NOVA FACE DE ATLANTA

David Pitts

blue rule

Durante o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, nas d¡¦adas de 1950 e 1960, Atlanta, Ge¡¦gia, ficou conhecida como uma cidade onde negros e brancos, os principais grupos ¡¦nicos que formavam a população, podiam se entender. Atlanta ficou conhecida como uma cidade ocupada demais para odiar, e mais tarde, como a capital do Novo Sul. Nos ¡¦timos anos, no entanto, a população de Atlanta se tornou ainda mais diversificada, pois novos imigrantes do mundo inteiro, atra¡¦os pelo surto de desenvolvimento econ¡¦ico da cidade, se estabeleceram na ¡¦ea. Nosso colaborador David Pitts explora a nova face de Atlanta e analisa a forma pela qual os governos, em n¡¦el municipal e de condado, as organizações de direitos civis, as ONGs e os indiv¡¦uos interessados continuam a se esfor¡¦r para que Atlanta seja uma cidade que trabalhe para todos.


Basta caminhar pelas ruas desta cidade do sul para sentir a hist¡¦ia. Em 1964, ela foi totalmente destru¡¦a por um inc¡¦dio, por ordem do general William Tecumseh Sherman, depois que as suas tropas do norte a capturaram, durante a sua marcha pelos estados vencidos do sul, um evento imortalizado nas mentes do p¡¦lico do cinema no mundo inteiro por meio do filme "E o Vento Levou". A resid¡¦cia, agora restaurada, de Margaret Mitchell, a autora do livro no qual o filme foi baseado, ?uma atração que recebe muitos visitantes nesta cidade.

Nas ¡¦timas d¡¦adas, Atlanta se tornou famosa como o lugar onde nasceu o Dr. Martin Luther King, Jr., o l¡¦er do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos. O Centro Martin Luther King Jr. Pelas Mudan¡¦s Sociais N¡¦-Violentas [Martin Luther King Center for Nonviolent Social Change], a instituição que sua vi¡¦a, Coretta, construiu em sua mem¡¦ia, fica ao lado da Igreja Batista de Ebenezer [Ebenezer Baptist Church], onde ele pregava a uni¡¦ entre as ra¡¦s em uma ¡¦oca em que isso dava margem a controv¡¦sias.

De muitas formas, Atlanta ?um estudo em branco e preto - um estudo de como duas ra¡¦s, que antes eram distantes uma da outra por causa de um sistema de segregação imposto pela for¡¦ da lei, gradualmente aprenderam a viver juntas. Trata-se de uma jornada - o povo daqui lhe dir?isso - que ainda n¡¦ terminou.

Os Novos Habitantes de Atlanta

Na Atlanta da d¡¦ada de 1990, no entanto, "todos" significa mais do que apenas americanos negros e brancos, e a l¡¦gua que se fala aqui j?n¡¦ ?apenas o ingl¡¦. Cada vez mais, os habitantes mais antigos da cidade est¡¦ morando ao lado de africanos, asi¡¦icos, centro-americanos, sul-americanos e europeus orientais. Atlanta est?se tornando um cadinho, a ¡¦tima de uma longa s¡¦ie de cidades americanas a se tornar uma Meca para imigrantes.

Alguns dos rec¡¦-chegados s¡¦ migrantes internos de cidades como Miami e Nova York, mas muitos s¡¦ imigrantes e refugiados, cujo primeiro lar nos Estados Unidos ?Atlanta. Atualmente, mais de 450.000 imigrantes e 65.000 refugiados vivem na ¡¦ea metropolitana de Atlanta, enquanto a população total da ¡¦ea ?de tr¡¦ milh¡¦s e meio de habitantes, de acordo com o Centro de Pesquisa Aplicada e Antropologia [Center for Applied Research and Anthropology] na Universidade Estadual da Ge¡¦gia [Georgia State University].

Imigrantes que est¡¦ se estabelecendo em Atlanta recebem treinamento de organizações n¡¦-governamentais a respeito de cidadania norte-americana

Um lugar onde muitos dos rec¡¦-chegados gostam de se reunir ?a Feira da Barganha da Rodovia de Buford [Buford Highway Flea Market], ?qual se chega assim que se cruza os limites do munic¡¦io. Sun Kim, uma imigrante coreana que tem uma joalheria na feira, diz que veio para Atlanta tr¡¦ anos atr¡¦ porque tinha parentes aqui e porque "eles me disseram que a cidade tem muitas oportunidades por causa da economia". Ela cita outro motivo: os pre¡¦s acess¡¦eis. "Atlanta tem um custo de vida muito inferior ao de muitas outras cidades - especialmente quando se trata de moradia."

Vanessa Kosky, da Venezuela, fala ingl¡¦ fluentemente e ajuda os novos imigrantes "principalmente da Am¡¦ica Central e do Sul a emplacar e a transferir seus carros". A feira de Buford ?um dos "locais favoritos para as pessoas se reunirem" ela diz, especialmente para os latinos, "a maioria dos quais vem para c?para conseguir empregos na ind¡¦tria de construção civil, que proporciona muito trabalho devido ao 'boom' da construção. Eles se adaptam muito bem; o principal problema ?aprender ingl¡¦".

Sun Kim e Vanessa Kosky fazem parte da nova face de Atlanta, uma cidade muito mais cosmopolitana do que era poucos anos atr¡¦. O Escrit¡¦io de Censo dos Estados Unidos [U.S. Census Bureau] informa que entre 1990 e 1994, a população de Atlanta cresceu 11 por cento. Durante o mesmo per¡¦do a população de origem hisp¡¦ica e asi¡¦ica cresceu 42 por cento. O n¡¦ero de europeus orientais e africanos est?crescendo ainda mais rapidamente. Mais de 5.000 nigerianos, por exemplo, vivem atualmente em Atlanta; esse ?um dos motivos pelos quais os recentes acontecimentos pol¡¦icos no seu pa¡¦ de origem aparecem nas primeiras p¡¦inas dos jornais daqui. Os administradores locais dizem que as credenciais de Atlanta como cidade l¡¦er no processo para acabar com a segregação a ajudaram a estabelecer uma reputação de justi¡¦ e a

bertura; tal reputação contribui para que os rec¡¦-chegados gostem da cidade. Na d¡¦ada de 1980, o Departamento de Estado escolheu Atlanta como uma das principais cidades para receber refugiados. Os preparativos para os Jogos Ol¡¦picos de 1996 atra¡¦am ainda mais imigrantes, em busca dos empregos que as obras criaram. Alguns permaneceram e muitos destes s¡¦ de origem hisp¡¦ica - h?mais de 240.000 deles morando aqui - o que faz de Atlanta uma das cidades mais hisp¡¦icas nos Estados Unidos.

Uma Economia em Expans¡¦

"O que explica o fluxo de imigrantes para Atlanta ?a economia da cidade, que se encontra em grande expans¡¦," diz Kevin Hanna, presidente do Escrit¡¦io de Desenvolvimento de Atlanta [Atlanta Development Authority], um ¡¦g¡¦ do governo municipal. A atração de empresas e a promoção do crescimento econ¡¦ico "ajudou enormemente" a garantir que a diversidade funcione em uma cidade que j?tem fama de receber bem as minorias, ele diz.

Nesse aspecto, nenhuma cidade supera Atlanta. De acordo com a revista Fortune, a cidade assumiu a lideran¡¦ no pa¡¦, na d¡¦ada de 1990, no que se refere ?criação de empregos. Mais de 700 das 1000 principais empresas da nação, relacionadas na revista Fortune, est¡¦ estabelecidas aqui, e 23 delas s¡¦ sediadas aqui, incluindo a Coca-Cola e a Bell South. A rede mundial de not¡¦ias - transmitidas pela televis¡¦ - CNN, tamb¡¦ ?baseada na cidade.

A C¡¦ara de Com¡¦cio da Regi¡¦ Metropolitana da Atlanta [Metro Atlanta Chamber of Commerce] est?trabalhando em conjunto com os administradores locais eleitos para que o clima prop¡¦io aos neg¡¦ios que reina na cidade se torne ainda mais atraente para as empresas que queiram se estabelecer aqui. Suas iniciativas formam a base do movimento "?Frente Atlanta" [Forward Atlanta], uma campanha, de cinco anos, de divulgação para o desenvolvimento econ¡¦ico, de alcance mundial.

Boa parte do crescimento tem ocorrido nos sub¡¦bios de Atlanta, mas a cidade propriamente dita tamb¡¦ se beneficiou do surto de desenvolvimento. De acordo com o jornal Atlanta Journal-Constitution, em uma recente mat¡¦ia intitulada "A Revitalização do Centro da Cidade" [Central City Comeback], mais de trinta projetos est¡¦ surgindo no centro da cidade ou est¡¦ tomando forma nas pranchetas das incorporadoras e nas salas de reuni¡¦ das diretorias das empresas.

"A situação de Atlanta ?melhor do que a de quase todos os outros lugares" diz o Dr. Art Murphy, da Universidade Estadual da Ge¡¦gia, um especialista em novos imigrantes. "Atlanta se transformou em uma cidade internacional com uma reputação de baixo custo de vida, de um lugar que recebe bem as minorias e os imigrantes e de uma alta qualidade de vida", ele acrescenta.

"Muito tempo atr¡¦, as autoridades perceberam que as empresas querem se mudar para cidades conhecidas pela sua qualidade de vida e pelo seu compromisso com o progresso econ¡¦ico", diz Hanna. Universidades de primeira linha, uma vibrante comunidade art¡¦tica e ¡¦dices de criminalidade decrescentes - os mais baixos em 30 anos - todos esses elementos s¡¦ importantes quando se trata de atrair neg¡¦ios e isso, por sua vez, ajuda a criar um ambiente que resulta em boas relações entre os grupos ¡¦nicos que aqui vivem, ele continua.

A redução da criminalidade tem sido um dos principais objetivos do governo local, o qual, assim como outras cidades como New Orleans e Nova York, tem se esfor¡¦do para tornar a for¡¦ policial mais profissional e mais bem equipada. Uma das medidas aprovadas pela c¡¦ara municipal neste ano foi um aumento salarial da ordem de 2.000 d¡¦ares para os policiais. Programas de seguran¡¦ p¡¦lica s¡¦ respons¡¦eis por quase 50 por cento do or¡¦mento geral do munic¡¦io. Uma boa parte dessa verba se destina ?pol¡¦ia e aos tribunais, mas uma parte tamb¡¦ significativa ?empregada na prevenção do crime e nas relações com a comunidade, incluindo as relações com a nova comunidade de imigrantes.

Diminuindo a Defasagem

Organizações n¡¦-governamentais (ONGs) tamb¡¦ est¡¦ envolvidas no esfor¡¦ da cidade na ¡¦ea de relações com a comunidade. Bridging the Gap [literalmente "Diminuindo a Defasagem"], ?uma ONG que se destina particularmente a atender as necessidades dos novos imigrantes. "?necess¡¦io criar programas que ajudem esses grupos e lidar com os problemas di¡¦ios, na sua adaptação a uma nova cidade e a uma nova sociedade", diz Gail Hoffman, diretora da organização, que foi fundada em 1994 e que recebe verbas tanto do governo quanto de fundações do setor privado.

O Departamento de Pol¡¦ia de Atlanta coloca em pr¡¦ica um programa especial junto a uma comunidade de novos imigrantes, que consiste de medidas de prevenção ao crime.

"Por exemplo, muitos dos novos imigrantes v¡¦m de pa¡¦es onde eles tinham medo da pol¡¦ia e do governo. ?por isso que implementamos um programa de semin¡¦ios, para ajud?los a compreender o sistema daqui", al¡¦ dos seus direitos democr¡¦icos, Hoffman observa. Em alguns dos pa¡¦es de onde os imigrantes v¡¦m, a pol¡¦ia, por exemplo, ?uma organização de ¡¦bito nacional, ao contr¡¦io do que ocorre nos Estados Unidos, onde ela ?organizada em n¡¦el municipal e se reporta aos administradores eleitos locais; por esse motivo, muitos dos novos imigrantes t¡¦ uma atitude de desconfian¡¦ em relação ¡¦ autoridades, ela diz.

Esses s¡¦ alguns servi¡¦s prestados pela Bridging the Gap: instrução sobre a diversidade, ministrada ?pol¡¦ia local, um banco de int¡¦pretes, para ajudar os novos imigrantes que ainda n¡¦ aprenderam o ingl¡¦, aulas de cidadania, prevenção do crime e assessoria jur¡¦ica em relação ?imigração e outras quest¡¦s. A organização tamb¡¦ promove reuni¡¦s entre diferentes grupos ¡¦nicos na cidade. O trabalho de promover a compreens¡¦ ?uma estrada de m¡¦ dupla, diz Hoffman. Os residentes mais antigos "tamb¡¦ precisam compreender as culturas dos novos imigrantes e o valor dessas culturas".

Alguns dos novos imigrantes tamb¡¦ se beneficiam do compromisso da cidade com o programa de ação afirmativa, que inicialmente surgiu como um meio de proporcionar maiores oportunidades para as mulheres e para os negros. Atualmente, mais de 800 empresas em Atlanta est¡¦ registradas como empresas de propriedade de membros de minorias ou de mulheres, em 112 ¡¦eas diferentes, de acordo com informações fornecidas pelo gabinete do prefeito. Isso ocorre al¡¦ dos programas federais e estaduais de ação afirmativa. "Em Atlanta, levamos muito a s¡¦io os direitos das minorias", disse um porta-voz do Escrit¡¦io de Cumprimento de Contratos da Cidade [Office of Contract Compliance] "O programa local de quotas foi um dos primeiros da nação, tendo sido implementado na d¡¦ada de 1970."

Os Problemas do Progresso

Embora Atlanta seja, sem d¡¦ida, uma cidade que funciona e cujo padr¡¦ de vida, em geral, esteja em elevação, ela possui problemas, e alguns deles resultam diretamente do pr¡¦rio sucesso.

Um grande problema, que ?comum em muitas cidades dos Estados Unidos, ?o ¡¦odo da classe m¡¦ia - tanto negra quanto branca - rumo aos sub¡¦bios, com o objetivo de ter uma melhor qualidade de vida e melhores servi¡¦s locais. O fato de a cidade ter perdido moradores de classe m¡¦ia resultou em uma distribuição de renda em dois n¡¦eis; existe um grande n¡¦ero de moradores de baixa renda e uma minoria de moradores relativamente pr¡¦peros. De acordo com a Research Atlanta, Inc., a cidade tem uma porcentagem de fam¡¦ias com renda entre 25.000 e 50.000 inferior ?de qualquer outra grande cidade nos Estados Unidos, com exceção de Miami e New Orleans.

A pobreza na ¡¦ea central da cidade ?um problema que tem preocupado muitos dos prefeitos da cidade nos ¡¦timos anos. A pobreza atinge, principalmente, a população negra da cidade, nas zonas oeste e sul da cidade, mas inclui tamb¡¦ alguns dos novos imigrantes. Dois anos atr¡¦, o atual prefeito Bill Campbell, que ?negro, revitalizou a C¡¦ula de Atlanta Contra a Pobreza [Atlanta Summit Against Poverty], que foi fundada pelo prefeito anterior, Maynard Jackson. Mas apesar de muitas iniciativas do governo municipal e de outras organizações, o problema continua sendo de dif¡¦il solução.

Uma tend¡¦cia que pode ser favor¡¦el ?a tend¡¦cia, cada vez maior, das grandes empresas locais, de eliminar os escrit¡¦ios centrais localizados nos sub¡¦bios e concentrar os locais de trabalho no centro da cidade. A Bell South, por exemplo, um gigante da ¡¦ea de comunicações, que possui 100 escrit¡¦ios na ¡¦ea metropolitana, recentemente anunciou que fechar?75 estabelecimentos nas ¡¦eas mais afastadas e consolidar?as operações dentro dos limites da cidade.

"Ao nos aproximarmos do novo mil¡¦io, precisamos ter uma abordagem combinada que funcione para todos", diz Campbell. "Precisamos trabalhar muito e arduamente para combinar os nossos talentos, energias e recursos, para romper o ciclo de pobreza e criar uma melhor qualidade de vida para cada habitante da Atlanta." Segundo fontes no gabinete do prefeito, ele percebe que n¡¦ se trata apenas de enfrentar diretamente as causas da pobreza nas ¡¦eas centrais da cidade, mas tamb¡¦ de melhorar os servi¡¦s da cidade, -- especialmente as escolas - para convencer um n¡¦ero maior de cidad¡¦s de classe m¡¦ia, que est¡¦ morando nos sub¡¦bios, a voltar para o centro da cidade.

Para a administração Campbell, assim como para os governos de todos os n¡¦eis em outras ¡¦eas, o ato de governar deve ser um espet¡¦ulo de equilibrismo muito delicado - ?preciso atender aos eleitores que t¡¦ necessidades conflitantes, e tamb¡¦ ?preciso atender ¡¦ exig¡¦cias dos grupos de interesses especiais, como os empres¡¦ios e a classe trabalhadora. Nesse aspecto, os impostos s¡¦ uma quest¡¦ importante. Os governos locais nos Estados Unidos t¡¦ autoridade para arrecadar impostos. O problema de Atlanta ?o mesmo que ocorre em muitas cidade dos Estados Unidos - como estabelecer impostos locais suficientemente elevados para custear os programas que se destinam a atender ¡¦ pessoas necessitadas, mas suficientemente baixos para as pessoas que n¡¦ necessitam, muitas das quais acreditam que j?est¡¦ pagando demais, comparadas com os seus correspondentes fora dos limites do munic¡¦io.

Al¡¦ do padr¡¦ irregular de progresso econ¡¦ico, a ¡¦ea est?tamb¡¦ enfrentando problemas de infra-estrutura que, se n¡¦ forem superados, poder¡¦ impedir o desenvolvimento futuro. De acordo com o jornal Washington Post, os cidad¡¦s da progressista Atlanta passam mais tempo dentro dos seus carros do que os de qualquer outro lugar nos Estados Unidos, incluindo Los Angeles. Todos os dias, informa o jornal, o cidad¡¦ m¡¦io da ¡¦ea metropolitana de Atlanta dirige 34 milhas para chegar ao trabalho, em estradas congestionadas, que est¡¦ ficando cada vez piores.

Uma das principais causas do problema, segundo alguns observadores, tem sido a coordenação inadequada entre os dez condados da regi¡¦ e o governo municipal, que est?localizado no Condado de Fulton. A quest¡¦ da infra-estrutura, talvez mais do que qualquer outra, demonstra que os governos locais nas sociedades modernas n¡¦ podem agir isoladamente; eles precisam coordenar suas ações, cuidadosamente, com os administradores eleitos das jurisdições lim¡¦rofes.

Parceria com as Autoridades Regionais, Estaduais e Federais

Na ¡¦ea de Atlanta, o ponto focal para a cooperação e a coordenação entre as jurisdições ?a Comiss¡¦ Regional de Atlanta [Atlanta Regional Commission] (ARC), que, assim como os ¡¦g¡¦s governamentais que a precederam, tem tratado dos esfor¡¦s de planejamento na ¡¦ea desde 1947, quando a lideran¡¦ de Atlanta criou a primeira entidade de planejamento, patrocinada por verbas p¡¦licas, envolvendo m¡¦tiplos condados no pa¡¦.

A ARC proporciona um f¡¦um no qual "as autoridades e funcion¡¦ios eleitos e indicados, desses governos locais, assim com outros l¡¦eres da comunidade, se re¡¦em para tratar de desafios e oportunidades em comum", diz Wayne Hill, presidente da ARC. "Com a ajuda da comunidade, a comiss¡¦ estabelece pol¡¦icas e resolve quest¡¦s que afetam toda a regi¡¦", ele diz. A situação enfrentada pelos novos imigrantes ?uma dessas quest¡¦s, pois eles vivem e trabalham em toda a ¡¦ea, e n¡¦ apenas nos limites do munic¡¦io. Por exemplo, o Condado de DeKalb, a leste de Atlanta, ?uma ¡¦ea pela qual os novos imigrantes t¡¦ grande prefer¡¦cia.

Al¡¦ de ter um papel essencial na ARC, a cidade tamb¡¦ mant¡¦ um relacionamento com os governos estadual e federal, especialmente para se beneficiar dos programas e das subvenções que eles oferecem, e que podem trazer benef¡¦ios para os cidad¡¦s de Atlanta. Por exemplo, a cidade fez gest¡¦s, junto ao governo federal, para ser considerada uma Zona de Atribuição de Poder [Empowerment Zone]. Ela foi uma entre apenas seis dessas cidades na nação a serem selecionadas; gra¡¦s a isso, Atlanta recebeu 250 milh¡¦s de d¡¦ares em repasses de verbas e incentivos fiscais. Novas casas est¡¦ sendo constru¡¦as e novos postos de trabalho est¡¦ sendo criados nos bairros da cidade - quase todos eles pobres - inclu¡¦os no programa.

Atlanta tamb¡¦ recebeu uma subvenção federal de quase $ 13 milh¡¦s para programas de policiamento comunit¡¦io. Para receber uma subvenção, uma cidade geralmente precisa cumprir certas normas estabelecidas, e auditorias s¡¦ conduzidas para assegurar que as verbas federais sejam utilizadas para as finalidades a que se destinam.

Em janeiro de 1999, por ocasi¡¦ do discurso proferido para relatar a situação da cidade, o prefeito Campbell foi enf¡¦ico ao mencionar as parcerias da cidade, n¡¦ apenas com outros n¡¦eis de governo, mas tamb¡¦ com ONGs. Atlanta tem se esfor¡¦do para "estabelecer parcerias com todos os membros da comunidade de Atlanta, a c¡¦ara municipal, os funcion¡¦ios p¡¦licos municipais, o setor privado, os professores, os sindicatos, o clero, as entidades sem fins lucrativos, os bairros, os l¡¦eres regionais e tamb¡¦ com os ¡¦g¡¦s governamentais no estado e em Washington, que possam fazer uma diferen¡¦ localmente", ele disse.

Uma dessas parcerias ?o rec¡¦-constitu¡¦o Comit?Consultivo de Atlanta para Quest¡¦s de Tecnologia e Comunicações [Atlanta Advisory Committee on Technology and Communications], um grupo que re¡¦e especialistas das empresas, das universidades e da comunidade ligada ?tecnologia. Sua finalidade ?fazer com que o governo local se torne mais inteligente, especialmente na prestação de servi¡¦s, e para assegurar que todos os cidad¡¦s de Atlanta, incluindo os alunos da escolas p¡¦licas, tenham acesso ?tecnologia. "Com exceção do movimento pelos direitos civis, n¡¦ h?mudan¡¦ mais fundamental na sociedade do que aquela que a tecnologia pode trazer - e trar?, diz Campbell. "A tecnologia pode ser o maior instrumento para promover a igualdade que j?conhecemos."

Uma M¡¦ia Local Vibrante

Assim como ocorre em muitas cidades, os mais importantes ve¡¦ulos locais de comunicação em Atlanta s¡¦ as afiliadas das quatro principais redes comerciais de m¡¦ia eletr¡¦ica, que possuem uma grande infra-estrutura jornal¡¦tica na ¡¦ea, e o principal jornal da cidade - e do estado, o Atlanta Journal-Constitution (que imprime duas edições di¡¦ias, de segunda a sexta-feira), uma publicação progressista de grande circulação - 1,5 milh¡¦ de exemplares - que, tradicionalmente, tem tido a reputação de dar cobertura ¡¦ comunidades dos membros das minorias promover a coes¡¦ na comunidade.

Os administradores eleitos em Atlanta, a exemplo dos seus correspondentes no n¡¦el nacional, reclamam da imprensa, mas uma imprensa livre, alerta e ativa ajuda a chamar a atenção do p¡¦lico e dos pol¡¦icos para os problemas, e ajuda a criar um consenso para que sejam tomadas provid¡¦cias.

Mas ocasionalmente, os administradores eleitos localmente admitem que o fato de a imprensa relatar os problemas pode trazer benef¡¦ios. A cobertura da imprensa trouxe pelo menos um benef¡¦io, no que se refere ao congestionamento nas estradas, por exemplo. De acordo com os administradores da cidade, os habitantes da classe m¡¦ia dos sub¡¦bios, cansados de longas viagens di¡¦ias de ida e volta, est¡¦ come¡¦ndo a voltar a morar na cidade, onde os congestionamentos n¡¦ s¡¦ t¡¦ ruins, particularmente devido ao MARTA, o sistema de transporte de massa da cidade.

Don Melvin, rep¡¦ter do Journal-Constitution, diz que as autoridades locais t¡¦ que se preocupar que as not¡¦ias veiculadas pela m¡¦ia por causa da influ¡¦cia que tais not¡¦ias t¡¦ sobre o p¡¦lico. Os problemas e os pr¡¦ e contras s¡¦ cobertos, assim como os esc¡¦dalos e abusos que podem ocorrer. "Nosso papel, basicamente, ?o de um c¡¦ de guarda", ele diz.

Melvin, que assinou muitas mat¡¦ias de interesse dos novos imigrantes, incluindo uma, de primeira p¡¦ina, sobre a Nig¡¦ia, diz que o Journal-Constitution tem apresentado uma "abrangente cobertura" dos rec¡¦-chegados. "Fazemos o poss¡¦el para apresentar uma imagem de evolução da cidade, talvez mais do que outros jornais em outros lugares", ele acrescenta.

Al¡¦ do Journal-Constitution, agora existem alguns jornais locais que se destinam especificamente aos novos imigrantes, como por exemplo, o Mundo Hispanico e o Neyia, que apresentam as not¡¦ias locais de interesse, assim como os acontecimentos de conseqüências internacionais nos seus pa¡¦es de origem. H?tamb¡¦ um n¡¦ero cada vez maior de emissoras de r¡¦io que atendem ¡¦ necessidades dos novos imigrantes.

Fazendo com que a Diversidade Funcione

Atlanta ?um estudo de caso, da maneira pela qual uma cidade moderna pode fazer com que a diversidade funcione. Uma m¡¦ia local agressiva, progressista e independente ?um dos requisitos para isso. Mas o elemento-chave ?o comprometimento da prefeitura, dos governos locais nas jurisdições lim¡¦rofes, associações empresariais e outras entidades - especialmente as ONGs - no sentido de estimular o crescimento econ¡¦ico, uma boa qualidade de vida, um alto grau de seguran¡¦ e uma atitude de receptividade para com os novos habitantes da cidade.

O principal problema da cidade, uma classe urbana menos favorecida, que n¡¦ tem tido acesso suficiente aos benef¡¦ios do sucesso econ¡¦ico, evidentemente, n¡¦ ocorre somente em Atlanta. A resolução desse problema ?assunto de muitas discuss¡¦s, tanto aqui quanto em outras partes dos Estados Unidos.

Se voc?falar sobre isso com pessoas que imigraram recentemente para Atlanta, provavelmente poucas delas apresentar¡¦ pontos de vista muito detalhados. "N¡¦ me interesso muito por todas as quest¡¦s, em parte porque os neg¡¦ios est¡¦ em franca expans¡¦ e eu estou muito ocupado", diz Irina Levotov, que veio da R¡¦sia para c?e que vende im¡¦eis, principalmente para outros russos. "Mas gosto de viver aqui. ?um ¡¦imo lugar e as pessoas se d¡¦ bem umas com as outras."


O GOVERNO DE ATLANTA

O governo municipal de Atlanta, assim como o de outras cidades dos Estados Unidos, se divide em tr¡¦ poderes: o executivo, o legislativo e o judici¡¦io. Cada ¡¦ea de autoridade funciona como um instrumento de fiscalização e controle do outro, a exemplo do que ocorre nos n¡¦eis estadual e federal.

O prefeito de Atlanta ?o principal executivo e administra os departamentos da prefeitura. A c¡¦ara municipal ?a legislatura local. Ela possui 12 vereadores eleitos pelos distritos, e seis vereadores eleitos pela cidade em geral. O presidente da c¡¦ara municipal preside todas as sess¡¦s da c¡¦ara, e vota, em caso de empate. Ele tamb¡¦ indica os presidentes e os membros dos v¡¦ios comit¡¦, onde, de fato, ?executado o trabalho de criar a legislação - os regulamentos e as resoluções. As decis¡¦s do presidente da c¡¦ara podem ser alteradas por uma maioria da c¡¦ara. O prefeito e os vereadores s¡¦ eleitos para cumprirem mandatos de quatro anos.

Os cidad¡¦s de Atlanta t¡¦ a oportunidade de se dirigir aos comit¡¦ da c¡¦ara e de expressar suas opini¡¦s sobre a legislação que est?sendo proposta. Em alguns casos, a lei determina que a c¡¦ara promova audi¡¦cias p¡¦licas e que notifique o p¡¦lico a respeito de tais audi¡¦cias, antes da aprovação final da legislação. Como ocorre regularmente em muitas outras jurisdições nos Estados Unidos, o prefeito pode aprovar ou vetar a legislação. Se a legislação for vetada, a c¡¦ara pode sobrepujar o veto, mas somente se houver maioria de dois ter¡¦s dos votos.

Antes de 1974, todos os membros da c¡¦ara eram eleitos pela cidade em geral em Atlanta. Isso ainda acontece em algumas cidades dos Estados Unidos. Os defensores do sistema pelo qual ao menos alguns membros das c¡¦aras de vereadores das cidades s¡¦ escalados para representar distritos, em vez de fazer com que todos os membros representem a cidade inteira, argumentam que o sistema por eles proposto ?prefer¡¦el sob dois importantes aspectos: primeiro, ele estimula melhor atendimento ao eleitorado; e segundo, ele promove a representação das minorias, nos casos em que um determinado grupo seja uma minoria na cidade inteira, mas n¡¦ em um determinado distrito.

Na ¡¦ea jur¡¦ica, assim como as leis aprovadas no n¡¦el federal ¡¦ vezes n¡¦ s¡¦ aprovadas pelos tribunais federais por motivos constitucionais, as medidas adotadas pelos executivos no n¡¦el local e estadual, bem como as legislaturas, tamb¡¦ est¡¦ sujeitas ?aprovação dos tribunais locais e estaduais.

A Comiss¡¦ Regional de Atlanta, a entidade respons¡¦el por uma abordagem coordenada no que se refere aos problemas e quest¡¦s na regi¡¦ metropolitana de Atlanta, inclui representantes de todas as jurisdições da regi¡¦, incluindo o prefeito de Atlanta, os presidentes das comiss¡¦s de todos os condados da regi¡¦, 15 cidad¡¦s comuns e um membro, sem direito a voto, do Departamento de Relações com a Comunidade da Ge¡¦gia [Georgia Department of Community Affairs], um ¡¦g¡¦ do governo do estado.


blue rule

Ao come¡¦ da p¡¦ina | Indice, Quest¡¦s de Democracia -- Abril de 1999 | USIS Revistas electr¡¦icas | USIS Home Page