O Comit?Norte-Americano de Refugiados calcula que, em 1997, havia mais de 14 milh¡¦s de refugiados em terras estrangeiras e mais de 19 milh¡¦s de "refugiados internos", n¡¦ero similar ao movimento em massa de povos ap¡¦ a Segunda Guerra Mundial. Em resumo, a regulamentação das armas de pequeno porte e armamentos leves, em comparação com as armas de destruição em massa, permanece um assunto relativamente subdesenvolvido.

As estimativas do n¡¦ero de armas de pequeno porte e armamentos leves variam de 100 a 500 milh¡¦s, com 50 a 80 milh¡¦s sendo rifles de assalto AK-47. Um n¡¦ero cada vez maior de pa¡¦es est?se tornando auto-suficiente na fabricação de armas de pequeno porte e respectiva munição, seja atrav¡¦ de produção dom¡¦tica ou licenciada. H?registros de que um rifle de assalto AK-47 pode ser adquirido nas ruas de alguns pa¡¦es em desenvolvimento por at?US$ 10,00, ou em troca de uma galinha ou um ganso. Em outros pa¡¦es, rifles AK-47 podem ser alugados por uma hora por criminosos, unicamente com o prop¡¦ito de realizar um ato criminoso. Transfer¡¦cias internacionais tamb¡¦ s¡¦ importante fonte de fornecimento de armas de pequeno porte e armamentos leves, atrav¡¦ de um sem-n¡¦ero de canais, tanto legais como ilegais.

Os efeitos negativos da proliferação e do tr¡¦ico il¡¦ito de armas de pequeno porte e armamentos leves s¡¦ diversos e de longo alcance. Embora sejam mais importantes as amea¡¦s maiores ?seguran¡¦ regional e internacional, esses efeitos tamb¡¦ v¡¦ sendo sentidos indiretamente na forma de aumentos dram¡¦icos dos custos de manutenção da paz resultantes do crescente n¡¦ero e intensidade dos conflitos entre Estados. Outros aspectos negativos desses armamentos incluem seu maior uso por terroristas, a ampliação das amea¡¦s aos mantenedores da paz das Nações Unidas e aos trabalhadores de assist¡¦cia humanit¡¦ia, bem como o enfraquecimento da implementação dos acordos de paz. A necessidade urgente de reprimir a proliferação e o mau uso desses armamentos, que foi ressaltada por dois secret¡¦ios gerais das Nações Unidas, levantou uma s¡¦ie de desafios humanit¡¦ios, de execução das leis, de desenvolvimento e de seguran¡¦ para a comunidade internacional.

A Cultura e o Controle De Armas De Pequeno Porte e Armamentos Leves

A soberania dos Estados inclui, por definição, o direito de monopolizar o leg¡¦imo exerc¡¦io da for¡¦. Com base no Artigo 51 da Constituição das Nações Unidas, os Estados tamb¡¦ possuem o direito de fazer uso da for¡¦ em auto-defesa, ou em defesa da sua soberania. As armas de pequeno porte e os armamentos leves utilizados para manter a ordem dom¡¦tica e defender as fronteiras de uma nação representam a manifestação mais vis¡¦el e duradoura desses direitos b¡¦icos e, portanto, permanecer¡¦ sempre fortemente identificados com as quest¡¦s de independ¡¦cia e soberania. Uma extens¡¦ l¡¦ica desses direitos ?que os Estados tamb¡¦ possuem o direito de fabricar legalmente e adquirir, de qualquer outra forma, as armas necess¡¦ias para sua auto-defesa.

Tradicionalmente, s¡¦ as leis nacionais, e n¡¦ as internacionais, que determinam as condições de propriedade e uso de armas de pequeno porte e armamentos leves por for¡¦s de seguran¡¦ e cidad¡¦s privados. Assim, as tentativas internacionais de controle de armas de pequeno porte e armamentos leves devem considerar esses direitos fundamentais dos Estados. As normas culturais, valores sociais e tradições hist¡¦icas afetam a regulamentação dom¡¦tica de armas. Aprender a utilizar uma arma para auto-defesa, fins esportivos ou treinamento militar, por exemplo, ?comum para muitos pa¡¦es. As for¡¦s armadas, pol¡¦ia ou mil¡¦ias na maior parte dos pa¡¦es s¡¦ autorizadas a carregar e utilizar armas de pequeno porte de acordo com as leis dom¡¦ticas e, em alguns pa¡¦es como os Estados Unidos, cidad¡¦s privados tamb¡¦ podem faz?lo. O direito de possuir e portar armas pode at?ser garantido em legislação e constituições nacionais, como ?o caso nos Estados Unidos. Propostas de controle de armas de pequeno porte e armamentos leves necessitam considerar essas diferen¡¦s de orientação nacional e o fato de que os Estados protegem-se de forma ciumenta contra qualquer intromiss¡¦ externa nas suas pol¡¦icas dom¡¦ticas.

Causas da Inseguran¡¦

Embora as armas de pequeno porte e armamentos leves desempenhem papel significativo na exacerbação de conflitos que resultam em enormes custos humanos e s¡¦io-econ¡¦icos, as causas desses conflitos residem em diferen¡¦s e disparidades pol¡¦icas, econ¡¦icas, ¡¦nicas e religiosas. Essas muitas vezes s¡¦ agravadas por defici¡¦cias relativas ao governo e falta ou fraqueza das instituições democr¡¦icas e da observação dos direitos humanos. As condições de inseguran¡¦ end¡¦ica e estruturas de execução da lei e regulat¡¦ias deficientes e entre os Estados, associadas ao fato de que essas armas s¡¦ baratas, amplamente dispon¡¦eis, facilmente ocultadas, transport¡¦eis atrav¡¦ de fronteiras porosas, exigem pouca manutenção e treinamento, aumentando os problemas de proliferação disseminada, tr¡¦ico il¡¦ito, posse e uso criminoso.

Oferta e Demanda

S¡¦ necess¡¦ias estrat¡¦ias do lado da oferta e do lado da demanda para superar o problema das armas de pequeno porte e armamentos leves. A circulação de armas sem controle em pa¡¦es com governos fr¡¦eis e hist¡¦ico de s¡¦ios problemas internos apenas exacerba as causas do conflito. A "sobredemanda", com suas muitas e indesejadas conseqüências, obviamente necessita ser tratada. Ao mesmo tempo, ?fato que a utilização de armamentos ?muitas vezes apenas um sintoma de males sociais mais profundos, males que produzem a inseguran¡¦ que orienta a demanda por armamentos. A remoção dos instrumentos sem cuidar das causas da inseguran¡¦ simplesmente gerar?nova demanda por armamentos de reposição, sem afetar as fontes de inseguran¡¦. Inevitavelmente, essas fontes, tais como o subdesenvolvimento, necessitam ser abordadas para que as tentativas de controle de armas sejam eficazes. A abordagem mais promissora para o conjunto completo dos problemas associados com as armas de pequeno porte equilibra os esfor¡¦s do lado da oferta e do lado da demanda e os integra a outros programas destinados a reduzir o subdesenvolvimento e outras causas b¡¦icas de inseguran¡¦.

Transfer¡¦cias Legais ou Ilegais?

As transfer¡¦cias legais e ilegais muitas vezes s¡¦ t¡¦ interligadas que ?dif¡¦il estabelecer uma base clara para disting¡¦-las. Muitos armamentos que se originam na produção ou exportações legais eventualmente caem em circulação ilegal. ?imposs¡¦el saber com certeza qual percentual das transfer¡¦cias de armas de pequeno porte e armamentos leves ?legal ou ilegal, ou quando e como os armamentos que foram originalmente transferidos de forma legal tornam-se ilegais em algum ponto da sua hist¡¦ia.

A crise da Som¡¦ia ?um bom caso para estudo. As armas que ajudaram a tornar essa crise pr¡¦ima da anarquia podem ser rastreadas diretamente para a grande oferta de rifles de assalto AK-47 trazidos de volta para a Som¡¦ia por cerca de 200.000 soldados adolescentes fugitivos da Guerra de Ogaden. O governo da Som¡¦ia, por raz¡¦s leg¡¦imas de seguran¡¦, adquiriu legalmente esses armamentos. Muitas armas adquiridas legalmente para necessidades de seguran¡¦ em um conflito acabam sendo utilizadas para prop¡¦itos il¡¦itos em outro. Elas s¡¦ muitas vezes recirculadas por governos ou subgrupos ¡¦nicos simpatizantes do ex¡¦cito ou de for¡¦s rebeldes de outro. Alguns armamentos recuperados em programas de recompra em El Salvador foram utilizados no Vietn? Uganda e Angola. Uma das quest¡¦s mais surpreendentes enfrentadas pelos analistas e estudiosos ? "De que forma medidas internacionais para regulamentar armas de pequeno porte e armamentos leves determinam a ambig¡¦dade entre o que ?l¡¦ito em uma ocasi¡¦ e il¡¦ito em outra?"

Resposta da Comunidade Internacional

As Nações Unidas permanecem na linha de frente dos esfor¡¦s para restringir a difus¡¦ de armas de pequeno porte e armamentos leves. Com base nas iniciativas anteriores que convocaram a ação de combate ao com¡¦cio il¡¦ito e uso criminoso de armas de pequeno porte e armamentos leves, a Assembl¡¦a Geral das Nações Unidas adotou uma s¡¦ie de resoluções nos ¡¦timos anos, convocando diversas ações em todos os n¡¦eis.

  • Resolução 46/36 H de 6 de dezembro de 1991: conclamou os Estados a conter o tr¡¦ico ilegal de armas, assegurando melhor controle sobre os estoques e transfer¡¦cias, encorajando o trabalho a todos os n¡¦eis para harmonizar leis e procedimentos relevantes. Essa resolução continha uma lista de medidas indicativas a serem implementadas em escala nacional, regional e internacional.

  • Resolução 50/70 B de 12 de dezembro de 1995: solicitou ao secret¡¦io geral o estabelecimento de um painel de especialistas governamentais para preparar um relat¡¦io sobre a natureza e as causas do problema de armas de pequeno porte. Foi estabelecido um painel de 16 nações, que se reuniu pela primeira vez em 24 de junho de 1996 e, posteriormente, em julho de 1997. Em outubro de 1997, o painel publicou um relat¡¦io que analisou a natureza e as causas dos problemas de armas de pequeno porte e forneceu uma s¡¦ie de recomendações para ações volunt¡¦ias dos Estados para cuidar do problema.

  • Resolução 52/38 J de 1997: estabeleceu um segundo painel de 23 membros, que se reuniu em 1998, para analisar a implementação das recomendações do primeiro relat¡¦io, sugerir medidas adicionais e examinar a viabilidade de realização de uma confer¡¦cia internacional sobre o tr¡¦ico il¡¦ito de armas de pequeno porte em todos os seus aspectos.

  • Resolução 51/45 N de dez de dezembro de 1996 e 52/38 G de nove de dezembro de 1997, em que as primeiras resoluções destinaram-se a atender aos aspectos p¡¦-conflito do desarmamento. Salientou-se a import¡¦cia e os benef¡¦ios da instituição de certas medidas pr¡¦icas de desarmamento durante e ap¡¦ os conflitos (medidas como recolhimento, controle e descarte de armas de pequeno porte e armamentos leves, desmobilização e reintegração de ex-combatentes, bem como formas de restringir a produção e as transfer¡¦cias il¡¦itas.

  • Resolução 54/54 V de 15 de dezembro de 1999: convocou uma confer¡¦cia internacional sobre "o com¡¦cio il¡¦ito de armas de pequeno porte e armamentos leves em todos os seus aspectos", durante o ver¡¦ de 2001. A resolução especificou que a confer¡¦cia deveria produzir um programa de ação global como resultado principal. A confer¡¦cia estava programada para ter lugar entre nove e 20 de julho de 2001; e de 20 a 30 de mar¡¦ de 2001. O comit?preparat¡¦io decidiu suas quest¡¦s principais de procedimento e completou uma segunda leitura do seu Programa de Ação provis¡¦io. J?s¡¦ altas as expectativas sobre as perspectivas para a confer¡¦cia, mas uma s¡¦ie de quest¡¦s relativamente dif¡¦eis permanece sem solução no texto do Programa de Ação provis¡¦io.

As ações das Nações Unidas sobre armas de pequeno porte e armamentos leves n¡¦ se limitam ?Assembl¡¦a Geral. Em declaração de setembro de 1999, o Conselho de Seguran¡¦ da ONU tamb¡¦ reconheceu o problema crescente. E existe ainda interesse dos n¡¦eis mais altos das Nações Unidas. Conforme observamos na introdução, o secret¡¦io geral emitiu convocação para ação na ¡¦ea de armas de pequeno porte e armamentos leves, em 1995. No suplemento ?"Agenda para a Paz", ele observou os progressos consider¡¦eis feitos no tratamento das armas de destruição em massa (WMD) e encorajou a comunidade internacional a voltar-se para as armas que est¡¦ "realmente matando centenas de milhares de pessoas e que est¡¦ sendo utilizadas nos conflitos de que participam as Nações Unidas: armas de pequeno porte e armamentos leves". Em resposta ao apelo do secret¡¦io geral, desenvolveu-se ampla onda de iniciativas que ainda prosseguem.

Em novembro de 1997, por exemplo, os Estados Unidos, o M¡¦ico e outros 26 governos do Hemisf¡¦io Ocidental assinaram uma convenção negociada atrav¡¦ da Organização dos Estados Americanos (OEA) contra a fabricação il¡¦ita e o tr¡¦ico de armas de fogo, munição e materiais explosivos. O tratado exige que os Estados fortale¡¦m os controles fronteiri¡¦s, registrem as armas de fogo e compartilhem informações sobre fabricantes, negociantes, importadores e exportadores de armas.

Em maio de 1998, os quinze membros da Uni¡¦ Europ¡¦a estabeleceram compromisso pol¡¦ico sobre um c¡¦igo de conduta que governa as transfer¡¦cias de armas. O c¡¦igo estabelece oito crit¡¦ios para exportações de armas da Uni¡¦ Europ¡¦a, que imp¡¦m restrições sobre transfer¡¦cias para os violadores dos direitos humanos, governos repressivos e exportações a regi¡¦s de conflitos prolongados. Em dezembro de 1998, em esfor¡¦ para combater ac¡¦ulos desestabilizadores de armas de pequeno porte, os pa¡¦es da Uni¡¦ Europ¡¦a tamb¡¦ adotaram uma Ação Conjunta sobre Armas de Pequeno Porte, com compromissos legais. A Ação Conjunta destina-se a auxiliar o impulso ?difus¡¦ de armas de pequeno porte, ao apoiar reduções de invent¡¦io, registros regionais, interc¡¦bios de informações, aumento dos controles nacionais, aumento da educação e conhecimento e de fornecimento de incentivos para que as facções em guerra rendam-se e destruam suas armas.

Em julho de 1998, 21 nações reuniram-se em Oslo, Noruega, sob o comando daquele governo, para a primeira confer¡¦cia internacional governamental sobre armas de pequeno porte. Os participantes concordaram que a complexidade dos problemas das armas de pequeno porte exige ações e busca de m¡¦tiplas facetas ao longo de uma variedade de caminhos paralelos. O consenso de Oslo foi incorporado a um documento final, "Elementos de Entendimento Comum", que convocou apoio global ¡¦ 11 iniciativas internacionais existentes. Em dezembro de 1999, uma segunda confer¡¦cia promovida pela Noruega foi realizada em Oslo. Participou um conjunto geograficamente variado de 18 pa¡¦es. O objetivo dessa confer¡¦cia era fazer balan¡¦ dos desenvolvimentos em andamento e concentrar-se em discuss¡¦s profundas sobre o com¡¦cio de armas. O resultado dessa segunda confer¡¦cia foi outra edição de "Elementos de Entendimento Comum", que identificou ¡¦eas para maiores estudos e descreveu uma s¡¦ie de poss¡¦eis medidas para solucionar os problemas de com¡¦cio de armas.

Na C¡¦ula de Pa¡¦es N¡¦-Alinhados de agosto/setembro de 1998 em Durban, ¡¦rica do Sul, os chefes de Estado exprimiram preocupação sobre a transfer¡¦cia e circulação il¡¦ita de armas de pequeno porte e sua proliferação, que constituem s¡¦ia amea¡¦ ?seguran¡¦ nacional e regional de muitos pa¡¦es n¡¦-alinhados. Eles solicitaram aos participantes da C¡¦ula a adoção de medidas para lidar de forma eficaz com os problemas de armas de pequeno porte atrav¡¦ de meios administrativos e legislativos, convocando os produtores e as nações com os maiores arsenais a reduzirem significativamente a produção e o com¡¦cio de armas convencionais.

Seguindo-se ?oportunidade criada pela primeira confer¡¦cia de Oslo, o governo da B¡¦gica promoveu, em outubro de 1998, a primeira confer¡¦cia da sua esp¡¦ie sobre "Desarmamento Sustent¡¦el para o Desenvolvimento Sustent¡¦el". Cerca de noventa pa¡¦es, al¡¦ de um grande n¡¦ero de organizações n¡¦-governamentais (ONGs) se fizeram representar em Bruxelas. A confer¡¦cia rejeitou a id¡¦a de que desarmamento e desenvolvimento poderiam ser tratados com sucesso isoladamente e convocou as nações a adotarem uma abordagem integrada. A confer¡¦cia de Bruxelas emitiu uma "Convocação de Ações", delineando, em detalhes abrangentes, as atividades que a comunidade internacional dever?considerar para tratar dos problemas de armas de pequeno porte e desenvolvimento.

Em outubro de 1998, os 16 Estados membros da Comunidade Econ¡¦ica de Estados do Oeste Africano (ECOWAS), liderados pelo presidente da Rep¡¦lica do M¡¦i, Alpha Oumar Konare, declararam morat¡¦ia renov¡¦el por tr¡¦ anos sobre a produção, importação e exportação de armamentos leves na regi¡¦ do oeste africano. Este foi o ¡¦ice de quase cinco anos de esfor¡¦s intensivos da parte do governo do M¡¦i, das Nações Unidas e de outros governos, tanto da regi¡¦ como de fora dela, para o estabelecimento da primeira morat¡¦ia sobre armas convencionais de todos os tempos. Foi estabelecido um mecanismo organizacional para implementar e administrar a morat¡¦ia, ?medida que uma s¡¦ie de nações considera como melhor contribuir para o seu sucesso. A Morat¡¦ia da ECOWAS dever?ser renovada em 31 de outubro de 2001.

Al¡¦ das ações intergovernamentais, as ONGs v¡¦ tamb¡¦ desempenhando importante papel ao elevarem a consci¡¦cia da comunidade internacional, conduzindo o fardo da pesquisa acad¡¦ica e estabelecendo conjuntos eficazes de dados. Elas tamb¡¦ ajudaram a fortalecer a ação dos governos em apoio aos esfor¡¦s sobre armas de pequeno porte e armamentos leves. As ONGs tamb¡¦ promoveram confer¡¦cias e semin¡¦ios fundamentais, participando da maior parte das confer¡¦cias promovidas por governos. Sua constante promoção da melhor cooperação entre os governos, sociedade civil e ONGs assegura que o progresso no campo das armas de pequeno porte ser?constante e cumulativo.

A Reação norte-americana

Em seu pronunciamento de abertura para a 50?Assembl¡¦a Geral das Nações Unidas, o presidente Clinton reconheceu a necessidade de dedicar mais atenção sobre o problema das armas de pequeno porte e problemas relacionados de tr¡¦ico de drogas, contrabando e aumento do terrorismo. A abordagem norte-americana sobre armas de pequeno porte vem sendo de cuidar, de forma equilibrada, tanto quest¡¦s ligadas ?demanda, ou causas subjacentes, como quest¡¦s ligadas ?oferta, tais como o tr¡¦ico il¡¦ito. Como esfor¡¦ para obstruir fluxos il¡¦itos, bem como regulamentar melhor os fluxos legais, os Estados Unidos utilizam a totalidade das suas ferramentas pol¡¦icas em todos os n¡¦eis. Os esfor¡¦s norte-americanos relativos ?demanda incluem as iniciativas da Ag¡¦cia Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) para promover o estabelecimento de pr¡¦icas e instituições democr¡¦icas, ¡¦fase cont¡¦ua sobre o respeito aos direitos humanos, adoção de reação integrada para crises transnacionais complexas, implementação de uma s¡¦ie de medidas pr¡¦icas de desenvolvimento e desarmamento p¡¦-conflito e apoio ao estabelecimento e aumento das capacidades regulat¡¦ias e de execução da lei em sociedades amea¡¦das e devastadas pela guerra.

Do lado da oferta, os Estados Unidos procuram globalizar as "melhores pr¡¦icas", que incluem: incentivar a adoção global de regulamentações modelo sobre transfer¡¦cias comerciais de armas; imposição de controles sobre transações de comercialização e reexportação de armas; apoiar a implementação eficaz do rec¡¦-completado Protocolo de Armas de Fogo de Viena (dois de mar¡¦ de 2001), com base no modelo da OEA; fornecer assist¡¦cia para a destruição de armas e estoques de seguran¡¦; e promover a conclus¡¦ precoce de um acordo internacional para restringir os sistemas de defesa a¡¦ea individuais. No outono de 1998, os Estados Unidos lan¡¦ram uma s¡¦ie de importantes iniciativas pol¡¦icas dirigidas principalmente ?conex¡¦ entre fluxo de armas e conflitos na ¡¦rica.

Devido ao comprometimento demonstrado pelas suas ações, os Estados Unidos s¡¦ reconhecidos como l¡¦er nos esfor¡¦s para o controle de armas de pequeno porte e armamentos leves. Como nação fornecedora, os Estados Unidos tomaram a s¡¦io sua responsabilidade de manutenção dos mais altos padr¡¦s de transpar¡¦cia, controles de exportação, restrição de transfer¡¦cias de armas e regulamentação das atividades comerciais. Os Estados Unidos estabeleceram parcerias com Estados com pensamentos similares para atender a uma s¡¦ie de quest¡¦s de armas de pequeno porte e armamentos leves, que incluem a destruição de armamentos, coordenação de assist¡¦cia a Estados afetados, apoio ¡¦ iniciativas regionais e fortalecimento da execução dos embargos do Conselho de Seguran¡¦ das Nações Unidas.

Na Reuni¡¦ Ministerial especial do Conselho de Seguran¡¦ da ONU sobre a ¡¦rica, em setembro de 1999, os Estados Unidos iniciaram uma s¡¦ie de medidas concretas, que foram implementadas ao longo dos dois ¡¦timos anos. Elas incluem:

  • compromissos com a revelação completa e oportuna de todos os embarques de armas sendo transferidos para regi¡¦s ou zonas de conflito na ¡¦rica;

  • apoio internacional para a morat¡¦ia volunt¡¦ia das vendas de armas que poderiam alimentar conflitos interconectados;

  • reuni¡¦s de governos e organizações internacionais e n¡¦-governamentais para interc¡¦bio de informações sobre transfer¡¦cias regionais de armas;

  • aumento da ajuda para capacitação na ¡¦rica, a fim de monitorar e interditar fluxos de armas e fortalecer a execução de sanções;

  • adoção de legislação nacional para criminalizar as violações de embargos obrigat¡¦ios de armas e outros regimes de sanções; e

  • apoio para a efetiva implementação do Protocolo de Armas de Fogo e do acordo multilateral que restringe a exportação de sistemas de defesa individuais.

Estas iniciativas complementaram e refor¡¦ram uma s¡¦ie de iniciativas existentes por parte dos Estados Unidos, destinadas a por fim ?viol¡¦cia na ¡¦rica. Em 1994, por exemplo, o governo norte-americano promulgou a Lei da Resolução dos Conflitos Africanos, que exige que as ag¡¦cias norte-americanas relatem anualmente ao Congresso seus esfor¡¦s para aprimorar as capacidades de resolução de conflitos na ¡¦rica. Na Reuni¡¦ Ministerial Estados Unidos-¡¦rica de mar¡¦ de 1999, intitulada "Parceria para o S¡¦ulo XXI", os Estados Unidos reafirmaram seu apoio ?iniciativa Reação ?Crise Africana (ACRI). Desde 1993, os Estados Unidos contribu¡¦am com US$ 8 milh¡¦s para apoiar a ACRI.

Os Estados Unidos lideraram uma s¡¦ie de ações destinadas a por fim e a evitar novas ocorr¡¦cias de genoc¡¦io em Ruanda, que incluem: reuni¡¦s com outros chefes de Estado na C¡¦ula de Entebbe, em mar¡¦ de 1998; promoção da resolução das Nações Unidas que reativou a Comiss¡¦ de Fluxo de Armas das Nações Unidas para identificar e suspender o tr¡¦ico ilegal de armas ¡¦ antigas for¡¦s armadas e mil¡¦ias de Ruanda; e concess¡¦ de apoio norte-americano ao Relat¡¦io do Secret¡¦io Geral da ONU para o Conselho de Seguran¡¦ sobre as Causas de Conflito e a Promoção da Paz Duradoura e do Desenvolvimento Sustent¡¦el na ¡¦rica, de abril de 1998. No in¡¦io de 2000, os Estados Unidos come¡¦ram a trabalhar com o Instituto Africano para a Prevenção do Crime e Tratamento de Ofensores (UNAFRI) das Nações Unidas, para investigar as regulamentações, leis e capacidades das nações africanas. O trabalho desse projeto prossegue. Os Estados Unidos continuam seus esfor¡¦s para estender apoio pol¡¦ico, t¡¦nico e material aos esfor¡¦s do M¡¦i e seus vizinhos para implementar a morat¡¦ia da importação, exportação e fabricação de armamentos leves no oeste africano.

Al¡¦ disso, os Estados Unidos participam de ampla variedade de grupos de trabalho, confer¡¦cias e reuni¡¦s internacionais, que incluem o Grupo de Especialistas Governamentais sobre Armas de Pequeno Porte das Nações Unidas, cujos relat¡¦ios de 1997 e 1999 fizeram uma s¡¦ie de recomendações que foram endossadas pelos Estados Unidos. Os Estados Unidos tamb¡¦ participam das discuss¡¦s de Desarmamento Pr¡¦ico da Comiss¡¦ de Desarmamento das Nações Unidas.

Al¡¦ das reuni¡¦s promovidas pelas Nações Unidas, os Estados Unidos enviaram delegações de n¡¦el s¡¦ior ¡¦ confer¡¦cias de Oslo e Bruxelas, desempenhando papel proeminente na negociação dos documentos nelas contratados. Os Estados Unidos ap¡¦am as consultas de quest¡¦s de armas de pequeno porte da Parceria para a Paz (PfP) e do Pacto para a Estabilidade do Sudeste Europeu, do Conselho de Parceria Atl¡¦tico-Europeu e da Organização para a Seguran¡¦ e Cooperação na Europa, e delas participa.

Os Estados Unidos consultaram a Noruega, o Canad? a ¡¦rica do Sul e outros pa¡¦es-chave, mantendo di¡¦ogo de alto n¡¦el com a B¡¦gica, para ajudar a desenvolver ainda mais a agenda internacional de armas de pequeno porte e compartilhar id¡¦as sobre planos futuros sobre desarmamento e desenvolvimento.

Os Estados Unidos participam do Acordo de Wassenaar, de 33 membros, do Grupo dos Seis sobre Armas, do Subgrupo de Armas de Fogo do Grupo G-8 de Lyon e do F¡¦um da Comunidade para o Desenvolvimento do Sul da ¡¦rica (SADC), onde emitiu uma Declaração Conjunta dos Estados Unidos e da SADC sobre armas de pequeno porte e armamentos leves, estabelecendo um Grupo Conjunto de Trabalho para lidar com quest¡¦s de armas de pequeno porte e armamentos leves.

Os Estados Unidos foram participantes ativos do processo que levou ?Confer¡¦cia de Armas de Pequeno Porte das Nações Unidas de 2001, programada para ter lugar na Sede da ONU entre 9 e 20 de julho de 2001. O objetivo da Confer¡¦cia ?o de chegar a um acordo sobre um Programa de Ação com compromissos pol¡¦icos, que ajudar?a reduzir os efeitos do com¡¦cio il¡¦ito de armas de pequeno porte e armamentos leves. Os Estados Unidos permanecer¡¦ sendo participante fundamental dos esfor¡¦s internacionais para resolver a quest¡¦ de armas de pequeno porte e armamentos leves e importante fornecedor de fundos para a destruição de armamentos em excesso, bem como treinamento e outros tipos de assist¡¦cia para auxiliar os pa¡¦es afetados a lutar contra os ac¡¦ulos excessivos e desestabilizadores de armas de pequeno porte e armamentos leves. Os Estados Unidos tamb¡¦ continuar¡¦ a trabalhar na Confer¡¦cia das Nações Unidas de 2001 para atingir um Programa de Ação de consenso que resultar?em um regime global de armas de pequeno porte e armamentos leves contra o com¡¦cio il¡¦ito desses armamentos.

A comunidade internacional demonstrou energia e vontade pol¡¦ica consider¡¦el em seus esfor¡¦s para cuidar do problema de armas de pequeno porte e armamentos leves. Devido ?severidade e complexidade do problema, o atingimento de uma resolução abrangente a longo prazo provavelmente ocorrer?em futuro long¡¦quo. A redução dos efeitos negativos mais imediatos e devastadores exigir?criatividade, flexibilidade e abordagens multifacetas que atravessam disciplinas. A comunidade internacional fez um bom come¡¦ e a Confer¡¦cia das Nações Unidas de 2001 oferece oportunidade ¡¦ica para firmar s¡¦idas fundações para um regime global eficaz.

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Ao come¡¦ da p¡¦ina | ¡¦dice, | Agenda de Pol¡¦ica Externa dos EUA, Junho 2001
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