Quando cheguei ?sede da OTAN em julho de 1993, percebi que o moral dos meus novos colegas estava baixo, que a Alian・ estava insegura quanto ?dire艫o que deveria seguir, e que as pessoas at?questionavam se a OTAN tinha um futuro. O Pacto de Vars・ia e a Uni・ Sovi・ica haviam entrado em colapso e n・ havia uma justificativa clara para a continuidade da exist・cia da OTAN. Havia uma guerra na B・nia-Herzeg・ina, perto do territ・io da OTAN, e a Alian・ se revelava incapaz de - ou n・ tinha interesse em - tomar uma atitude. A For・ de Prote艫o das Na苺es Unidas [United Nations Protection Force] (UNPROFOR) tinha responsabilidade na ・ea, mas n・ parecia ser capaz de proteger ningu・, enquanto o papel da OTAN se limitava a manter os c・s da B・nia livres de aeronaves e a sua costa livre do tr・ico de armas.
Mas quando o meu mandato como representante permanente dos Estados Unidos no Conselho do Atl・tico Norte chegou ao fim, quatro anos e meio depois, que transforma艫o havia ocorrido! A Alian・ certamente tinha uma no艫o do seu objetivo para o futuro, baseado em quatro pontos chave: manter a Am・ica envolvida como uma pot・cia na Europa; preservar o melhor do passado da OTAN; incluir as na苺es da Europa Central, por completo, no Ocidente; e estabelecer contato com a R・sia. Para atingir esses objetivos, a OTAN havia adotado uma s・ie de novas iniciativas, cada uma delas com a finalidade de atender a algum requisito referente ao futuro da seguran・ da Europa; todas essas iniciativas eram inter-relacionadas, e uma refor・va a outra. Tr・ pa・es da Europa Central (Pol・ia, Hungria e a Rep・lica Tcheca) foram convidados para entrar para a Alian・. Ao mesmo tempo, a porta foi mantida aberta para todos os outros pa・es que estivessem prontos e dispostos a enfrentar as responsabilidade de serem pa・es membros da OTAN.
Enquanto isso, a OTAN estava comemorando o sucesso da sua Parceria para a Paz, uma iniciativa pioneira, a mais importante em muitos anos; a Parceria se destinava a preparar os pa・es para entrar para a OTAN, e a fazer com que aqueles que n・ ingressassem na Alian・ se envolvessem profundamente no trabalho da organiza艫o, como parte de uma grande fam・ia. Paralelamente, a OTAN havia criado um novo Conselho da Parceria Euro-Atl・tica, para substituir o antigo Conselho de Coopera艫o do Atl・tico Norte. Ela havia terminado de reformar as suas estruturas de comando, e ao mesmo tempo havia estabelecido a nova sede da For・-Tarefa Conjunta Combinada, capaz de projetar o poderio da OTAN com rapidez e efici・cia, especialmente em miss・s de manuten艫o de paz. E os aliados da OTAN haviam concordado em estabelecer uma nova rela艫o com a Uni・ da Europa Ocidental [Western European Union] (WEU), segundo a qual oficiais e recursos militares da OTAN podiam ser usados para opera苺es militares realizadas somente por europeus; portanto, pela primeira vez, a WEU tinha capacidade de agir. Isso foi, em grande parte, o resultado de uma nova coopera艫o entre os Estados Unidos e a Fran・, em que esta ・tima voltou a assumir uma posi艫o de membro inteiramente atuante nos comandos militares da OTAN. Tive o prazer de trabalhar em conjunto com o embaixador da Fran・ na OTAN para ajudar a tornar isso poss・el.
Al・ disso a OTAN havia tomado a iniciativa revolucion・ia de concluir um Ato Constitutivo com a R・sia e havia come・do a se reunir com representantes da R・sia em um Conselho Conjunto Permanente; a OTAN havia assinado um Acordo e criado uma Comiss・ com a Ucr・ia, e havia completado quase dois anos de posicionamento ativo de tropas da B・nia. A For・ de Estabiliza艫o (SFOR) j?inclu・ 16 aliados, 14 pa・es da Parceria para a Paz, e at?mesmo a R・sia, mantendo a paz na B・nia e ajudando o seu povo, finalmente, a ter esperan・ para reconstruir suas vidas.
Tantas coisas haviam sido feitas em t・ pouco tempo - e tudo isso havia sido feito por 16 aliados trabalhando em conjunto, compartilhando o cr・ito pelas realiza苺es. Nem ?preciso dizer que, no final de 1997, o moral na sede da OTAN era alto, e todos os que l?se encontravam tinham um clara no艫o de objetivo e uma sensa艫o de realiza艫o. Mas nada disso estava claro em julho de 1993. O primeiro objetivo era a prepara艫o de uma c・ula da OTAN em Bruxelas em janeiro de 1994 - atendendo a uma solicita艫o que o Secret・io-Geral Manfred Woerner me fez quando eu o informei, por telefone, sobre a minha indica艫o [para o cargo de embaixador]. Uma reuni・ de c・ula exige concentra艫o, e n・ todos nos concentramos, tanto no governo dos Estados Unidos quanto na Alian・. Em meados de outubro de 1993, os ministros de defesa dos pa・es aliados se reuniram informalmente em Travemeunde, Alemanha, e o governo Clinton, ent・ relativamente novo, revelou a sua estrat・ia para a reuni・ de c・ula.
O prato principal era a "PfP" - abreviatura de Parceria para a Paz [Partnership for Peace] - uma id・a desenvolvida por uma pequena equipe de funcion・ios do governo dos Estados Unidos durante uma visita ?minha miss・ na OTAN. Quando foi realizada a c・ula de janeiro de 1994, os aliados tamb・ estavam prontos para assumir o compromisso de aceitar novos pa・es membros, de criar uma nova rela艫o com a Uni・ da Europa Ocidental, de lidar com novos desafios associados ・ armas de destrui艫o em massa e seus vetores, e de procurar alguma forma de fazer com que a R・sia sa・se do seu casulo e assumisse um papel construtivo na seguran・ da Europa.
Assim ficou definida a agenda, que enfatizava o estabelecimento do contato com o a regi・ a leste da OTAN, para incluir todas as suas na苺es e povos na melhor esperan・ que j?tivemos de criar seguran・ e paz em todo o continente. A "expans・" da OTAN era o ponto focal, mas todas as suas outras medidas tinham como objetivo assegurar que o resultado fosse uma contribui艫o positiva para a seguran・ da Europa, de modo geral; na verdade, n・ consigo imaginar nenhum outro esfor・ na ・ea de pol・ica externa, em tempos modernos, que tenha sido t・ sistem・ico e abrangente; em nenhum outro caso os objetivos foram definidos primeiro, seguidos de uma estrat・ia para atingi-los, e de planejamento e a艫o, passo a passo.
Mas ainda estava faltando alguma coisa. Enquanto a nova arquitetura de seguran・ da OTAN estava sendo projetada, ficou ・vio que isso adiantaria muito pouco se a Alian・ n・ assumisse a responsabilidade pelo fim do conflito na B・nia. N・ adiantava argumentar que t・hamos "feito tudo o que a Organiza艫o das Na苺es Unidas havia pedido que fiz・semos." O problema era muito simples: a OTAN era uma organiza艫o dedicada ?seguran・; dist・bios e trag・ias estavam acontecendo, sem limites, ・ portas da OTAN; portanto, a OTAN havia falhado.
Essa percep艫o podia ser justa ou n・, mas ela funcionou como um desafio para que os aliados agissem. Mas isso n・ era uma coisa simples, ou autom・ica: na verdade, talvez nenhuma outra quest・ na hist・ia da OTAN tenha amea・do tanto a coes・ entre os aliados - e a B・nia quase destruiu a Alian・. Nove aliados tinham tropas na ・ea, com a UNPROFOR, enquanto os Estados Unidos, que n・ tinham tropas na ・ea, defendiam o uso do poder a・eo. Os aliados n・ conseguiam chegar a um acordo sobre uma estrat・ia comum; os riscos n・ estavam sendo compartilhados igualmente; havia acusa苺es de trai艫o; o uso limitado e ocasional do poder a・eo pela OTAN - "alfinetadas" - somente resultou em mais desentendimentos entre os aliados; e o impasse a respeito da B・nia amea・va destruir at?mesmo o trabalho em comum da constru艫o do futuro da OTAN na Europa Central e com a R・sia.
Tragicamente, foi preciso que ocorressem as atrocidades, perpetradas pelos s・vios da B・nia, em Srebrenica, no ver・ de 1995, para que finalmente os aliados ficassem chocados e entrassem em a艫o, coletivamente. Finalmente, eu descobri que era poss・el conseguir um acordo, entre os aliados, para usar o poder a・eo, com o apoio irrestrito de todos, e a OTAN entrou em a艫o pela primeira vez na suas hist・ia. Vinte dias depois, a posi艫o da OTAN havia, sem d・ida, prevalecido, e o bombardeio terminou; e pouco depois a guerra tamb・ acabou, preparando o terreno para os acordos de Dayton e para o posicionamento da For・ de Implementa艫o liderada pela OTAN - que, surpreendentemente, chegou ao seu terceiro anivers・io sem nenhuma fatalidade em combate.
Na verdade, a B・nia salvou a OTAN. Os aliados mostraram que podiam pegar uma alian・ projetada para uma finalidade, j?cumprida, e dedic?la a tarefas radicalmente diferentes, mudando, sob o ponto de vista militar, o seu foco em 120 graus, do velho "front" da Europa Central para os B・c・. A B・nia provou a relev・cia da OTAN; a import・cia renovada da lideran・ da Am・ica; a sua disposi艫o para compartilhar responsabilidades com os seus aliados; a base essencial, moral e pol・ica da seguran・, e a continuidade do valor do lema n・ declarado, emprestado, da OTAN: um por todos e todos por um. Acredito que os fundadores da OTAN teriam ficado orgulhosos do que os seus sucessores, meio s・ulo mais tarde, haviam feito para trazer a promessa da paz a outra gera艫o.
Ap・ 35 anos de trabalho em quest・s referentes ?seguran・ na Europa, eu tive a honra de trabalhar com uma equipe de competentes e dedicados funcion・ios p・licos americanos na Miss・ Americana na OTAN - civis e militares, representando os Departamentos de Estado e da Defesa, a Ag・cia de Divulga艫o dos Estados Unidos (USIA), e a Ag・cia Federal de Gerenciamento de Emerg・cias [Federal Emergency Management Agency] - que tantas coisas realizaram neste momento hist・ico e cheio de esperan・.
Agenda de Pol・ica Externa dos EUA
Revista Eletr・ica da USIA
Vol. 4, N?1, Mar・ de 1999