LI杯ES PARA OS GOVERNOS LOCAIS NO S・ULO XXIBruce Adams
No seu livro, Democracy in America, Alexis de Tocqueville definiu resumidamente os americanos como se segue: "Em uma comunidade local, um cidad・ pode achar que determinada necessidade n・ est?sendo satisfeita. O que ele faz? E atravessa a rua e discute o problema com o seu vizinho. Um comit?come・ a funcionar para tratar dessa necessidade... Tudo isso ?feito por cidad・s comuns por sua pr・ria iniciativa". Cento e sessenta e quatro anos mais tarde, essa capacidade que Tocqueville proclamava, a maneira tipicamente americana de "arrega・r as mangas" e resolver o problema, ainda ?o aspecto mais admir・el da experi・cia americana com a democracia. E serve como um tremendo incentivo no n・el popular. Apesar da tend・cia ao negativismo, demonstrada pela m・ia e pelo p・lico, o esp・ito americano, segundo o qual "d?para fazer as coisas" sobreviveu e prospera, atualmente, em muitas comunidades em todo o pa・. No entanto, a pessoa pode discordar da avalia艫o de Tocqueville, ao ler o jornal ou ao assistir ao notici・io pela televis・. Nessas circunst・cias, um observador poderia concluir que ningu・, nos Estados Unidos, liga para nada, e que poucos est・ tentando mudar as coisas. "Mas essa seria uma conclus・ errada," diz John W. Gardner, fundador da Common Cause, uma organiza艫o popular de representa艫o pol・ica, suprapartid・ia, e sem fins lucrativos, que promove a governan・ aberta, honesta e respons・el. "H?novos sinais de vitalidade em todo o territ・io dos Estados Unidos. H?muitas pessoas que est・ trabalhando arduamente pelo bem do p・lico em todas as comunidades desta na艫o", ele continua. "E em alguns lugares, existe um n・ero suficientemente grande dessas pessoas; esse n・ero chegou a uma massa cr・ica e mudou a cultura pol・ica das suas comunidades." Repensando a Participa艫o dos Cidad・s Com algumas poucas exce苺es, os cidad・s dos Estados Unidos t・ acesso aos documentos p・licos e o direito de testemunhar em audi・cias p・licas quando decis・s legislativas e or・ment・ias significativas est・ sendo tomadas. As autoridades pedem a convoca艫o de audi・cias p・licas regularmente - e a participa艫o dos cidad・s nesses eventos ?estimulada - para realizar reuni・s em que s・ tratados assuntos de interesse da comunidade. Muitas sess・s de c・aras de vereadores t・ cobertura ao vivo, atrav・ de televis・ a cabo. Esses aspectos formais do governo local garantem o acesso e a abertura que formam o cerne do nosso sistema democr・ico, e no entanto, de certa forma, eles se tornaram problem・icos. As audi・cias p・licas promovem a simplifica艫o excessiva e polariza艫o de problemas por grupos de interesses espec・icos, pela m・ia e pelos administradores eleitos. Geralmente uma solu艫o ?colocada sobre a mesa - por exemplo, um projeto de lei ou uma proposta or・ment・ia. As pessoas que se interessam mais pelas quest・s comparecem ?audi・cia, prontas para fazer valer suas convic苺es. Freq・ntemente, este ?o problema. As audi・cias p・licas nos Estados Unidos, freq・ntemente t・ se tornado campos de batalha para advers・ios que est・ lutando pelas suas solu苺es preferidas. E, em muitos casos, em vez de procurar o que ?melhor para o bem da comunidade, cada participante acha que a sua solu艫o ?a ・ica que vai dar certo. Muitas vezes, eu acho que a melhor maneira de resolver um problema ?fazer um "brainstorm," isto ? reunir um grupo de pessoas com opini・s diferentes; elas se sentam e oferecem uma solu艫o com a qual todos podem concordar. Infelizmente, isso n・ acontece na intera艫o dos cidad・s com o governo. Em um mundo em que o p・lico e a m・ia criticam veementemente qualquer declara艫o que d?margem a controv・sia, poucos s・ os administradores eleitos, ou cidad・s, que est・ dispostos a se sentar e conversar sobre um problema. E com o advento de coisas como a televis・, as pesquisas de opini・ p・lica e a possibilidade de se obter informa苺es do mundo inteiro instantaneamente, a capacidade que temos de frustrar uns aos outros aumentou dramaticamente. Parece que estamos correndo demais, falando alto demais, escutando s?o que nos interessa e pensando muito pouco. Embora as quest・s de pol・ica tenham se tornado mais complicadas, a nossa pol・ica, propriamente dita, se tornou simplista, e os nossos problemas se tornaram mais intransigentes. Os aspectos negativos das for・s positivas que trouxeram benef・ios aos Estados Unidos - um governo aberto e participativo, uma imprensa livre e um p・lico c・ico - sugerem a necessidade de repensar as nossas no苺es de participa艫o popular. Reconstruindo Relacionamentos O objetivo da democracia ?melhorar a qualidade das vidas das pessoas. A constru艫o de comunidades saud・eis tem menos a ver com a estrutura do governo do que com a constru艫o de relacionamentos. A constru艫o de relacionamentos, transcendendo limites ou barreiras que haviam sido erguidas anteriormente, ?essencial para a resolu艫o dos impasses pol・icos, e portanto, para que se possa agir no interesse p・lico. Nossa tend・cia natural ?nos unirmos a pessoas que pensam e agem de maneira similar ?nossa. A constru艫o de relacionamentos transcendendo os limites tradicionais ? por defini艫o, antinatural. ?uma coisa que precisa ser aprendida, e que requer trabalho constante e ・duo. O sucesso ocorre em comunidades onde h?comunica艫o, coordena艫o, e trabalho sob a forma de colabora艫o, executado por e entre muitas entidades, institui苺es, organiza苺es, ・g・s governamentais e indiv・uos. Ao tratar de quest・s espec・icas, as comunidades bem sucedidas s・ capazes de perceber as liga苺es e agir em fun艫o delas. Para ser capaz de unir as pessoas em prol de uma causa, um l・er precisa fazer um esfor・ para construir um clima de confian・ e credibilidade junto a representantes de todas as fac苺es e interesses. Isso contraria a tradicional id・a da "lideran・ her・ca". Queremos que os nossos l・eres sejam fortes e decisivos, e que nos liderem de fato. No entanto, essas caracter・ticas s・ conflitantes com as habilidades que um novo tipo de l・er, que deve trabalhar sob a forma de colabora艫o, deve possuir. Nos meus dias na c・ara de vereadores, eu freq・ntemente tentava reunir pessoas fora dos processo formal de audi・cias p・licas. Aqueles que discordavam em p・lico, geralmemente acabavam descobrindo que tinham mais posi苺es em comum, em um ambiente neutro. Esses esfor・s informais me deram a esperan・ de que talvez possamos modificar os nossos processos democr・icos, de modo a adapt?los ・ necessidades do nosso tempo. Portanto, o desafio para o pr・imo s・ulo ?reinventar a democracia para os tempos modernos, honrando, ao mesmo tempo, os elementos essenciais de um povo informado e envolvido. A pergunta que devemos fazer ? Podemos criar um processo no qual podemos discutir as quest・s uns com os outros em vez de s?falar sem escutar o que os outros t・ a dizer? Exemplos de Lideran・ Em "Boundary Crossers: Community Leadership for a Global Age" [Tradu艫o livre: Ultrapassando os Limites: Lideran・ Comunit・ia Para uma Era Global], Neal Peirce e Curtis Johnson descrevem os complexos desafios ?lideran・ enfrentados pelas comunidades no limiar do s・ulo XXI. No seu estudo de regi・s bem sucedidas em todo o territ・io dos Estados Unidos, Peirce e Johnson encontraram exemplos de lideran・ fora da esfera governamental. Uma an・ise das regi・s estudadas apresenta exemplos de como as comunidades precisar・ operar para serem bem sucedidas no pr・imo s・ulo. Em 1969, por exemplo, o governo federal anunciou que Chattanooga, no Tennessee, tinha o ar mais polu・o dos Estados Unidos. Em 1996, a Organiza艫o das Na苺es Unidas reconheceu Chattanooga como sendo uma das doze cidades mais sustent・eis do mundo. Nesse per・do de 33 anos, a cidade criou "Vision 2000", envolvendo 1.700 cidad・s, que ajudaram a dar forma a um novo futuro. A elimina艫o da polui艫o do ar foi somente um aspecto do programa Vision 2000. Em Cleveland, Ohio, profissionais talentosos trabalhando como intermedi・ios em ONGs, funda苺es, empresas de desenvolvimento de comunidades e secretarias de planejamento urbano constru・am redes de relacionamentos, com confian・, rompendo barreiras setoriais e raciais. Em Charlotte, Carolina do Norte, o jornal Charlotte Observer, em parceria com as tr・ esta苺es locais de r・io que servem aos bairros negros, lan・u uma iniciativa de jornalismo comunit・io chamada "A Reconquista dos Nossos Bairros" [Taking Back Our Neighborhoods]. O jornalismo comunit・io procura apresentar informa苺es sobre as novas maneiras pelas quais se pode ajudar a envolver o p・lico com a vida da comunidade. Dez Li苺es Para os Construtores das Comunidades A partir do estudo de Peirce e Johnson, podemos determinar que n・ devemos esperar que os administradores eleitos assumam a lideran・ na tarefa de reinventar a democracia. O fardo da lideran・ rumo a um novo esfor・ de colabora艫o, baseado nos cidad・s, deve ser sustentado, em grande parte, pelos cidad・s comuns, no setor privado. Levando isso em considera艫o, Peirce e Johnson desenvolveram 10 importantes li苺es para os l・eres comunit・ios do s・ulo XXI: Li艫o 1: A mesa fica maior - e mais redonda. O velho estilo de gerenciamento de cima para baixo j?n・ funciona mais. Estamos em uma fase de transi艫o para uma nova cultura de lideran・ em que os cidad・s insistem em ter um lugar ?mesa. Assim, a mesa fica maior e mais redonda, com espa・ suficiente para todos os que quiserem participar. Li艫o 2: A ・ica coisa que representa um desafio maior do que uma crise pode ser a aus・cia de crises. A acomoda艫o pode levar a problemas que ficam sem ser resolvidos. As regi・s inteligentes resolvem problemas antes que eles cres・m. Li艫o 3: A agenda fica mais dif・il. A revitaliza艫o das ・eas centrais das cidades ?uma tarefa f・il comparada com outras, como melhorar as vidas das pessoas envolvidas em ciclos de pobreza e desesperan・. Li艫o 4: N・ existe uma estrutura m・ica de lideran・ - s?existem pessoas e relacionamentos. Mais do que estrutura de governan・, o relacionamento entre as pessoas ?o que faz as coisas acontecerem. Li艫o 5: Ningu・ pode ficar de fora. As universidades, os profissionais liberais, as comunidades religiosas e a m・ia s・ fortes candidatos a enriquecer a mistura da comunidade com a lideran・. Li艫o 6: ・ vezes os velhos m・odos ainda funcionam. L・eres individuais ainda podem fazer com que as coisas aconte・m. Respeite e aceite os l・eres com mentalidade c・ica que podem fazer com que as coisas mudem. Li艫o 7: A colabora艫o ?complicada, frustrante e indispens・el. Atualmente, as cidades e regi・s est・ tentando encontrar o caminho da colabora艫o, cometendo erros, mas come・ndo a formar novas e abrangentes institui苺es que podem resolver problemas e fortalecer comunidades. Li艫o 8: O governo sempre precisa de reformas, mas todas as reformas precisam de governo. Os governos est・ desempenhando novos pap・s como construtores de pontes c・icas. Em todas as suas m・tiplas formas e apesar de toda a sua inefici・cia e de todas as suas falhas, o governo ainda ?um parceiro essencial para que haja mudan・s reais, duradouras, a longo prazo. Li艫o 9: As comunidades s・ importantes. Apesar do r・ido desenvolvimento e aceita艫o da Internet, as comunidades ainda s・ importantes. As comunidades que t・ a maior import・cia s・ as regi・s, as ・eas centrais das cidades e os bairros. Li艫o 10: O trabalho nunca termina. Nenhum sucesso ?definitivo. Nenhuma comunidade, por mais bem sucedida que seja, pode se acomodar ou achar que j?fez muito. Aprendendo a Trabalhar em Conjunto Para restaurar a esperan・ e construir comunidades mais fortes, n・ basta conversar; ?preciso muito mais do que isso. As audi・cias p・licas tradicionais n・ nos levar・ at?onde precisamos chegar. Pelo contr・io, precisaremos de vontade c・ica e muito trabalho. Aprender a trabalhar em conjunto e a romper os limites e barreiras que nos separam ?a tarefa essencial de lideran・ do s・ulo XXI. A constru艫o de uma comunidade n・ ?uma atividade passiva. O processo democr・ico garante que todos n・ poderemos fazer uma contribui艫o para a lideran・ das nossas comunidades. Os desafios que nos esperam exigem que cada indiv・uo se envolva e fa・ essa contribui艫o.
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